Normalmente publico aqui os poemas sem explicação nenhuma, já que a única leitora é a Confetti. No entanto, o presente poema tem a ver com a temática do blog - política e tal - e portanto ofereço uma espécie de explicação. O poema é "The Gods of the Copybook Headings", de Rudyard Kipling. Ou, "Os deuses dos cabeçalhos dos cadernos", algo assim. É que nos tempos de escola de Kipling, os estudantes praticavam a caligrafia repetindo antigos ditados que apareciam no cabeçalho da página: "Deus ajuda quem cedo madruga", "Quem não trabalha não come", essas coisas.
O poema de Kipling é, então, uma alegoria sobre o bom senso, sobre como podemos até ser enganados por algum tempo por utopias que prometem "saúde grátis" ou "justiça social", mas que no fim das contas o bom senso é que sempre têm razão, puxando-nos de novo para o duro chão da realidade.
É claro que os falsos deuses utópicos também aparecem às vezes na Direita, prometendo "liberdade total" ou "prosperidade imediata com o livre mercado" ou "democracia perfeita no Iraque, em Bangladesh e no Cazaquistão". Ilusões, tudo ilusões. Os pedestres deuses do bom senso sempre vencem.
(Notem entretanto que quando ele fala em "Gods of the Market Place" nada tem a ver com os "deuses do livre-mercado", seria melhor traduzido como "Deuses à venda no mercado", isto é, ele se refere às idéias da moda em cada época que enganam os otários - socialismo, comunismo, nazismo, feminismo, obamismo etc etc etc.)
* * *
The Gods of the Copybook Headings
AS I PASS through my incarnations in every age and race,
I make my proper prostrations to the Gods of the Market Place.
Peering through reverent fingers I watch them flourish and fall,
And the Gods of the Copybook Headings, I notice, outlast them all.
We were living in trees when they met us. They showed us each in turn
That Water would certainly wet us, as Fire would certainly burn:
But we found them lacking in Uplift, Vision and Breadth of Mind,
So we left them to teach the Gorillas while we followed the March of Mankind.
We moved as the Spirit listed. They never altered their pace,
Being neither cloud nor wind-borne like the Gods of the Market Place,
But they always caught up with our progress, and presently word would come
That a tribe had been wiped off its icefield, or the lights had gone out in Rome.
With the Hopes that our World is built on they were utterly out of touch,
They denied that the Moon was Stilton; they denied she was even Dutch;
They denied that Wishes were Horses; they denied that a Pig had Wings;
So we worshipped the Gods of the Market Who promised these beautiful things.
When the Cambrian measures were forming, They promised perpetual peace.
They swore, if we gave them our weapons, that the wars of the tribes would cease.
But when we disarmed They sold us and delivered us bound to our foe,
And the Gods of the Copybook Headings said: "Stick to the Devil you know."
On the first Feminian Sandstones we were promised the Fuller Life
(Which started by loving our neighbour and ended by loving his wife)
Till our women had no more children and the men lost reason and faith,
And the Gods of the Copybook Headings said: "The Wages of Sin is Death."
In the Carboniferous Epoch we were promised abundance for all,
By robbing selected Peter to pay for collective Paul;
But, though we had plenty of money, there was nothing our money could buy,
And the Gods of the Copybook Headings said: "If you don't work you die."
Then the Gods of the Market tumbled, and their smooth-tongued wizards withdrew
And the hearts of the meanest were humbled and began to believe it was true
That All is not Gold that Glitters, and Two and Two make Four
And the Gods of the Copybook Headings limped up to explain it once more.
As it will be in the future, it was at the birth of Man
There are only four things certain since Social Progress began.
That the Dog returns to his Vomit and the Sow returns to her Mire,
And the burnt Fool's bandaged finger goes wabbling back to the Fire;
And that after this is accomplished, and the brave new world begins
When all men are paid for existing and no man must pay for his sins,
As surely as Water will wet us, as surely as Fire will burn,
The Gods of the Copybook Headings with terror and slaughter return!
Rudyard Kipling (1865-1936)
domingo, 11 de abril de 2010
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9 comentários:
Confetti está de férias. :-/
as esquerdas são mais profusas e insistentes na utopia que as diretchas. Ser de direita é, fundamentalmente, ser contra utopia, sendo essa quando aí ocorre, a exceção que confirma a regra.
http://nobrasil.org/1001-discos-para-ouvir-antes-de-morrer/
retribuição
achei o sr. x com o sr. F
http://www.youtube.com/watch?v=fnpxQb_PazY
O que é assustador é a ignorância das pessoas sobre os princípios mais básicos da vida. Todo mundo acha que tem direito à "saúde grátis", a "casa, comida e roupa lavada", ou, como diz Kipling, "um mundo onde todos são pagos simplesmente por existir". Veja esta notícia da mídia americana criticando os malvados Republicanos por exigirem que os Democratas não gastem o dinheiro que não têm:
http://news.yahoo.com/s/mcclatchy/20100408/pl_mcclatchy/3472760
E leia os comentários de idiotas, que não conseguem compreender que dinheiro não nasce em árvores, que com todos esses "direitos" pagos com dinheiro que não existe, estão sacrificando apenas a si mesmos e às futuras gerações. É triste.
nao tou de férias...
so nao divido sua opiniao sobre bom senso !
e kipling, fora mowgli, realmente nao me diz nada.
Akelá, faremos o melhor?
Acho que o que a esquerda odeia em Kipling é o fato dele estar quase sempre certo.
Dito isso, como poeta prefiro Yeats of course.
Conffa é anti-imperialista.
Obrigado pelo poema e pela explanação.
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