terça-feira, 2 de março de 2010

Uma questão de raça?


No post anterior falei sobre o caso do Epic Beard Man, um velho meio maluco que envolveu-se em uma briga no ônibus com um passageiro mais jovem, surpreendentemente derrotando seu atacante. Como um era branco e o outro era negro, e tudo partiu de um desentendimento de caráter racial, o caso reacendeu as polêmicas raciais que sempre existem neste país desunido chamado United States.

Bem. Antes de tudo, vamos esclarecer algumas coisas. Na verdade, apesar da fama negativa, os EUA são, hoje, provavelmente o país menos racista e xenófobo do mundo.

- Hein? Cumequié?

Bem, os negros (aqui chamam de African-Americans) certamente têm seus problemas na sociedade americana, são muitas vezes discriminados e vivem em grande parte em guetos, dependendo da ajuda estatal ou do crime. Mas digam-me um único país em que eles estejam em condição muito melhor, ou tenham maiores oportunidades de melhorar de vida. Senegal? Libéria? Zimbabwe? Inglaterra? Alemanha? Brasil?

Outra coisa a favor dos EUA: você pode vir do país que for - Bélgica, Suécia, Japão, ou Congo. Até da França! Pode ser preto, branco, latino, indiano ou asiático. Não importa. Se for um trabalhador bom que produz, vai provavelmente ser aceito sem problemas. Os países europeus (e mesmo latinoamericanos) são muito mais xenófobos - podem até importar árabes e latinoamericanos para trabalhos braçais, mas raramente aceitam cidadãos de outros países como seus iguais.

Dito isso, há realmente grande ressentimento racial aqui nos EUA, de uma forma que não ocorre no Brasil. Acredito que a causa seja a miscigenação. No Brasil, a miscigenação muito maior tornou os grupos menos distintos, e portanto é muito mais difícil discriminar em termos raciais. Já nos EUA, a história é de separação entre as raças e etnias.

Mas uma coisa é verdade: os americanos são obcecados com a questão racial.

Porém, hoje, o ressentimento e a violência vêm dos dois lados. Muitos negros americanos são violentos, cometem proporcionalmente muito mais crime do que qualquer outro grupo, e em grande parte odeiam os brancos. Não acredite em mim, acredite no Chris Rock. Ou no Dave Chapelle. Dois excelentes humoristas negros que hoje são milionários.

Os humoristas negros podem falar sobre raça sem problemas e, de fato, quase não falam de outra coisa. Mas, se um humorista branco falar qualquer coisa ofensiva sobre os negros, será crucificado sem piedade. (A não ser que seja a Sarah Silverman, mas ela é judia).

São as regras do jogo, tudo bem. De fato nestas condições é mais fácil ser branco do que ser negro, e portanto é possível que seja necessário dar um desconto.

Mas eis então que chegamos ao cerne do problema: como a esquerda manipula a questão racial. O pensamento da esquerda é o seguinte: "a maioria branca ocidental cristã é sempre malvada e oprime as minorias de outras raças, culturas ou religiões, que são sempre boas".

Essa é a regra oculta que orienta o pensamento das ONGs de que falamos o outro dia. Índio, negro, homossexual, muçulmano, operário ou pobre = bom. Branco de classe média heterossexual cristão = mau. Independentemente do que cada um faça.

Para esse pessoal, a moralidade não está no que você faz, mas em quem você é. Se for da ideologia, classe social, cor ou orientação sexual correta, tudo é permitido, até estuprar e matar. Se não for... cuidado!

Dessa forma, temos os seguintes esquemas de "superioridade moral", que têm diretamente a ver o quanto uma minoria é vista como "oprimida" ou não. Assim, em termos de "raça" ou "etnia", temos algo assim:

índio > negro > latino > árabe* > asiático > judeu* > branco

Ou, em termos de religião:

seguidor de Gaia > politeísta > umbandista > hindu > muçulmano > judeu > cristão

Exagero um pouco, mas é por aí. É claro que esses conceitos não são assim tão fixos quanto parecem, podendo variar conforme a circunstância.

As mulheres, por exemplo, são vistas como vítimas do tenebroso "patriarcalismo ocidental". Mas aí, um muçulmano recusa-se a apertar a mão de uma mulher durante uma entrevista de trabalho na Suécia, não é - justamente! - contratado para o emprego, e então ele é quem é visto como vítima, ganhando 6 mil euros de compensação...

Por quê? Simples. Na classificação de minorias oprimidas da esquerda, uma mulher branca ocidental vale menos do que muçulmano de país de terceiro mundo (Se fosse um muçulmano oprimindo uma mulher muçulmana, aí poderíamos conversar).

Se você percebe esses esquemas mentais da esquerda, fica mais fácil entender o que está acontecendo no mundo. Nos EUA, o ressentimento racial só aumentou com Obama, que deveria ser o tal "presidente pós-racial". Por quê? Ora, por que quase todas as suas políticas visam retirar dinheiro da classe média majoritariamente branca e dar para projetos que beneficiam gays, mulheres (feministas), muçulmanos, negros e latinos. Assim, gerou uma divisão ainda maior no país. Se não acredita, veja as pesquisas, indicando a diferença de popularidade de Obama entre os vários grupos étnicos e sociais.

O triste é o seguinte: o ideal multiculturalista e politicamente correto, longe de criar sociedades harmoniosas, parece estar criando sociedades cada vez mais fragmentadas e ressentidas, que um dia talvez terminarão lutando entre si.

