segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Eleições, mentiras e videotape

Ia parar de blogar por um tempo, mas um post do ressuscitado Fábio Marton no Not Tupy me inspirou. É sobre a necessidade da mentira na democracia. Será que democracia sempre implica em demagogia? Talvez seja um dos males deste sistema que é o pior com exceção de todos os outros. Como o político depende do voto do povo, precisa se disfarçar de Zé Povinho, mesmo que esteja muito distante físicamente, espiritualmente e financeiramente deste. Marton discute especialmente a questão do aborto, sobre a qual ambos candidatos precisam mentir para não desagradar 70% do eleitorado, mas esta é apenas a mentira mais óbvia. Um tema mais interessante é a questão do uso do dinheiro público. 

Há eleições em breve nos EUA e no Brasil, e o contraste entre os dois países não poderia ser mais grotesco. Nos EUA, há eleições parlamentares nas quais os Republicanos perigam ganhar em uma lavada histórica. Há uma atmosfera muito grande de rejeição aos Democratas estatistas, à gastança excessiva e ao elitismo dos políticos em geral. Já no Brasil, o grande vencedor entre os deputados foi Tiririca, que prova que "o grande mérito no Brasil é subir na vida sem ter mérito algum", e a eleição no segundo turno é entre dois candidatos estatistas, que lutam para decidir qual é mais contrário às privatizações. (Um dos poucos políticos que defende as privatizações, curiosamente, é o ex-comunista Roberto Freire, presidente de um partido que se declara "Popular Socialista").

Dilma mente sobre o aborto: mente também Serra quando diz que não irá privatizar? (Mas temo que Serra não minta, que seja mesmo contrário à privatização). Se eu sou contrário ao aborto e a favor das privatizações, deveria considerar a primeira uma mentira danosa e a segunda uma mentirinha válida? Não. Do ponto de vista dos princípios, seria melhor que ambos candidatos, em vez de tentar se acomodar ao desejo do público, tentassem convencer o eleitorado da validade de suas próprias idéias, que são as que colocarão em prática no final.

Tanto nos EUA quanto no Brasil, é patente a busca de identificação do candidato com o povo: o que muda é que, nos EUA, o "povo" é a classe média revoltada com a falta de melhoria econômica que quer menos gastança do governo, e no Brasil o povo é a maioria da população que quer mais governo e mais benefícios para si. 

Atire a primeira pedra quem nunca pecou ou recebeu dinheiro do Governo. Muitos criticam o bolsa-família como compra de votos, mas, de fato, não é um saco de farinha ou um auxílio no fim do mês um benefício econômico mais tangível do que vagas promessas de melhoria econômica através do liberalismo?

Todos gostam de receber dinheiro do "governo", isto é, dos impostos. O que incomoda é que outros recebam sem merecer. Mas quem é que define quem merece o quê?

Caiu em minhas mãos, por acaso, um texto de um cineasta e professor universitário declarando-se a favor da Dilma. Seu argumento é que o PT deu dinheiro ao cinema e às universidades. Que, por mera coincidência, constituem o seu ganha-pão. O cineasta é autor de filmes experimentais de "vídeo-arte", tão chatos que só poderiam ser produzidos com dinheiro público mesmo. Mas o sujeito é tão cara-de pau (ou tão esperto) que chegou a realizar um vídeo com dinheiro público no qual mostrava justamente como gastava o dinheiro do prêmio viajando para a Europa e EUA e comendo nos melhores restaurantes. A obra-prima pode ser assistida aqui. A crítica, naturalmente, elogiou:
O que o espectador presencia então é praticamente um homem em sua missão: queimar R$13 mil e fazer um filme deste seu processo. No meio tempo ele cruza o oceano duas vezes, se hospeda em belos hotéis, passeia por Europa e EUA, come do bom e do melhor. Tudo, conforme o logotipo da patrocinadora no início e no final deixa bem claro, às nossas custas. No final da sessão em que eu estive presente, uma mulher levantou revoltada: "Vagabundo! É o meu dinheiro também!"

Desse grito (desejado e conseguido pelo filme) começam as inúmeras e necessárias perguntas que ele levanta: vagabundo por quê? O cineasta fez um filme com o dinheiro do prêmio, que era o que se exigia dele. Apresentou seu resultado final, com a duração pedida, dentro do orçamento proposto. Qual o problema, portanto? Que ele tenha se beneficiado pessoalmente deste dinheiro? Bom, pelo menos nós vimos como ele o fez. Quantos belos jantares e viagens foram pagas nos outros filmes produzidos com este prêmio e nós nem sabemos? Quantas contas de motel? Então, supomos que a revolta não pode ser no campo da ética, já que antiético seria fugir com o dinheiro sem fazer o filme ou escamotear prestações de conta escondendo tais gastos, coisas que Migliorin não fez.
É claro, o cineasta poderia ter sido ainda mais "ético" e devolvido o dinheiro, ou realizado um outro vídeo de protesto pagando do seu próprio bolso, mas isso talvez seria "provocativo" demais: também não devemos exagerar. No fundo, o videoartista não difere muito de tantos outros cineastas brasileiros, que adoram criticar o governo e a sociedade enquanto são financiados por este e esta.

