A polêmica apresentadora conservadora Ann Coulter está em Los Angeles. Vou tentar assistir ao menos um dos eventos em que ela participa. Não sei se será possível: ao tentar realizar uma palestra em uma universidade canadense, ela foi recebida pelo próprio reitor da Universidade com ameaças de prisão caso não respeitasse as "leis de hate speech" do país. Posteriormente, uma multidão de estudantes de esquerda impediu aos gritos que ela realizasse o seu discurso. Acabou desistindo.
(Ann Coulter, para quem não sabe, é a personalidade midiática mais odiada pelos Democratas, e adora provocá-los. Após os ataques de 9/11 falou sobre os muçulmanos: "We should invade their countries, kill their leaders and convert them to Christianity.")
Mas se o ódio fosse apenas contra Ann Coulter, que no fundo é uma humorista que vive de provocações, seria compreensível. O problema é que muitos outros, como por exemplo David Horowitz, também já foram impedidos de discursar por multidões de esquerdinhas histéricos, que os acusavam de serem horríveis radicais nazistas, fascistas e sexistas. Para a esquerda, liberdade de expressão, só para os que concordam com suas idéias. Deixar um conservador discursar livremente seria terrível: afinal, alguém poderia se convencer que ele está com razão...
Os conservadores, curiosamente, reagem com surpresa e espanto à perseguição. Não entendem como os esquerdistas possam ser tão agressivos, e tão contrários à "liberdade de expressão" que dizem defender. Alguns conservadores, acredite, se surpreendem até com as contumazes mentiras da esquerda. Ora, é como surpreender-se que uma cobra morda, que um escorpião pique. É da sua natureza.
Mas e se Ann Coulter e David Horowitz fossem realmente racistas ou fascistas? Por mais incompreensível que possa parecer a um Democrata ou um Petista, Ann Coulter ou David Horowitz não são "direita raivosa", são até moderados. Quero dizer que aqui nos E.U.A. há pessoas bem mais radicais, como os supremacistas brancos, os neonazistas, os radicais comunistas, os extremistas ecologistas, e toda uma fauna de malucos de todas as espécies e ideologias que, no entanto, de acordo com a Constituição, têm todo o direito de se expressar. Ou tinham até há pouco.
É verdade que algumas idéias são nefastas e conduzem à desarmonia. Pode ser então que a censura seja uma saída. Por exemplo, deveria uma conferência de supostos supremacistas brancos ser impedida de se reunir, como recentemente ocorreu? (Para um ponto de vista contrário sobre a mesma conferência, ler a coluna do polêmico e politicamente incorretíssimo humorista Fred Reed.)
Ou pensemos então no caso contrário. Façamos o papel de advogado do Diabo. Imaginemos um governo totalitário de direita que proibisse todo discurso marxista, como ocorreu durante os anos setenta na América Latina. Poderia tal decisão ser justificada? Se o marxismo é uma ideologia nociva, como muitas vezes informamos neste blog, não seria a sua censura algo positivo?
O não-tão-saudoso ex-comentarista Tiago, na outra vez, afirmou que a perseguição ao pastor protestante e "homofóbico" Júlio Severo era válida, afinal, segundo seu raciocínio, "se alguém houvesse perseguido Hitler" não teriam acontecido tantos horrores. Deixando de lado a espúria comparação, ele toca num ponto importante. Até que ponto a liberdade de expressão deve ser permitida? Na Europa, há em teoria boas razões históricas para as leis contrárias à negação do Holocausto ou à propagação de idéias neonazistas. Nos EUA essas leis não existem. Mas imagine que as idéias neonazistas, que hoje representam uma minoria esquálida no país, se tornassem populares? Não seria uma boa idéia impedir sua propagação? As leis antiracismo e antihomofobia no Brasil, não tentam apenas proteger minorias discriminadas? Ou vão além?
O problema é que uma vez que se começa com a censura, fica difícil parar. E as idéias que são nocivas para uns não o são para outros. O pior é que, muitas vezes, quando o discurso livre das idéias é proibido, são justamente os mais extremistas e violentos que ganham mais força.
Ontem mesmo, "milícias cristãs" foram presas nos EUA, acusadas de planejar um atentado. "Milícias cristãs"? Se você ler a matéria, verá que são um culto de malucos milenaristas, não exatamente cristãos tradicionais. Veja as tristes fotos que acompanham o artigo: parecem mesmo é um bando de trailer trash com problemas mentais. (São esses os sujeitos que se consideram "raça superior"?)