17 comentários:

Klauss disse...

É o "upgrade" da luta de classes marxista.

Na concepção original valia a classe social. Na atual, "multiculturalista", virou um vale-tudo!

É homem x mulher, preto x branco, crianças e adolescentes x adultos e por aí vai. E a velha luta de classes também continua na baderna.

Na real, pior é quem cai nessas. Sempre tem um grupo pra ser o bode-expiatório...

Gerson B disse...

Boa lembrança do Jornada nas Estrelas, X. Esse episõdio é sensacional.

Eu tou mais pra panteiasta agnóstico, mas tenho algo de seguidor de Gaia, então estou por cima? OMMMMMMMy Godess!!

Não teve uma juiza, acho que na Alemanha, que se recusou a proteger uma mulher muçulmana dizendo que o que o marido dela fizera, agressão ou outra coisa era normal na cultura deles? Mesmo as mulheres muçulmanas nem sempre tem proteção.

Mr X disse...

O Klauss tem razão, é um upgrade da velha luta de classes.

E viram isto? Caramba!

Francisco Lotero, de 56 anos, e Miriam Coletti, de 23 anos, teriam firmado um pacto de suicídio por temerem os efeitos do aquecimento global. Assim, eles mataram a tiros o filho de dois anos, balearam a filha de sete meses e se suicidaram.

http://noticias.uol.com.br/bbc/2010/03/02/bebe-baleado-em-pacto-suicida-e-encontrado-vivo-apos-3-dias.jhtm

Klauss disse...

X, essa conclusão nem é minha. Já na época do Imbecil Coletivo o Olavo mexe no assunto, quando começam a aparecer umas figuras (via de regra do PT) na TV pra dizer que o branco é racista até inconscientemente. Tem um argumento que eles usavam de que as pessoas chegavam a ser racistas sem o saber. Quem sabia era o dito cujo em seus quinze minutos de fama exibindo suas "teorias".

Quanto à notícia do link, é a maior prova que essa história de aquecimento global é coisa de louco.

Chesterton disse...

muito bom o post. Coloquei lá no Pax uma post a respeito dos catastrofistas calientes que se mataram e ele ficou "putinho".

Silvio disse...

X, outra que dá trabalho às patrulhas de ouvidos sensíveis nesse assunto de raça (e em outros assuntos) é a maluca da Lisa Lampanelli. Nesse vídeo ela manda umas ótimas sobre o Obama:

"He is the black man. Who is just white enough to do a good job."

"Wow, that's just what America needs: another black guy asking us for change." (trocadilho intraduzível e pra lá de maldoso com change=mudança e change=trocado/esmola)

Tá certo que é fato que houve abusos. Lembre o governador do Alabama barrando pessoalmente a entrada de negros na universidade. Mas tem que ter cuidado com certos militantes dessa coisa de "igualdade racial" que só dão vez para raiva e ressentimento, quase uma kkk de sinal trocado. Não é por aí.

Chesterton disse...

executado no Texas assassino de casal de brasileiros.
Que estado civilizado.

Chesterton disse...

Curioso

Enquanto a esquerda, no mundo todo, entendeu o quão inexorável era o capitalismo os liberais ainda insistem no discurso que surgiu em mil novecentos e lá vai fusquinha. Não deixa de ser irônico ver que foram os esquerdistas que perceberam que todos agem de acordo com seus interesses e não estão dispostos a se privar de nada em nome de um hipotético futuro glorioso para a humanidade.

chest- do Claudio. Sorry, Mr X. Mas vou comentar aqui porque sei que ele frequenta e vocês são amigos. grande sacada.

Mr X disse...

Essa tal de Lampanelli pega pesado mesmo. Acho que retiro em parte o que disse, tem mais humoristas politicamente incorretos do que eu pensava por aqui. Aliás, difícil é encontrar algum que NÃO faça piada com negros, judeus, etc.

Poxa, e não é que o Tiago sumiu mesmo? :-/ Deve ter voltado para o vermelho.org

DD disse...

O Tiago deve estar empenhado na campanha à presidência pelo PCO (Partido da Causa Operária, vulgo Pão Com Ovo).

Klauss disse...

Pelo menos ele é um homem de palavra.

Ah, e não precisam me agradecer! he he he he he....

Gerson B disse...

Ei, não é porque dois malucos se matam por temer o aquecimento global que ele não existe.

Mas é uma pena pelas crianças.

Mr X disse...

Bem, os pais estão produzindo menos gás carbônico.

Na boa, não acho que o aquecimento global exista, mas, se existir, é algo ao qual devemos nos adaptar, não entrar em pânico ou voltar à Idade da Pedra.

Chesterton disse...

http://www.youtube.com/watch?v=hsJuaQFROvY&feature=player_embedded

hilário

Klauss disse...

Aquecimento Global houve na Idade Média!

Tanto que a Groenlândia tem este nome (Terra verde) porque era uma florestra tropical. Isso lá pelo Séc. XII, pelo que vi naquele documentário britânico que desmente "Uma verdade incoveniente" do Al Gore.

E não tinha gente se matando por isso...

Anônimo disse...

A groelândia não tinha floresta tropical

Gerson B disse...

"Na boa, não acho que o aquecimento global exista, mas, se existir, é algo ao qual devemos nos adaptar, não entrar em pânico ou voltar à Idade da Pedra."

Concordo totalmente.