No entender deles, um ser só atinge o estágio de "pessoa" quando tem consciência e capacidade de realizar planos de vida. Se não tem, como um bebê ou um velhinho com Alzheimer, "não são pessoas", e portanto podem ser terminados sem conflito ético. Não seria assassinato, seria apenas "aborto pós-nascimento", entendem?
O paper causou tanto escândalo que foi retirado de circulação, e a autora chegou a sofrer ameaças. Mas ela não se arrependeu. Eis aqui um trecho do que ela diz:
Não podemos dizer que um recém-nascido tenha objetivos, pois o futuro que imaginamos para isto [ela usa "it" para a criança] é apenas uma projeção de nossas mentes sobre suas vidas potenciais. Por outro lado, não apenas objetivos mas planos bem concretos são conceitos que certamente se aplicam às pessoas (pais, parentes, sociedade) que poderiam ser positivamente ou negativamente afetados pelo nascimento dessa criança. Portanto, os direitos e interesses das pessoas reais [bebê não é uma "pessoa real"] envolvidas deveriam representar a consideração primordial em uma decisão sobre aborto e aborto pós-nascimento.
Já outra estudiosa de bioética, Anna Smajdor, apareceu dizendo que a gravidez é "barbárica" e uma "injustiça", e recomenda a ectogênese como solução para equalizar os sexos. Ectogênese é o ato de gerar uma criança fora do ventre. O conceito não é tão absurdo quanto parece, pois segundo os cientistas uma "barriga artificial" está atualmente em estudos. De novo, é o argumento feminista de que a gravidez, em vez de ser um fenômeno natural, seria uma crueldade impingida às mulheres, que as impede de serem iguais aos homens... Poxa, se as mulheres fossem iguais aos homens, seriam assim. Vai encarar?
Bem, eu acho que temas polêmicos devam ser discutidos, e como os novos conhecimentos de biologia e genética atualmente em estudos permitirão uma série de tecnologias antes impensadas, isto deve ser mesmo levado em conta. Posso até ver que temas como eugenia ou clonagem humana possam ser discutidos seriamente em um futuro não muito distante. Mas por que é que quase sempre tantos "bioeticistas" parecem ter essa obsessão mórbida em assassinar bebês e velhinhos, em acabar com as diferenças sexuais ou em relativizar/eliminar o conceito de "vida humana"?
Se é verdade que "nada existe na política de um país que antes não exista na sua literatura", é bem possível que estes artigos sejam apenas a preparação do terreno para algo que virá nas próximas décadas.
Cada vez mais a nossa sociedade vai se parecendo à do "Admirável Mundo Novo" de Huxley, com sua divisão da humanidade em castas genéticas, sua sociedade sem pais nem mães, sua sexualidade totalmente liberada, suas drogas gratuitas e pacificadoras para todo mundo. Quem ainda não leu, leia: é o futuro.
15 comentários:
Muito bom o texto. Lembre-se tambem que pessoas que dormem não tem planos para o futuro, logo poeriam ser abortadas.
Eu disse que os autores eram italianos, mas na verdade embora italianos trabalham em uma universidade australiana. Faz mais sentido: acho que na Itália isso nào seria publicado. Ou talvez sim, sabe-se lá, hoje em dia o progressismo maluco domina ovunque.
Esta resposta de um comentarista aos editores do jornal acadêmico que publicaram o artigo ficou boa:
While logic is certainly laudable, and academic freedom is certainly necessary, you cannot hide behind them when your publications evoke a justified ire.
There is no deep disorder in the world, Madame Savulescu. There is a deep disorder in academia that causes its participants and advocates to dismiss the disbelief of humanity at large. Academia is no longer a bastion of intelligence, nor is it a wellspring of knowledge. It is a clique of self-admiring, self-aggrandizing, self-proclaimed "intellectuals" that ignore the basic tenets of humanity at will, and contemn any who dare to criticize them with anything but the academically approved language and form that they (the intellectuals) propone.
I'm quite certain that you've been offended that some, not as liberal or educated as yourself, have dared to attack this article and, by extension or implication, your journal. However, if, as an academic, you were to withdraw from the microcosm of academia, you would realize that such reactions are not uncommon, even among liberals. When presented with something so outrageous, so sickening, so incredibly disturbing, strong emotions come to the forefront, and often they spill right out without any further thought.
While I don't intend to imply that the responses you've listed are logical or acceptable, I do intend to ignore all the subsequent frivolity you've written. Your journal published an extremely offensive—even if well-reasoned—article. You attacked the deepest held beliefs of the majority of humanity. You allowed an article to be published that advocates dispassionate violence against the most helpless of all human beings. Yet, somehow, all you're worried about is the "deep opposition" ... "to liberal values and fanatical opposition to" ... "reasoned engagement."