Como o FBI não divulgou detalhes, não fica claro de que exatamente o grupo é acusado. O que sim fica claro é o interesse dos articulistas de esquerda em associá-los à "direita" e ao "cristianismo", para assim pintar todos os cristãos e também os participantes de qualquer protesto antigovernamental como extremistas raivosos, racistas e violentos. Eric Holder, Procurador Geral da República Obâmica, declarou que os grupos terroristas de "extrema-direita" são a "prioridade número um da segurança", muito acima dos terroristas muçulmanos.
Bem, aceitemos que seja verdade. De fato, anos atrás houve realmente casos graves de terrorismo das chamadas milícias, o mais famoso o caso de Tim McVeigh. Quer isso dizer que toda oposição ao governo é criminosa? Que toda idéia perigosa deve ser censurada? Que os participantes dos Tea Parties e os Republicanos devem ser demonizados e criticados? Até que ponto a liberdade de expressão e a oposição ao governo podem ou devem ser toleradas?
Os "tea party" nada tem a ver com as "milícias", mas já há vários Democratas querendo conectá-los ideologicamente. Há dezenas ou centenas de grupos que poderiam ser chamados de "milícias" nos Estados Unidos. Em parte dos casos, meros clubes de armas, ou grupos de jovens antisociais "brincando de soldado". Grupos repulsivos, pode ser, mas mesmo assim não mais perigosos do que as centenas ou milhares de gangues criminosas não-ideológicas que existem no país, matando a torto e a direito.
Hoje as milícias têm liberdade de reunir-se e treinar (e, aliás, também a têm os radicais muçulmanos: há dezenas de Jihad camps nos EUA, com plena liberdade de existir enquanto não cometerem violência real).
Mas e se um governo tirânico decidisse impor a perseguição total, não só às "milícias", como a qualquer um que fizesse críticas ao poder? Será que esses bizarros grupos passariam a fazer parte da "resistência"? Quando é que um terrorista vira "freedom fighter"? Os jihadistas devem ter o direito de pregar jihad ou não?
Qual tipo de discurso é aceitável em uma sociedade civilizada? Em que momento a liberdade de expressão vira "hate speech"? Desobediência civil, como queria Thoreau, é um recurso aceitável de protesto?
São questões muito complicadas, e não tenho uma resposta pronta. Vou lá assistir a palestra da Ann Coulter. Talvez ela saiba responder.
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15 comentários:
A Ann Coulter é ótima, além de bonita! Bom humor e inteligência do lado certo.
Espero que venha ao Brasil, qualquer dia desses.
Marcelo Hagah
João Pessoa-PB
http://hagah72.blogspot.com
P.S.: Seu blog está nos favoritos do meu blog. É muito bom.
Por mais de uma vez ouvi que o melhor jeito de desmoralizar os nazistas, ou os comunistas, é deixando eles falarem.
Quem leu "Minha Luta" ou "O Capital", e tem mais de dois neurônios, não sabe como aquilo pode prosperar.
O Problema é que o mundo tá cheio de gente com dois neurônios ou menos, por isso o tema trazido pelo Mr.X é tão complicado.
Uma coisa eu concordo 100%, a esquerda adora atacar os discursos da direita, mas quando o inverso acontece eles são muito mais hábeis e espalhafatosos ao berrar "Censura!!!".
Nós conservadores temos estado muito acomodados. Temos que fazer militância, de outro modo, estaremos à mercê da demografia.
Sacanagem. Cancelaram o evento. Ela alegou doença. Humpf.
Eu largava tudo e casava na hora...
Quantas dúvidas X!
Acho que o jeito mais fácil de responder a essas perguntas é seguir a orientação bíblica: "Pelos frutos os conhecereis."
Mas o Anônimo que comentou ali hoje tem muita razão no que diz.
Aliás, pior ainda são as criaturas anti-religiosas de dois neurônios que pegam os grupos alegadamente cristãos (ou judeus) e os tomam como cristãos (ou judeus) de fato.
O caso dos muçulmanos que é mais complicado, porque como não existe uma instituição que orienta a filosofia e formas de interpretação, mas várias, você nunca sabe quando um muçulmano é de bem ou não. Muito menos um alegado muçulmano e um muçulmano de fato, pois a variedade de interpretações é tão grande que confunde qualquer um! E aí, por mais que haja preconceito ou não, nunca vi um cristão de fato ou judeu de fato virar homem-bomba ou jogar aviões contra países muçulmanos...
