sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

HOW can I, that girl standing there,
My attention fix
On Roman or on Russian
Or on Spanish politics?
Yet here's a travelled man that knows
What he talks about,
And there's a politician
That has read and thought,
And maybe what they say is true
Of war and war's alarms,
But O that I were young again
And held her in my arms!


W. B. Yeats

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Pausa para reflexão

Caros amigos, vou dar uma pausa no blog. Não sei bem por quanto tempo, talvez só por algumas semanas. Já tinha planos de não postar até janeiro mesmo, pois este é um período naturalmente complicado, mas agora também surgiu uma certa confusão sobre o destino do blog.

O fato é que não sei mais o que quero dizer, e tenho que pensar um pouco e decidir em qual caminho seguir.

É o seguinte: recentemente, o tema racial tem sido objeto de polêmica aqui no blog. Eu mesmo, confesso, nunca soube bem como abordar o tema. Não tivesse ido morar nos EUA, e provavelmente jamais teria falado sobre o assunto. Porém, nos EUA, essa discussão racial é bem mais direta, e de certo modo é bom que seja assim. Impossível ignorar totalmente o assunto, por mais politicamente correto que se seja. Além disso, de fato estão acontecendo mudanças que definirão o destino do mundo nas próximas décadas, talvez séculos. Um desses temas certamente é a imigração. Podemos ignorar as diferenças raciais e culturais, e tentar fingir ou esperar que tudo vai dar certo e que tudo vai de algum modo se ajeitar. Mas e se não fosse bem assim? E se realmente existissem diferenças que não podem ser resolvidas de modo tão simples, só com mais "conscientização" e dinheiro público?

No outro dia, um marroquino matou cinco pessoas na Bélgica com granadas e um fuzil. No mesmo dia, um grupo de congoleses protestava contra as eleições do Congo -- não no Congo, mas em pleno centro londrino. Causaram confusão e atacaram pessoas que nada tinham a ver com a história. E, também na mesma semana, na Itália, dois imigrantes senegaleses foram mortos por um aparente militante neonazista, que depois se suicidou. Independentemente do que você pense sobre essas notícias e sobre a questão das diferenças raciais, religiosas e culturais, uma coisa é certa -- se não houvesse imigração, nenhum desses problemas estaria acontecendo.

Então é realmente um assunto urgente. O futuro do ocidente depende disso. Mas a verdade é que me sinto desconfortável ao tratar de certas questões. Até tenho curiosidade de ler sobre o assunto, mas não tenho vocação para porta-voz da "causa branca". Alguns leitores me acusam de não ir mais fundo na discussão de temas raciais, e querem pautar o blog. Acreditam que eu fique em cima do muro para não causar polêmica, ou para não descontentar os leitores que não acreditam em diferenças raciais, ou por não ter as ideias bem formadas ainda. Talvez eles tenham razão. Talvez eu não tenha estômago (certamente me incomoda quando algumas pessoas se expressam de forma extremamente desagradável, ou quando negam a dignidade básica humana de outros apenas por pertencerem a certo grupo racial.) Talvez outra pessoa deveria escrever sobre isso no meu lugar.

Nos EUA, há blogs moderados que tratam do assunto. No Brasil, é mais complicado, até porque é um tema que, me parece, tem menos relevância. Quero dizer que o Brasil, ao contrário de EUA e Europa, é e sempre foi uma nação mestiça, de maioria não-branca. Se houvesse uma pureza racial original perdida, seria aquela dos indígenas. Até acho um pouco de mau gosto falar sobre essa questão quando, sei lá, 70% da população é de raça mista. (EUA e Europa são diferentes pois até há poucas décadas tinham 90% de população branca européia).

Por um tempo achei que o Dextra fosse ser essa voz moderada no Brasil, mas me enganei. Talvez um dia surja outra pessoa mais preparada. Talvez essa pessoa seja algum leitor atual.

(Porém, dica: se você quer falar sobre temas raciais e ter mais do que três leitores, não chame os negros de macacos, não chame os cristãos de babacas, e não cante loas a Adolf Hitler. Pega mal! Ou, quer saber? Faça como achar melhor, afinal vai ser seu blog e não o meu!)

Este blog já tem quase quatro anos, e mudou bastante desde o seu começo. Alguns leitores fiéis ainda estão aí: Chesterton, Gunnar, Brancaleone e, muito de vez em quando, a Confetti. Outros chegaram, foram, e deixaram só saudades: RW, Augusto Nascimento, Pax, Tiago. Agradeço a todos pela constante leitura. A temática, originalmente libertária, depois virou meio neocon e mais adiante flertou com os paleocons. Mas no fundo jamais teve uma linha política muito definida, talvez porque nem eu mesmo saiba o que pensar sobre certas coisas. O blog, era, mais do que tudo, um contraponto ao onipresente discurso progressista que está aí. Um local contrário ao politicamente correto que impera em quase todo o mundo atualmente. Porém, para se escrever sobre algo com convicção é preciso ter as idéias mais claras. Não basta apenas ser do contra.

