terça-feira, 20 de abril de 2010
Coesão social em sociedades multiculturais
No post anterior falei sobre uma sociedade que não parece andar muito coesa, a sociedade sul-africana. O que faz a coesão de uma nação? Apenas a raça? Na verdade, não. Esse é apenas o método mais primário, podíamos até dizer mais primitivo. É o mesmo princípio pelo qual se organizavam as tribos de cavernícolas a centenas de milhares de anos.
Tanto os supremacistas brancos quanto os supremacistas negros (eles existem, na África) querem o retorno a uma organização social coesa, baseada na coexistência entre semelhantes da mesma "tribo". Ei, não há nada de necessariamente errado em sociedades monoraciais ou monoculturais (desde que não envolvam genocídio ou outras formas de violência). Elas são, de fato, mais estáveis do que as sociedades multiculturais.
Mas há outros métodos para manter a coesão, especialmente nesta época em que, até por razões tecnológicas, as distâncias globais diminuíram. A religião, por exemplo. Se toda uma nação segue uma mesma orientação religiosa, é possível que sejam de grupos étnicos ou origens diversas, mas manterão a harmonia por acreditarem nos mesmos princípios básicos. (Por outro lado, as sociedades que se dividem significativamente em religiões diferentes tendem ao conflito interno, mesmo que sejam da mesma origem étnica ou racial - pensem nas antigas perseguições religiosas entre católicos e protestantes em vários países europeus).
Na Europa, a coesão social era dada pelo nacionalismo (tribos de espanhóis, alemães, franceses, etc.) e pela religião. Em um momento em que a religião está quase que totalmente diluída pelo secularismo, e o nacionalismo é atacado pela imigração e pelo fim das fronteiras internas, a sociedade inicia a perder a coesão. O que tem em comum um francês católico do interior da Bretagne com um imigrante muçulmano dos banlieues?
Bem, há outra forma de manter a coesão social - através do autoritarismo. O Estado Superpoderoso que impede conflitos internos através da força bruta, ou da ameaça de força bruta. Foi assim que a União Soviética pôde se manter coesa, bem como a Iugoslávia comunista, ambos "países" formados por vários povos de etnias e religiões diversas. Sintomaticamente, ambos modelos ruíram com o fim do comunismo. (Não sei se a Europa escolherá esse caminho autoritário, que é o que quer a esquerda, ou se retornará ao velho nacionalismo étnico, que é o que quer a direita).
Os EUA não são como a Europa. Aqui o que segura a sociedade é outra coisa -- a Constituição. Sim, a maioria de religião cristã é também importante (o país não funcionaria da mesma forma se tivesse, digamos, 20% de muçulmanos), mas o fato é que aqui existe uma porção numerosa de judeus, hindus, católicos e protestantes, sem que hajam conflitos religiosos de marca maior. E as "tribos" que o formam são numerosíssimas. Nem raça nem religião (ainda que, atenção, ambos sejam importantes, e não é nem um pouco certo que um EUA de minoria branca e cristã siga coeso): porém, a Constituição Americana é que é o documento que é citado de forma quase religiosa por quase todos os americanos, e é um dos principais fatores de coesão no país. Por isso os ataques de Obama à Constituição, sobre a qual afirmou que seria "defeituosa" por não prever a distribuição de renda, são tão perigosos. Parece que os Democratas preferem o método de coesão do "Estado superpoderoso".
E o Brasil? Aqui não tem religião única, muito menos raça única, e a Constituição é pouco mais do que uma piada. O que explica a sua manutenção como país? Eu diria que a grande idéia sobre a qual o Brasil se organizou é justamente a mestiçagem. Existem pessoas de todos os lugares no país. Todos somos misturados e, se não somos, certamente parte de nossos amigos e parentes o são. A religião, através do sincretismo religioso, segue o mesmo modelo (que só agora, com a chegada dos evangélicos, parece estar dando os primeiros sinais de conflito). Se há divisão, é acima de tudo entre classes sociais e, secundariamente, entre regiões. A raça aparece apenas como terceiro fator (ainda que a própria divisão social tenda a gerar uma divisão parcialmente étnica).