Seria fácil dizer que o eleitor americano é mais politizado e consciente do que o brasileiro, mas não sei se é isso mesmo: eles estão, como todos, apenas defendendo o que é seu. Não querem dividir o dinheiro ganho com seu trabalho com as minorias parasitárias do welfare e com imigrantes ilegais, especialmente em uma época de crise econômica que só foi piorada pelos Democratas. E têm razão. Talvez a diferença seja apenas que essa equação (dinheiro público = dinheiro do contribuinte) ainda não tenha sido compreendida pela maioria dos brasileiros, mesmo os de classe média e alta.


4 comentários:

Klauss disse...

X, não há nem o que comentar, vc disse tudo neste post!

Abração!

Anônimo disse...

...e Woland, escreve: Falta educação para o povo brasileiro. Não precisa ser de qualidade. Educação pura e simples. Para ler e escrever bem e fazer contas. E a falta dela é proposital ! Manter uma grande parcela da população na ignorância é o objetivo de uma elite que não sabe governar um país ! Só querem enriquecer. Já te disse que encontrei o socialista populista Ciro Angú do Gomes saindo da Apple no edíficio da GM ? Qual o problema ? Essa gente adora N.Y. ! Deveriam gostar de Havana.. Para entender o Liberalismo é preciso estudar. Assim como o Socialismo e Conservadorismo. E outros "ismos". Não adianta. Ter uma base. Saber ler e compreender o que leu. Não tem jeito. O que acontece aqui é que nos tornamos o país da dissimulação já que os mais poderosos, para se manterem lá em cima, se tornam dissimulados. Cada vez mais. Ohhhhh ! Descobriu a pólvora, Woland ! Mas, o pobre, também, dentro da sua ignorância eterna, em berço esplêndido, passa a copiar o que mais de ruim a elite desenvolveu ! Passa a ser espertobunda e... dissimulado ! ohhhhh ! Agora descobriu a bomba atômica ! E assim, o país parte célere, como um astronauta sem-cérebro..." um pequeno passo para a dissimulação, um grande salto para o populismo "! Com o voto obrigatório vem, a reboque, o tal do populismo. As coisas se unem de forma a deixar o Brasil no atraso. Serra, continuo achando, a melhor opção para os conservadores e liberais. É voto estratégico ! Mais fácil, no futuro, derrotá-lo do que Dilma( PTelho - PM DIABO B )! Deixa ele ser contra a privatização. Grande Problema ! Fizeram o certo e a VEJA da semana mostra isso. O povão se acha dono do Banco do Brasil e da Petrobrás. Inguinorânça ! É judô mesmo ! Usar a força do oponente mesmo sendo o oponente o povão ignaro. Vai cair e se levantar, como sempre. Só não podemos deixar a multidão comandar. É o corpo comandando o cérebro e isso ocorre aqui e não nos EUA. OBS: Desculpe-me, Mr. X, mas o seu "discurso" , é dúbio. Voce não passa ser liberal e muito menos... conservador. Parece-me um social-democrata. Socialista, não. Será ?

Roberto disse...

Não é pecado nenhum votar seguindo seus interesses pessoais. É o que se espera do cidadão, isso é democracia: a vontade da maioria vence. Mas isso só funciona de verdade quando todo cidadão votante tem bom senso desenvolvido, conhecimento, cultura e acesso a informação.
Se fosse assim, os nossos queridos candidatos não seriam levados a tratar os eleitores como crianças que não podem ouvir conversa de adultos.

Mas me diga se isso é desejado? Quem quer realmente que o povo brasileiro ou qualquer outro seja suficientemente inteligente e bem embasado na escolha dos seus governantes?
O Lula? O PSDB? Obama? David Rockefeler?

Não, senhores, infelizmente o sonho acabou, a democracia é um holograma. Agora é tão utópica quanto o comunismo.

Mr X disse...

Talvez o post não tenha sido bem claro, é claro que concordo com o Roberto. Nada há de errado em votar de acordo com os próprios interesses, aliás isso é democracia. O problema é querer sempre que outro pague a conta, mas, cedo ou tarde, isso acaba em problemas. Nos EUA se deram conta antes e vão expulsar muitos políticos acomodados. Aqui? Já não sei.

E sou anti-estatista e ach que quanto menos governo melhor.