Por isso, acho que realmente eu preciso definir qual caminho seguir. Certamente vou continuar escrevendo, afinal é uma espécie de vício. Sempre com liberdade, tanto para mim quanto para os leitores. (Na realidade, quase nunca censurei ninguém, por mais nazista ou stalinista que fosse, e a única coisa que me irrita é quando tentam pautar o blog, ou quando a discussão civilizada dá lugar a xingamentos). Se quiser falar sobre raça, também vou falar. Mas estou sentindo que falta mesmo um embasamento maior, e para isto talvez seja preciso ler mais e escrever menos.

(Enquanto isso, comprem o livro, à venda na Amazon e CreateSpace).

Mais uma vez, desejo um Feliz Natal a todos. Nos vemos em 2012.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Sem religião não há solução?

Às vezes tenho a impressão que o único "way out" para o Ocidente seria com alguma forma de ressurgimento religioso. Afinal, para contrapor-se ao Islã, é preciso alguma outra religião. Para lutar contra uma força, precisa-se de outra contrária, não é mesmo? Lei de Newton aplicada às relações humanas.

Porém, assim como a esquerda odeia o cristianismo mais do que os vampiros, também há uma parte da extrema-direita que o odeia. Acredita ser uma "conspiração judaica" que "enfraqueceu o Ocidente" e "acabou com seu espírito guerreiro". Ah, e que "Jeus era bicha"...

Eu não sei. Embora não seja realmente religioso, boa parte de minha família é cristã praticante. Acredito que sejam pessoas melhores e mais felizes por isso. São com certeza melhores e mais felizes do que eu. A religião, na maior parte dos casos, é motivo de felicidade, ou ao menos de consolo. O cristianismo é uma boa religião. Tende a ser positiva. Existem estudos de caso bem claros: pense nas pessoas da favela, quem se comporta melhor, os "crentes" evangélicos ou os outros?

(Além disso, para os preocupados exclusivamente com questões demográficas, as famílias brancas cristãs tendem a ter mais filhos do que as seculares.)

Mas aí aparece alguém e diz que a religião é apenas um mecanismo de controle social. É o "ópio do povo". Bem. O ópio do povo é o ópio mesmo, ou ao menos o crack. O controle social se dá de modo mais eficaz pela mídia. A religião é uma necessidade humana. Precisamos crer. Em algo.

Disse Chesterton que "quem não acredita em Deus, acaba acreditando em qualquer coisa." É verdade. Na cultura ocidental atual, isso se dá de várias formas. Uma dessas formas é a idolatria dos animais. Ei, adoro animais e sou contrário à sua morte gratuita. Porém, tenho a impressão que hoje certas pessoas se preocupam mais com uma galinha morta para virar sanduíche no McDonalds do que com uma jovem estuprada, torturada e morta por facínoras. No Facebook, chovem fotos e frases sobre animaizinhos em perigo. Acabo de descobrir, por exemplo, que jogar chiclete no chão pode ser perigosíssimo: certos passarinhos podem comer o chiclete e morrer sufocados. E eu que achava que não se devia jogar no chão só para não sujar as ruas... Mas jamais vi alguém postando no Facebook com indignação sobre algum crime cometido por minorias.

(Falando em idolatria de animais, a última moda em Los Angeles parece ser a de levar cães e até gatos para passear, não na coleira, mas em carrinhos de bebê. Essa moda já chegou aí? Não se preocupem, vai chegar.)

O progressismo só evoluiu tanto graças à decadência da religião na esfera pública, aliás, o progressismo hoje é uma forma de religião. Observem aqui Antônio Cândido, ainda sonhando com o triunfo do comunismo. Se Churchill dizia que "quem não é socialista antes dos 30 não tem coração, quem é socialista depois dos 30 não tem cabeça", o que pensar de um comuna de 93 anos? E não é o único, o Oscar Niemeyer já tem mais de 100, Eric Hobsbawn tá com 95, Fidel Castro ainda não bateu as botas, etc. Comunista vive muito! Qual será o segredo?

Para outros, a alternativa à religião é o consumismo desenfreado. A sociedade americana é de fato muito materialista. Compensa-se o vazio existencial e moral com a compra de um carro ou uma televisão de 80 polegadas. Curiosamente, as classes baixas são às vezes as mais ávidas. Traficante e negão do gueto adora roupa de marca. Favelado pode não ter um banheiro decente, mas tem uma boa televisão. Nas recentes compras de fim de ano, mexicanos-americanos literalmente lutaram entre si aos chutes e pontapés pelos produtos nas prateleiras. Uma senhora até usou spray de pimenta contra os outros compradores. Mas sejamos sinceros, pobres, classe média e ricos, todos são extremamente materialistas e consumistas, só muda a qualidade daquilo que podem adquirir. Até entendo a busca de conforto e qualidade de vida, mas muitos, ou provavelmente a maioria, querem apenas símbolos de status, além de qualquer utilidade. É uma forma de tentar se diferenciar. Vanitas vanitatum, omnia vanitas.