Parei de ler no "ataque terrorista do 11/9". Todo mundo sabe que esse golpe de mídia foi um trabalho interno da CIA a mando da festiva e animada turminha de Cheney/Bush/Rumsfeld.
Tem dois Klaus aqui, ou é o mesmo?
Ainda estou chateado que não deu pra ver a Ann.
Aliás, além de bonita ela é rica e solteira.
Um negócio interessante é observar as constantes comparações entre "nazistas", "marxistas" e "leninistas". Claro, não é possível esperar q publicistas vulgares provavelmente informados pela imprensa diária (seja em português, espanhol ou inglês) consigam ultrapassar as baboseiras tipo "Quem leu 'Minha Luta' ou 'O Capital', e tem mais de dois neurônios, não sabe como aquilo pode prosperar." Pois é: o autor desse comentário faz justiça a seu único neurônio. Não discuto política em nível "O Globo" ou "Fox News", mas reconheço o direito q as pessoas têm de se posicionar seja lá como acharem melhor. Agora, comparar "Minha luta" com "O capital" é a mesma coisa que comparar uma banheira com um lago de hidrelétrica: os dois são obras, os dois tem água dentro, e os dois são visíveis a olho nu, mas as possibilidades de comparação terminam por aí. Não vou dar aula pra ninguém, mas quem acha que "O Capital" tem alguma coisa haver com o "marxismo- leninismo" não faz a menor idéia do q vem a ser isso. Ou seja, nunca abriu nenhum dos volumes da edição em qq língua. Se alguém quiser comparar "Minha luta" com algum dos livros de Stalin, aí tudo bem: existem certas possibilidades de descobrir continuidades (o nacionalismo xenófobo, por exemplo, ou o militarismo como ferramenta de ação política). Sugiro, por exemplo, o livrinho (em todos os sentidos) "Mastering bolshevism", uma reunião de dois discursos dde Stalin, em 1937 e 1938, se não me engano, onde o pensamento de Stalin sobre todos os assuntos revela o grau de paranóia que o assolava, e que encapou virtualmente toda a vida soviética. É interessante q esse livrinho (é pequeno, pessoal, não vai dar mto trabalho para ler...)não seja mais utilizado pelos "defensores da liberdade" do tipo dos q abrilhantam a seção de comentários deste blog. Em resumo, acho o seguinte: rapazes, podem falar o q acharam melhor, essas falas: não desqualificam o marxismo (1) e (2) não torna aproveitáveis as coisas q vcs escrevem...
Bitt revelando seu lado marxista... Hum.
Acho que a comparação mais adequada com Mein Kampf seria o Manifesto Comunista.
A moça é bonita e expressa bem a idéia dos velhos, só isso.
hehe.
:-)
Olá Beto,
Sim, já me dei conta do erro sobre o Julio Severo, vou corrigir.
Abs.
Caro misteréquis, nunca escondi meu lado marxiano (tem uma diferença ente "ano" e "ista"), tanto que já li "O Capital" e sei o que tem lá dentro. Minha questão vai por aí - por mais humorístico que seja este blogue, as tolices escritas pelos entusiastas enchem o saco. Não concordo que O "Manifesto" seja condizente com "Minha Luta". É preciso esclarecer q a URSS de Stálin não tinha porra nenhuma com as proposições de Marx, que morreu qse 20 anos antes do s. 19 acabar, e quase 30 anos antes da rev. bolchevista. Nos últimos anos, o cara q melhor escreveu sobre a URSS foi o croata Slavoj Zizek, mas não tenho a menor esperança de que se possa debater sob este ângulo.
"É preciso esclarecer q a URSS de Stálin não tinha porra nenhuma com as proposições de Marx". Já ouvi isso antes. Seria o Bitt o novo TiagO?
Com todo respeito, o Zizek é um imbessil (ou imbeçil). Já li coisas dele. É pior que marxista, é um desses insuportáveis "pós-modernistas":
Žižek maintains that dominant ideologies wholly structure the subject's senses of reality. Yet, The Real is not equivalent to the reality experienced by the subjects as a meaningfully ordered totality. To him, the Real names points within the ontological fabric knitted by the hegemonic systems of representation and reproduction that nevertheless resist full inscription into its terms, and which may as such attempt to generate sites of active political resistance.
Credo, parece o próprio Bitt falando!
Mas ele não é croata (os croatas, por sinal, foram fascistas, lembra da Ustasha?) e sim esloveno.
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