segunda-feira, 15 de março de 2010

Genocídios, inc.

É um tema desagradável, mas, já que estamos falando de ódios, continuemos. Parece que a Turquia ainda recusa-se a assumir que realizou um genocídio de armênios lá por 1915. Não só isso, como irritou-se quando semana passada os americanos (e, hoje, os suecos) passaram resoluções chamando o caso de "genocídio". Falar em "genocídio armênio", na Turquia, pode render prisão ou morte. Nem Prêmio Nobel de Literatura escapa.

Parece-me curioso. Por que não assumir? Muito mais ofensivo seria afirmar, "Sim, cometemos um genocídio e, quer saber? Faríamos tudo de novo, seus bastardos armênios!" É um pouco como os malucos neonazistas, que afirmam que o Holocausto não existiu, que é tudo uma mentira dos malditos judeus, os quais, aliás, devem ser exterminados. Afinal, qual é que é? (Idem os fanáticos islâmicos que negam estar por trás do 9/11, ao mesmo tempo em que celebram seus heróis)

De qualquer modo, o caso é puramente simbólico. Salvo possíveis questões financeiras (pedidos de reparações?), o fato de que a morte de 1.2 milhão de armênios seja considerada "genocídio" ou meramente "massacre" (ou o termo preferido dos turcos, "só uma brincadeira que passou um pouco dos limites") muda pouca coisa.

No mais, o "genocídio" (ou extermínio de povos) nada mais é do que o conceito darwinista de sobrevivência das espécies aplicado à sociedade humana. De fato, Darwin acreditava piamente que os grupos superiores eventualmente eliminariam os inferiores:
"At some future period, not very distant as measured by centuries, the civilised races of man will almost certainly exterminate, and replace, the savage races throughout the world. At the same time the anthropomorphous apes, as Professor Schaafhausen has remarked, will no doubt be exterminated. The break between man and his meanest allies will be wider, for it will intervene between man in a more civilised state, as we may hope, even than the Caucasian, and some ape as low as a baboon, instead of as now between the negro or Australian and the gorilla."
Darwin estava errado: não foram precisos séculos, mas apenas algumas décadas. Pouco depois da publicação da "Origem das espécies", armênios, judeus e ucranianos sentiram na pele as idéias materialistas da nova ciência biológica (1).

Isso não quer dizer, é claro, que Darwin fosse um genocida. Embora, como se vê no texto acima, acreditasse que a raça branca era superior (isso não era novidade alguma no século XIX, nem foi idéia dos nazistas, que aliás consideravam apenas a suposta raça germânica superior, tendo também massacrado com prazer milhões de brancos eslavos), Darwin criticou a escravidão, era abolicionista e aliás jamais disse que o genocídio seria aconselhável: apenas afirmou que este aconteceria cedo ou tarde. E mesmo esta afirmação estava apenas dentro do contexto da explicação sobre a não-existência de um "elo perdido" (segundo Darwin, este teria sido eliminado pelas espécies superiores, por isso jamais fora encontrado... Boa desculpa).

Não coloco a culpa da maldade humana em Darwin. Porém, tenho para mim que foi em parte essa visão tão fria e "científica" dos seres humanos como meras espécies em luta que permitiu o extermínio de milhões de seres humanos no século vinte: os nazistas, em nome da "ciência racial"; os comunistas, em nome da "ciência econômica".

Afinal, imaginemos que realmente ficasse cientificamente demonstrado que o grupo A fosse "superior" (intelectualmente, fisicamente ou culturalmente) ao grupo B. Será que isso justificaria o genocídio deste último? Bem, em termos puramente científicos (e portanto amorais), é possível que sim. Afinal, as idéias nazistas de melhoria da espécie não pareceriam tão loucas se fossem aplicadas apenas a vacas e ovelhas.

Essa é a questão. Queremos crer que somos mais do que vacas e ovelhas. Queremos crer que somos mais do que um mero amontoado de matéria flutuando em um universo sem sentido, e que toda vida humana tem uma certa dignidade. Mas será que tem mesmo?

(1) Ainda que os turcos tenham realizado o genocídio por motivos religiosos (turcos são muçulmanos, armênios são cristãos ortodoxos) e nacionalistas / políticos, é possível que tenha sido influenciado pelas idéias que estavam então no ar. Por outro lado, os fanáticos muçulmanos continuam tendo idéias genocidas, então é possível que neste caso não tenha nada a ver. Curiosamente, Darwin também considerava os turcos inferiores (e por isso ele não é ainda hoje bem visto na Turquia):

"The more civilized so-called Caucasian races have beaten the Turkish hollow in the struggle for existence. Looking to the world at no very distant date, what an endless number of the lower races will have been eliminated by the higher civilized races throughout the world."