Por isso também a idéia de Lula de separação racial - dar "terras indígenas" para índios que nem mesmo são mais índios, mas descendentes, e expulsar os fazendeiros "brancos" (que tampouco são exatamente brancos, mas misturados -- o próprio presidente da Associação de Arrozeiros de Roraima é de origem japonesa) - é estúpida e contraproducente, criando uma divisão e um ressentimento que não existiam antes no país, além de ter sido péssimo para a economia da região, como bem aponta o Reinaldo Azevedo. Tendo vivido tanto no Brasil como nos EUA e na Europa, posso dizer com certeza que o Brasil é o menos "racista" e "xenófobo" desses países (uso os termos entre aspas porque são termos que de tão abusados quase perderam seu sentido hoje em dia), ainda que tenha também seus problemas. Mas medidas demagógicas como essa não ajudam à coesão social.
Se os índios podem ter suas terras exclusivas em Roraima, isso quer dizer que alguns colonos de origem alemã em Santa Catarina poderão finalmente criar seu volkstaat? E, se não, por que não? Como mostra a situação na África do Sul, o pêndulo da divisão racial e social pende para os dois lados. Lula e seus amigos deveriam pensar melhor no tipo de Brasil que desejam criar. Poderão se arrepender amargamente de suas escolhas.
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11 comentários:
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Muito complicado qualquer denominador comum nessa sua generalidade. É mais fácil começar-se tudo de novo desde o macaco do “2001 Uma Odisséia no Espaço”, ou do “Planet of Apes” que arranjar uma solução verdadeira, coerente e duradoura. Não está no homem falar em conciliar essas coisas sem primeiro arrasar com tudo e depois sobre entulhos, cinzas e milhares de cadáveres, fazer armistícios esfarrapados, chegando à conclusão sórdida de que não valeu a pena.
Como as dezenas de guerras étnicas evocando cinicamente direitos evos. De que adiantaram? Qual foi o avanço humanitário senão diversos caos e mortandades inúteis que somente serviram para mais uma vez provar que o homem ainda é o mesmo selvagem, exceto a pele lisa e barba feita? Em Angola, lá por 1974, os negros assassinaram dezenas, senão centenas de portugueses, crucificaram famílias pregando-os nas paredes de suas casas. Depois o país caiu num parafuso sem rosca e foram obrigados a chamar de volta os empresários e industriais portugueses para tirá-los do caos, pois não tinham capacidade para tal.
O Brasil nunca foi racista, senão em casos esparsos que sempre foram condenados por nossa sociedade. O Brasil tinha leis antiracistas. Quem robusteceu essa idéia divisionista e discriminatória foi a palerma e oportunista da Benedita da Silva. Dali para cá grupos também oportunistas enchem o saco dos brasileiros com o terrorismo racial em que não se pode nem chamar um amigo de “crioulo” - termo próprio africano - quando eles podem nos chamar de “brancos azedos”. E como os tais defensores profissionais dos direitos humanos de criminosos e menores perversos que propositalmente invertem tudo para ganhar uns trocados.
Nos EEUU a coisa é mais séria e há sim racismo muito bem estruturado pelos grupos étnicos que você apontou, e segregacionismos fortes, mas com os negros a coisa é escancarada.
É tudo muito complicado e acho mesmo que sem solução plausível e pacífica neste momento cultural do homem pequeno e egoísta.
...e Woland, escreve: Políticas indigenistas. Geralmente e amplamente, de esquerda. Discussão complicada para quem, como eu, gostaria de ver um indio advogado, engenheiro ou médico. Sem que perca a sua cultura. Acho bonito proteger as tradições. Conservá-las. Gosto de ler, de vez em quando, sobre os significados da lingua indigena( Como Ipanema, Tijuca ou Anhanguera e Ubatuba). Suas comidas e crenças. Modo de viver, as vezes, raptando uma moça de outra tribo para "limpar" o sangue... Canibalismo... Mas fico puto da vida quando vejo indio de caminhonete, home theater e LED na oca deles ! Como ? Hummmm... indio qué apito se num dé pau vai comê ! Tem que ter apito( espelhinho, comissão, machado ) para que os caras pálidas tirem o ouro, as madeiras e o k-ralho a quatro da floresta... Principio ativo de vários remédios... as drogas e as "drogas"... Tudo na cara do nosso bom governo de séculos que como esse de agora, incorruPTível( palavras de "guia" deles ) mas que adora os bons indíos...Ora, bom selvagem não existe e nós, conservadores, sabemos disso. Todo mundo gosta de GRANA ! Um perigo essas reservas para o país. Principalmente, próximas as fronteiras.
