quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Uma questão moral

Theodore Dalrymple comenta sobre Fujimori e como ele acabou com o brutal grupo maoísta Sendero Luminoso. Anos depois, o ex-presidente foi preso por corrupção e por "desrespeito aos direitos humanos" e amarga uma longa prisão. Mas será que, caso o Sendero tivesse vencido a guerra, os horrores e os "desrespeitos aos direitos humanos" realizados pelo grupo comunista não teriam sido muito maiores? Afinal, os senderistas não eram gente que tivesse qualquer escrúpulo em matar, torturar e trucidar civis. Além disso, não foi justamente o fim do Sendero Luminoso o que permitiu maior abertura ao país, e portanto a punição de Fujimori? Não teria sido o "japonês" então uma vítima do seu próprio sucesso?

(Talvez Uribe deva se cuidar: não duvido que, assim que ele acabar de vez com as FARC, subirá ao poder um governo de esquerda que fará de tudo para prendê-lo e humilhá-lo por supostos abusos aos direitos humanos).

De qualquer modo, o texto de Theodore vai mais além da questão peruana ou mesmo latinoamericana, e reflete de fato uma questão moral que é válida em qualquer conflito: até que ponto os fins justificam os meios? É válido desrespeitar os direitos humanos para evitar desrespeitos ainda maiores? É possível mesmo manter o moral high ground quando se luta contra um inimigo implacável, ou deve-se necessariamente descer ao seu nível ou próximo dele para derrotá-lo? Não estaríamos aí justificando a tortura e a execução, isto é, os mesmos males que queremos evitar? Por outro lado, de que vale manter-se "mais puro" e perder a guerra?

Ou será que, dependendo de que lado você está na politica, tudo o que conta é quem realiza o "desrespeito" e os horrores?

Em tempos em que Obama mata civis no Afeganistão sem qualquer pio de manifestantes, não deixa de ser uma pergunta instigante.


Criança-soldado? Se é de esquerda, vale.

15 comentários:

Bruno disse...

A resposta, Mr. X, já foi dada por Carl Schmitt. O jurista alemão coloca que a política é, juridicamente falando, caracterizada pela oposição entre amigos e inimigos. Os amigos são aqueles que compartilham de um mesmo valor fundamental, base da sociedade política em questão. Os inimigos são aqueles que se opõem a esse valor.
Assim, para os amigos, valem as regras que se originam desse valor. Estado de Direito, Direitos Humanos, liberdade de expressão, etc: isso vale. Para os inimigos, não. Para esses, sua oposição ao valor fundamental da sociedade política em questão os torna "outcasts". Eles não são dignos de proteção. Não precisam realmente ser aniquilados, mas apenas ejetados da sociedade política: quem não compartilha de seu valor fundamental não deve esperar dela proteção.
No caso dos terroristas peruanos, no momento em que eles pegaram em armas para lutar contra o governo, e tomar o poder por meio do uso da força, eles passaram a se opôr ao valor fundamental da sociedade política peruana, o Estado de Direito, a democracia. E em defesa disso o governante pode, e talvez até deva, instituir um (temporário por definição) Estado de Exceção: em defesa do Estado de Direito, se negam, temporariamente, algumas características do Estado de Direito. E não há nada de errado com isso.
Os liberais e os progressistas costumam não compreender bem isso. Daí o porquê de punirem os governantes que assumem a responsabilidade de instituir e dirigir Estados de Exceção. São uns bobalhões: eles defender a democracia mesmo sabendo que ela irá morrer logo em seguida a menos que se abra uma temporária exceção. Não se importam de ver o mundo pegar fogo, contanto que o seu imperativo categórico kantiano esteja satisfeito.
Eles é que são o perigo, por incrível que pareça, e não os comunas. É a pusilanimidade deles que permite que os comunas tomem o poder impunes.

Harlock disse...

Salve.
Oh, sim... entre outras "graves" e "fundamentadas" acusações lançadas contra Fujimori constava a de "abusos" quando da invasão da embaixada do Japão tomada por terroristas do Movimento Revolucionário Tupac Amaru, em 1997.
As forças especiais teriam executado os "militantes" envolvidos, inclusive "menores", sem... sei lá... ler seus direitos, talvez...
É mais uma vez a boa e velha mentalidade social-democrata em ação... o apego fetichista aos aspectos formais da legalidade convivendo com a afinidade ideológica ao discurso esquerdista mais radical.
A guerra assimétrica movida por terroristas tem nesse idealimo bocó seu mais eficaz instrumento de desestabilização da ordem.
Uribe sabe que os "liberales" colombianos serão muito capazes delhe dar o mesmo destino de Fujimori, sim, no caso de lhe suceder algum "governo de reconstrução nacional" ou qualquer outra bobagem assemelhada.
Um exemplo das afinidades esquerdistas de boa parte da elite política, academica e judiciária da Colombia é o processo contra o Cel. Plazas Vega...
http://www.midiasemmascara.org/index.php?option=com_content&view=article&id=118:itinerario-de-uma-injustica-drama-do-coronel-plazas-vega&catid=101:america-latina&Itemid=87
Nenhuma Ditadura revolucionária deixou de ser precedida por governos social-democratas.