But I've said enough. Don't let me waste your time any longer. Please, Madame, pour another round for your ivory tower colleagues, and go back to the back-patting, the patronization of humanity at large, the narcissism with which you justify your every action, and ignore us, the fanatics that dare to believe that there are lines that should not be crossed, even in the name of academic freedom.
http://blogs.bmj.com/medical-ethics/2012/02/28/liberals-are-disgusting-in-defence-of-the-publication-of-after-birth-abortion/
Do artigo original:
if something went wrong during the delivery, or if economical, social or psychological circumstances change such that taking care of the offspring becomes an unbearable burden on someone, then people should be given the chance of not being forced to do something they cannot afford.
Em outras palavras, se você descobre que não pode sustentar a crianca, ou simplesmente decide que cuidar de criança é um pé no saco, seria permissível matá-la... Essas acadêmicos estão mesmo loucos.
E ainda:
Both a fetus and a newborn certainly are human beings and potential persons, but neither is a ‘person’ in the sense of ‘subject of a moral right to life’. We take ‘person’ to mean an individual who is capable of attributing to her own existence some (at least) basic value such that being deprived of this existence represents a loss to her. This means that many non-human animals and mentally retarded human individuals are persons, but that all the individuals who are not in the condition of attributing any value to their own existence are not persons. Merely being human is not in itself a reason for ascribing someone a right to life.
Ou seja, segundo eles, animais podem ser "pessoas", enquanto bebês não. A vida de uma vaca vale mais do que a de um bebê humano. É isso mesmo o que eles estão dizendo.
Muita gente conservadora já sabe que ao ouvirmos "direitos humanos" já é bom pegar a espingarda. Com bioética é a mesma coisa.
A foto da Francesca Minerva me fez refletir uma coisa: é lamentável ver pessoas tão lindas, mas tão sem conteúdo, informação, moral e tão frias.
Se bem que isso está ficando maior a cada dia que passa.
è espantoso que pessoas se digam progressistas quando querem impor uma ética pré-cristã, greco-romana, no século 21.
Mas, como sempre digo , é tudo problema do subjetivismo epistemológico, a insanidade moral de nossos tempos. Da vertente cienticista.
Sim, a Minerva é bonitinha. Pergunto-me se ela tem filhos ou pensa em ter.
Nas culturas pagãs ou pré-cristãs, o sacrifício de crianças era algo bem comum. A história da Bíblia de Isaac é quando se pôs fim nisso.
Nota: enganei-me ao dizer que o paper "saiu de circulação". Ainda está disponível online, e o editor escreveu um texto defendendo a sua publicação e acusando os críticos de (adivinhe) "racistas":
http://blogs.bmj.com/medical-ethics/2012/02/28/liberals-are-disgusting-in-defence-of-the-publication-of-after-birth-abortion/
Curiosidade, os autores são italianos e o editor é romeno (Julian Savulescu), mas todos moram na Austrália.
Pois eu penso o seguinte: só em nos dispormos a discutir esse tema, já damos a vitória à Minerva (coitada da Minerva original...).
Isso é evidentemente um bode na sala, seja para permitir o uso de "partes sobressalentes" dos fetos, seja para massificar o uso do abroto, seja para o que for. Não é uma proposição séria; qualquer aluno da segunda parte do ensino fundamental refuta cada um dos argumentos desses imbecis.
Por isso, é só um bode na sala - e está todo mundo comprando, vaidoso de poder rebater os argumentos e mostrar indignação. Não, não: eles no fundo não defender o direito de matar bebês, defendem um ou dois passos antes disso.
O que deveria ser feito era pedir ao editor e aos autores que passassem por exames psicológicos, para ver se ainda são senhores de suas razões. Se não forem, deveriam ser civilmente interditados. Se forem, deveriam ser processados por apologia ao crime. São as únicas coisas a fazer: debater com eles é dar-lhe a vitória.
Ao Anônimo acima,
De fato, o argumento de usar, gulp, partes sobressalentes dos fetos (órgãos e tecido para transplante) é apresentado no mesmo paper, positivamente, como opção. Talvez a intenção do paper seja exatamente essa. São bilhões de dólares em jogo...
http://www.dailymail.co.uk/debate/article-2108761/Killing-newborn-babies-perfectly-logical--thats-problem.html
Exato. O argumento do Reverendo Pitcher é bom, mas tem o defeito fatal de discutir a coisa toda, a despeito do último parágrafo.
E faltou dizer o óbvio: que as hipóteses de aborto é que estão enganadas e deveriam ser revistas: assim como é estúpido matar uma criança que está respirando o nosso ar, é estúpido matá-la quando ainda está na barriga da mãe.
O pressuposto do artigo da Minerva et caterva (desculpe, desculpe) é a possibilidade legal de aborto em várias situações - o que não é real, ainda, entre nós, e não sei como é na Austrália ou na Inglaterra.
Enfim, se se vai combater alguma coisa no péssimo artigo ítalo-australiano, são esses pressupostos e niente piú.
(O mesmo anônimo de antes).
concordo com esse anônimo aí.
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