Armênios foram decapitados para evitar gasto de munição.

15 comentários:

Chesterton disse...

Muçulmanos em geral e turcos em particular não precisaram de Darwin para decapitar quem cruzasse sues caminhos, mas Darwin deu um verniz "científico" ao genocídio como método. Quer dizer, antes do século 20 escravizavam, no século 20, exterminavam.
Cosntantinopla , Constantinopla...

Anônimo disse...

Por falar em genocídio, vejam o método mais científico de exterminar populações

http://www.youtube.com/watch?v=DiELv7lmtT0

marcelo augusto disse...

Olá!

Esse entendimento de que Darwin deu alguma justificativa biológica para o genocídio é uma idéia bastante perigosa, sobretudo pelo fato de que, quando Darwin elaborou a sua teoria sobre a evolução das espécies, o termo genocídio sequer existia. Anacronismos são sempre perigosos.

Esse excerto que o Mr. X citou pode levar a interpretações erradas do que Darwin queria realmente dizer. Eu procuraria entender esse excerto através das idéias que o próprio Darwin lançou e/ou contribuiu no sentido de melhorar o entendimento delas, seja pela formulação de hipóteses, seja através de dados empíricos. Isto é, idéias como seleção natural, variação, competição pela sobrevivência, observação de dados empíricos e etc.

"Darwin estava errado: não foram precisos séculos, mas apenas algumas décadas. Pouco depois da publicação da "Origem das espécies", armênios, judeus e ucranianos sentiram na pele as idéias materialistas da nova ciência biológica (1)."

Não sei ao certo, mas suponho que o próprio Darwin não possuísse uma visão tão materialista no sentido marxista do termo. As idéias que Darwin formulou eram para buscar uma explicação sobre a origem e evolução das espécies, a competição, variação e coisas tais. Nada tinham a ver com genocídio e assuntos relacionados.

Os genocídios e extermínios que aconteceram nos idos do século XX foram frutos bem mais de ideologias assassinas e ódios absurdos do que propriamente a colocação em prática das idéias darwinistas. Houve, sim, uma apropriação das idéias de Darwin para justificar de alguma maneira as razões desses genocídios. Duvido muito que Darwin aprovasse essas maluquices.

"[...] E mesmo esta afirmação estava apenas dentro do contexto da explicação sobre a não-existência de um "elo perdido" (segundo Darwin, este teria sido eliminado pelas espécies superiores, por isso jamais fora encontrado... Boa desculpa)."

Darwin elaborou uma teoria para a posteridade. Havia inúmeras dificuldades e impossibilidades no século XIX que iriam impedi-lo de ter um entendimento mais aprofundado sobre a origem e evolução das espécies. Cito apenas dois:

1) A genética só começou a dar os seus primeiros passos em meados dos 1800s.

2) A escassez do registro fóssil (que, ao que parece, é uma das, senão a principal, razões para que o tal elo perdido não tenha sido ainda encontrado).

Algumas "respostas"/"explicações" que Darwin mostrava estavam incompletas e/ou erradas. Mas é bastante compreensível, pois ele só podia ter acesso ao ideário que fazia parte do seu Zeitgeist intelectual.

Até!

Marcelo

Mr X disse...

Olá Marcelo!

Não estou querendo diminuir Darwin, ao contrário. São fascinantes suas descobertas, até por terem sido feitas antes da descoberta do DNA e tal. Nem tudo o que ele disse foi certo, seu legado é discutido hoje por cientistas, mas, no geral a idéia da seleção natural faz sentido.

Porém, é fato que ele relacionou a idéia de "seleção natural" aos grupos humanos também, e afirmou que seria possível que certos grupos eliminassem ou tentassem eliminar outros. Claro que não era a favor disso, só observou que seria possível, como de fato foi.

Dito isso, é verdade que o genocído armênio nada tem a ver com Darwin, e muito com o Islã.

Abraços!

X

SOS DIREITOS HUMANOS disse...

DENÚNCIA: CONSPIRAÇÃO DA ENERGIA ELÉTRICA: “ANEEL” AJUDA AS CONCESSIONÁRIAS A ENRIQUECEREM ÀS CUSTAS DOS CONSUMIDORES.