DD disse...

Outro dia mesmo, tive a sorte de ver um trecho de um filme sobre a vida de Charles de Gaulle em que havia um diálogo muito interessante. Ele recebia o líder do PS (ou do PC) francês, um dos grandes vitoriosos das eleições do pós-guerra. Disse, então, o general algo mais ou menos assim: "Se vocês acham que terão uma função muito destacada no meu governo só porque o povo francês teve a ingenuidade de lhes dar tantos votos, podem tirar o cavalo da chuva. Eu sei que vocês participaram da resistência com um contingente menor do que o que andam apregoando, etc.".

É algo que vai mais ou menos no sentido do que vocês disseram. Mas chamo-lhes a atenção para um fato: se ficarmos apenas no campo dos "métodos", a coisa não se resolve. É necessário que o governante tenha um conhecimento efetivo dos riscos a que o sistema legal fica exposto em determinadas situações para que possa agir, e com responsabilidade. Sem o amparo de valores benéficos e compartilhados, sob o domínio do relativismo total, a ideia de que se possa lançar mão do Estado de Exceção é perigosíssima.

Anônimo disse...

Ah,os ditadores de direita são anjos mesmo: fecham o Congresso, matam dissidentes, suprimem a Imprensa Livre e entregam o país ao Imperialismo, mas fazem isso para o nosso bem. O Povo precisa ser salvo de si mesmo pelos plutocratas iluminados, déspotas esclarecidos e seus capangas, blogueiros obscurantistas. Fujimori não conseguiu evitar a queda da ditadura que ele mesmo criou? Então é um herói. O mesmo vale para todo e qualquer ditador que não tenha conseguido manter o Poder ou só para os seus amados ditadores fascistas?
Tiago

Mr X disse...

Tiago,
o Sendero Luminoso representava o "Povo"? Você aprova as suas ações? Abimael Guzmán tinha idéias parecidas às suas.

Detalhe: ao contrário dos generais latinoamericanos durante os anos 70, Fujimori foi eleito e operou sob uma democracia. De qualquer modo, a maioria das ditaduras de direita na América Latina largaram o poder voluntariamente. Pode o mesmo ser dito de Fidel e dos novos neoesquerdistas do século XXI?

marcelo augusto disse...

Bah, Mr. X! Nem vale a pena responder as perguntas de antas esquerdistas.

Bruno disse...

O bravo ao discutir com alguns esquerdistas é que o debate deve começar por uma desconstrução de clichês. É aquilo que o Voegelin dizia: a corrupção ideológica começa pela corrupção do vocabulário e da língua corrente.

Anônimo disse...

Ah, os ditadores largaram o poder "voluntariamente" depois que descobriram que não poderiam mais mantê-lo e que poderiam escapar sem punição por seus crimes horríveis. Por essa lógica imbecil, democrático mesmo era Hitler, que se matou "voluntariamente" depois de derrotado e após "só" 11 anos de Poder (menos que as ditaduras do Brasil, Chile, etc.). Se Chavéz, Morales e outros vão largar o Poder "voluntariamente" como os seus amados "democráticos" ditadores fascistas? Não sei. Quando o Chavéz completa vinte anos de Governo e se iguala aos seus queridos generais brasileiros (ou 17 se pensarmos no seu querido Pinochet)? O jeito é esperar para ver.
Mas realmente havia democracia até demais no Peru de Fujimori. Afinal, o que são um Congresso fechado, a Imprensa amordaçada e dissidentes perseguidos quando comparados com os maravilhosos ideais "democráticos" dos plutocratas e seus defensores?
Tiago

Mr X disse...

Bem, os plutocratas pagam melhor, e seus vinhos são melhores.

пошел к черту! :-P

Chesterton disse...

Olha, o problema é o fetiche com a palavra democracia. Democracia ( o direito do povo escolher seus governantes) por si só tende ao totalitarismo, ao esmagamento das minorias. Por isso deve ser acompahada de instituições sólidas, que devem ser implantadas à mão de ferro se necessário. Estadistas fazem isso, deixam instituições, aventureiros destroem as instituições.
O poder atual dos EUA advem na maior parte da Constituição de século(s).

marcelo augusto disse...

Falando em antas esquerdistas, o Idelber deu umas férias ao blog dele. É uma pena, pois os posts eram motivo de diversão garantida!

DD disse...

Para quem estava preocupado com a questão do papel higiênico em Cuba, eis a solução: http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1260143-5602,00.html

Mr X disse...

Huahuahua! Boa DD.

Quando ao Idelblergh, uma pena. Aliás também ando pensando em tirar férias.

Mr X disse...

Vem cá, o portal do Globo virou central de propaganda comunista agora? O tom fidelista da matéria é de arrepiar.

Como diria o Paulo Francis, waaaaal....

Daniel F. Silva disse...

Eu estava até imaginando o Idelber defendendo o Bispo Macedo da "mídia golpista", hehe.