Qual a solução?

Talvez não haja solução nenhuma. No fundo, o que eu gosto no cristianismo é que diz que "meu Reino não é deste mundo", e que aceita que a humanidade é falha e imperfeita. Não está a nós querer mudar o mundo e transformá-lo numa utopia impossível. Devemos apenas tentar ser boas pessoas. É só.

Enfim. Apenas pensamentos desconexos em uma tarde um pouco inútil. Feliz Natal a todos, e bom 2012.


terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Multiculturalismo do bem e do mal

O multiculturalismo é bom ou é ruim? Depende da situação, e a quem você perguntar. No ambiente universitário, é supimpa. Pessoas inteligentes das mais variadas culturas. Conversações estimulantes em diversos idiomas. Variedade de restaurantes. Acima de certo nível intelectual, o multiculturalismo não é ou não parece tão ruim. Eu pelo menos me divirto.

Há ainda o multiculturalismo dos ricos, que inclui ter trabalhadores braçais baratos para cortar a grama do seu jardim, limpar sua piscina e juntar o cocô de seu cachorro de dia, e encontrar com diplomatas e príncipes de noite.

E há o multiculturalismo dos pobres. Recentemente, uma moça inglesa soltou o verbo no metrô contra os imigrantes. Foi um pouco vulgar, e provavelmente estava colocando em risco o seu filho, além de ensinar-lhe péssimos modos. Por outro lado, quem pode culpá-la totalmente? É fácil acusar os outros de "racistas" quando não se tem que aturar batuques de africanos na madrugada, venda de drogas por árabes na esquina de casa, prostituição de romenas duas quadras mais além, desemprego e aumento generalizado do crime. Os pobres são os que mais sofrem com o multiculturalismo, pois no fundo é isso o que significa para eles.

Nem sempre fui contra o multiculturalismo, e ainda hoje posso ver alguns de seus aspectos positivos. A primeira vez que visitei Londres fiquei encantado. Tanta gente de tantos povos, todos convivendo em paz!  Que cidade tão cosmopolita! (Naqueles tempos, a palavra nem era "multicultural", mas "cosmopolita.") Ainda hoje tenho respeito e curiosidade pelas pessoas de outras culturas, gosto de conhecer pessoas de outros países, e provavelmente jamais sairia gritando como a moça do vídeo.

Por outro lado, posso ver que o multiculturalismo, quando ocorre de forma massiva e especialmente entre a população de classe baixa, tem efeitos nefastos. Voltemos à moça: mesmo que a imigração não tivesse efeitos negativos e todos os povos se entendessem bem, não teria ela o direito de viver entre ingleses nativos, se assim o desejasse? O que é um país? Hoje em dia, qualquer coisa. Mas, originalmente, os países eram tribos, formados por grupos de pessoas geneticamente parecidas. Muitas vezes podemos reconhecer, só pelo rosto, quem é inglês, quem é italiano, quem é armênio (tenho uma amiga que é ótima em descobrir a origem da pessoa só pela fisionomia). Além disso, existe também uma série de fatores culturais que costumam definir cada nação. Sem isso, aquela piada sobre o inferno ser um lugar onde o cozinheiro é inglês, o humorista alemão, etc, nem existiria.

O discurso sobre a imigração dos países pobres aos ricos tem se dividido em duas partes: a direita a favor do assimilacionismo e a esquerda a favor do multiculturalismo. Assimilacionismo seria aceitar imigrantes mas de modo a que estes se adaptem à cultura ocidental; multiculturalismo seria não julgar nenhuma cultura como superior ou mesmo diferente da outra, mas que todas convivam juntas e separadas num mesmo local.

O multiculturalismo, por sua natureza, quase sempre dá lugar a conflitos tribais. O assimilacionismo claramente é uma solução melhor, mas implica que os imigrantes muçulmanos ou mexicanos (para dar um exemplo) tenham o interesse ou a capacidade de replicar e manter a cultura ocidental. Mas e se eles não tivessem tal interesse nem capacidade? E se eles preferirem replicar a sua própria cultura quando forem maioria?

Acho que é isso que muitos não entendem. A idéia de que todos vão simplesmente copiar o que é bom só porque é bom é ingênua.

Por outro lado, a verdade é que a Inglaterra de hoje não é nem multicultural e, se é assimilacionista, é ao contrário: o britânico é que tem que se assimilar!

Afinal, o que mais incomoda mesmo é o comportamento das autoridades britânicas. Sabem o que aconteceu com a moça do vídeo? Foi presa. Enquanto isso, três muçulmanas bêbadas que espancaram uma mulher britânica chamando-a de "puta branca" não foram presas porque, no entender do juiz, "devido à sua religião, não estavam acostumadas a ficar embriagadas".

É... Por outro lado, hoje é muito fácil encontrar bons restaurantes em Londres...

Londres, hoje.