No ano de 2009 as concessionárias de energia elétrica confessaram na mídia o "engano" no cálculo das tarifas, ou seja, que ESTÃO COBRANDO A MAIOR do consumidor brasileiro desde o ano de 2002, com o respaldo de uma “metodologia de cálculo” produzida pela “ANEEL” (que deveria fiscalizar as concessionárias). Este “erro” que enriquece as concessionárias enquanto lesa o consumidor, foi comprovado pelo TCU em Pernambuco bem como pela CPI das Tarifas no mesmo ano.



Até agora, infelizmente ninguém foi preso, isto mesmo, porque se fosse um consumidor que estivesse fazendo um “gato” na energia elétrica, a concessionária já teria chegado à sua residência com um policial, um engenheiro com equipamento fotográfico, e o arrastaria preso em flagrante por furto de energia, mas neste caso quem faz o “gato” são as concessionárias nas contas de energia dos consumidores, escudadas pela “ANEEL” e pela palavra “erro” e por isto acham que estão fora do alcance da "longa manus" da Justiça.



Para agravar a lesão causada ao consumidor, a “ANEEL” em fevereiro de 2010 informou pela mídia que “corrigiu o erro na tarifa de energia elétrica”, mas que esta correção não será obrigatória para as concessionárias, ou seja, se quiserem continuarão a cobrar como vêm cobrando (à maior).



A SOS DIREITOS HUMANOS já antecipando que o consumidor não seria indenizado pelas concessionárias uma vez que têm o apoio incondicional da “ANEEL”, protocolou no dia 04 de novembro de 2009, no Fórum Clóvis Beviláquoa, em Fortaleza - Ceará, (distribuída para a 23ª Vara Cível), a PRIMEIRA AÇÃO CIVIL COLETIVA NO BRASIL requerendo a REPETIÇÃO EM DOBRO DO INDÉBITO, ou seja, dos valores pagos à maior pelos consumidores de energia elétrica, em todo o Ceará, bem como, que a COELCE seja obrigada a corrigir o erro e, aplicar nas contas vincendas de energia elétrica, os índices corretos, sob pena de pagamento diário de multa no valor de R$100.000,00.



O consumidor pessoa física ou jurídica, que quiser habilitar na ação deverá entrar em contato com a SOS DIREITOS HUMANOS pelo email: sosdireitoshumanos@ig.com.br ou pelo celular: (85) 8613.1197.



Dr. Otoniel Ajala Dourado
Editor-Chefe da Revista SOS DIREITOS HUMANOS
OAB/CE 9288 - 55 85 8613.1197
Membro da CDAA da OAB/CE
www.sosdireitoshumanos.org.br
sosdireitoshumanos@ig.com.br

OBS: Participe da CORRENTE DO BEM, repasse esta informação para o próximo consumidor.

Chesterton disse...

http://en.wikipedia.org/wiki/From_Darwin_to_Hitler

Mr X disse...

Bem, é óbvio que Darwin influenciou Hitler, isso ninguém pode negar. Mas, e daí? Nietzsche também influenciou, e Wagner. Um autor não é responsável pelo modo com que outros interpretam (e distorcem) seu legado.

Chesterton disse...

Darwinism by itself did not produce the Holocaust, but without Darwinism, especially in its social Darwinist and eugenics permutations, neither Hitler nor his Nazi followers would have had the necessary scientific underpinnings to convince themselves and their collaborators that one of the world's greatest atrocities was really morally praiseworthy.

chest- mais que influenciou, legitimou.

Chesterton disse...

claro, mister , que cumpre fazer uma diferença entre Darwin e darwinismo.

Edu disse...

Tem horas que é difícil saber se vc defende que somos mera matéria ou se tem algo por trás... assim fica difícil debater.
Pelos seus outros posts, imagino que acredite que somos mais que vacas.

"Não coloco a culpa da maldade humana em Darwin. Porém, tenho para mim que foi em parte essa visão tão fria e "científica" dos seres humanos como meras espécies em luta que permitiu o extermínio de milhões de seres humanos no século vinte: os nazistas, em nome da "ciência racial"; os comunistas, em nome da "ciência econômica"."

Curiosamente você sempre esquece de mencionar que antes dos nazistas e socialistas, os cristãos achavam que os selvagens eram inferiores e que deveriam ser salvos, ou que os hereges deveriam ser convertidos ou morrer no processo, tudo pela salvação de suas "almas eternas" (independente de o indivíduo querer ser salvou ou não)

Resumindo: desculpa para exterminar outros grupos sempre existiu e sempre vai existir, não venha colocar parte do peso na ciência, assim como eu não coloco peso na religião por isso. Matar o desemelhante é da natureza humana (quiçá de qualquer natureza).