Lula quer substituir a atual coesão social por outra derivada de benesses do estado.
Bolsa para todos os lados.
O Woland tem razão. Esses "índios" são só fachada. Tem alguém que vai lucrar muito com essa história, e não sou eu.
O lance dos índios é mais embaixo, porque na verdade existe uma política anti-aculturação, mas índio nem absorveu a cultura branca, muito menos que se desaculturar porque não quer perder as vantages do progresso tecnológico (o que faz sentido, pois este trás conforto).
A verdade é que o Brasil não absorveu devidamente a cultura ocidental que marcou os EUA e que fazem parte da longa história da Europa. E, não adianta, culturas mais fortes se impõem sobre as outras, e o que faltou foi, de fato, na aculturação dos indígenas eles realmente absorverem a cultura ocidental.
Agora durma-se com um barulho desses. Eu se fosse índio, não abriria mão de conforto pra viver uma pseudo-cultura baseada numa cultura paganista que já foi deixada pra trás.....
E aí chegamos verdadeira "cultura" brasileira: a "cultura" do oportunismo....
Oportunismo também é cultura.
Vamos ser sinceros, pros índios é bom negócio. Eles só precisam posar de cocar e tambor para as fotos da mídia, e depois voltam para suas casas com televisão e fogão e outras mordomias ocidentais. Depois também podem negociar com as madeireras e tal. E por que não? Para muitos índios (não todos) é tudo teatro, pra conseguir ajuda governamental.
O que eu investigaria seriam os possíveis interesses do narcotráfico e de ONGs.
O post está perfeito, mas eu só gostaria de fazer uma correçãoVocê disse que os supremacistas negros se encontram principalmente na África, mas isso não é correto, os principais supremacistas negros se encontram nos EUA, principalmente em cátedras universitárias de Estudos Afro-americanos, tendo até um psicopata que ensina abertamente o genocídio branco como Solução Final(não me lembro agora de qual universidade é o gajo, mas se fores no You Tube e digitar white genocide vão encontrar o vídeo)
Tem razão. Eu assisti esse vídeo. Mas, enquanto aqui nos EUA eles não tem chance de realizar um verdadeiro genocídio, na África, sendo maioria absoluta, tem muita chance sim.
... e Woland, volta: Toda vez que vejo a foto, morro de rir ! Coitado do japinha... Bispinho Sashimi ! Quem leu o relato da morte do Bispo Sardinha se horroriza até hoje... Não confio em indios nem nos seus "descendentes" que deram certo: japas e chinas. Mais os japas na tecnologia. Atualmente, os chinas estão chegando com o seu socialismo- capitalista... Pô ! Baita ditadura que de socialismo só na maneira com que tratam o povão longe de Pequim e Shanghai onde o capitalismo dá as graças ! HA ! Nos cantões o povão pena... Terremoto, lá, mostra a verdade do "gigante" chines. Mas ou menos como as enchentes aqui. E Brasília, caro Mister X ? Valeu a pena ou não ? Ontem assisti um documentário sobre. Antes, achava que não. Depois do filme, continuo não achando. Brasília e Petrobrás, nada a ver. Desperdício.
Ei, eu gosto do Japão e dos japoneses.
Quanto à Brasília, fui apenas uma vez, não gostei muito não. Cidade estranha, com gente esquisita, como diria o Renato Russo, que cresceu por lá.
Interessante a citação dos imigrantes alemães. No RS, eles começaram a chegar por volta de 1820, antes de muitas comunidades quilombolas, por exemplo, se formarem.
Algum descendente se habilita a exigir seus direitos?
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