Mr X disse...

Resumindo: desculpa para exterminar outros grupos sempre existiu e sempre vai existir, não venha colocar parte do peso na ciência, assim como eu não coloco peso na religião por isso. Matar o desemelhante é da natureza humana (quiçá de qualquer natureza).

Sim e não. A ciência a partir do século XX permitiu um grande aumento na quantidade de pessoas que poderiam ser mortas, bem como a desculpa para certos tipos de genocídio. Dito isso, a religião ou o nacionalismo podem também ser usados para racionalizar a morte em massa de indivíduos, portanto, não sei se estamos em desacordo ou não. Só para constar, sim penso que não somos iguais às vacas, ou seriam elas a comer-nos. ;-)

os cristãos achavam que os selvagens eram inferiores e que deveriam ser salvos, ou que os hereges deveriam ser convertidos ou morrer no processo, tudo pela salvação de suas "almas eternas"

Converter não é a mesma coisa que exterminar. E o cristianismo e o islamismo diferem nos métodos. A conversão dos indígenas na América foi em larga parte voluntária. Se houve um extermínio, foi menos por guerras (que houve, sim) e mais por vírus trazidos pelos europeus.

Iconoclasta disse...

os catolicos tb fizeram isso - sim exterminaram, os romanos antes deles, e os egipcios ha mais tempo ainda. uns com teorias mais palataveis para cada época, e se é para falar de ciência, nao custa lembrar o poder divino dos lideres religiosos.

darwin apenas identificou um padrao. concordo q suas teses contem preconceitos da epoca (q muitos carregam ainda hj), mas as da atualidade tb nao estao livres disso, o q so ocorrera no momento de onisciencia.

acho q o mesmo tipo de comportamento persiste. as reações da turma dos canhotinhos, ou daquela dos extremados da direita, qd sao contestados, sao demonstraçao viva da beligerancia q deseja o exterminio dos "diferentes".


;^/

Iconoclasta disse...

o nivel aqui é mais alto, nego tem mais facilidade para entender o q le, mas depois q vi o lixo q ficou o q eu tentei dizer, nao custa tentar ajeitar.

os catolicos tb fizeram isso - sim exterminaram, escravizaram e etc.-, antes deles os romanos fizeram o mesmo, inclusive com cristãos, os egipcios ha mais tempo ainda, e outros tantos povos agiram da mesma maneira. uns com teorias mais palataveis para cada época, para suas respectivas sociedades.se é para falar de ciência, nao custa lembrar o poder divino dos lideres religiosos.


"são demonstrações vivas..."

;^/

Anônimo disse...

Hei! Extermínios sempre houve por questões etnicas, raciais, ideológicas, religiosas, ambições, conquistas, vinganças, etc. Mas isso, na maioria das vezes, não teve um motivo justo para acontecer; foram unicamente alegações para o homem exercitar seu ego selvagem sedento de sangue, já que os caninos haviam encurtado e o prazer em dilacerar a carne do inimigo ficara somente para os atávicos bem mais atrasados.

O prazer de matar mudava pela técnica, mas não pelo prazer em si, pois segundo novas crenças e culturas (?) o exercício tornava-se cada vez mais sofisticado. Até que virou um gatilho ou botão; aperta-se e buuuum! Dane-se tudo! A certa altura nem se sabe mais porque se estão matando, o importante é matar sempre, manter a idéia da morte e vangloriar-se perante sua raça ou nação!

Pra que paz, coisa mais chata, aborrecida, sem emoção alguma!

Mas agora o negócio é reduzir a população mundial pela ciência. Coisa craniada, supinamente inteligente, conspiratória ao extremo por organismos insuspeitados. Mas eis que uma freira-médica, uma técnica pesquisadora e outros cientistas e técnicos descobrem a trama e botam a boca no mundo. A doutora dá provas laboratoriais, comprova óbitos e por causa dessa assombrosa coragem perde o emprego, mas continua a denunciar sabendo que pode ser mais uma vítima fatal como tantas denunciantes.

Vamos ignorar isso em confortável ceticismo?

http://www.youtube.com/watch?v=DIELv7lmtTO

Carlos disse...

"Não foram apenas alguns ministérios de Berlim que inventaram as câmaras de gás de Maidanek, Auschwitz, Treblinka: elas foram preparadas nos escritórios e salas de aula de cientistas e filósofos niilistas, entre os quais se contavam e contam alguns pensadores anglo-saxônicos laureados com o Prêmio Nobel." Victor Frankl

Uma das melhores frases pra descrever o Holocausto e outros horrores do século passado.