Não sei se vocês sabem, mas em dezembro deve sair o novo filme do Spielberg baseado nas "Aventuras do Tintin". Não sei se o filme é bom, temo que não; os quadrinhos originais são ótimos.
Tudo o que sei sobre a América Latina aprendi lendo Tintin. Para quem não leu, a história em quadrinhos mostra um continente no qual ditadores se revezam no poder através de revoluções ou eleições sem que nada mude, indígenas primitivos andam sempre alcoolizados ou brigando entre si, e a pobreza e a miséria espiritual é sempre a mesma, não importando o governo que esteja no poder.
Tintin anda sempre armado e adora suas armas. Não sei quais eram as leis de porte de arma na Bélgica entre os anos 30 e 50, mas não há um episódio em que Tintim não esteja ao menos em uma cena com uma pistola na mão, enfrentando bandidos. E isto em um livro para crianças.
Já o Capitão Haddock está sempre fumando e bebendo. Hoje a patrulha antitabagista não o perdoaria. Também a Associação Protetora dos Animais não perdoaria Tintin pelos vários animais que mata a tiros, de serpentes a crocodilos a rinocerontes.
Quase não há personagens femininos em Tintin, com exceção da Castafiore, por isso alguns acusam o livro de ser também "sexista". Besteira. Em todo filme americano de ação, sempre colam uma história de amor boboca. (Hoje, com o politicamente correto, a mulher não é apenas interesse amoroso como muitas vezes dá mais porradas em bandidos do que o herói). Graças a Deus Hergé não foi por esse caminho.
Tintin é de direita? Hergé, autor dos quadrinhos, foi até acusado de colaborador nazista. Exagero. Embora tenha permanecido na Bélgica durante a ocupação, a verdade é que ele não é nem racista nem antisemita nas obras. Se "Tintin na África" foi acusado de racista, bem como otros livros mostrando indígenas sul-americanos, a verdade é que ele mostra tais povos de forma positiva: talvez simplórios, mas de bom coração. Aliás, ao contrário do que poderia parecer, com o tempo o autor foi ficando cada vez mais politicamente correto, chegando a modificar versões anteriores de livros para que ficassem mais adequados aos novos tempos. Existe uma interessante página sobre isso comparando as imagens das diversas edições, que pode ser vista aqui (em francês).
A primeira história de Tintin, e a única que jamais foi redesenhada ou mesmo colorizada, foi "Tintin no País dos Sovietes", desmascarando a União Soviética. Se em termos de arte e mesmo de história é bem mais primário do que os outros livros posteriores, não deixa de ser um interessante relato da época. Pode ser facilmente encontrado em pdf online, assim como os outros livros.
Os progressistas, no entanto, jamais perdoaram Hergé por ser anticomunista na juventude. Mesmo um jornalista brasileiro em texto recente quando da publicação no Brasil em 2009, acusou "Tintin no País dos Sovietes" de "expor um preconceito primário contra o regime comunista". Preconceito? Sim, "preconceito" contra a fome massiva, a exploração, as execuções em massa, etc...
Leiam Tintin, ou dêem a ler para seus filhos (ainda que hoje eles estarão provavelmente mais interessados em videogames). É instrutivo.
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
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25 comentários:
O mais incrível é o idiota de nome Mauricio ter escrito isto no natal de 2008, quase 20 anos depois da queda do muro, mas como foi redator-chefe da CartaCapital, acho que está explicado.
Belos posts, acabei de ler o Darwins Black Box (tradução). A caixa de cometarios do post do Darwin não funciona.
agora sumiu o post do Darwin...mas tava muito bom!
Em A Estrela Misteriosa Hergé é anticapitalista e anti-judeu, depois em outra edição o bandido de judeu passa a grego.
É. No original, o financiador da expedição adversária em A Estrela Misteriosa é um judeu americano, e a luta é entre a
"América" e a "Europa". Depois ele mudou o nome judeu para um outro nome menos judeu.
Mas o vilão grego, Rastapopoulos, que aparece em várias histórias, acho que nunca foi judeu, sempre foi grego mesmo. Alguns acusavam de ser um estereótipo antisemita pelo narigão, mas acho que os gregos também são narigudos, não?
O post sobre evolução estava sendo editado, agora voltou.
http://fr.wikipedia.org/wiki/L'%C3%89toile_myst%C3%A9rieuse
CHEST- é , parece que não é o Rastapopoulos.
É, em a "Estrela Misteriosa" o vilão não é o Rastapopoulos, mas um certo Bolwhinkel. Na versão de 1942, sob ocupação, o vilão é um "americano de New York" de nome "Blumenstein". E o conflito é entre os EUA e um consórcio de países europeus que incluem a Alemanha...
O livro pode ser visto como uma metáfora sobre a corrida nuclear (quem ia chegar a desenvolver primeiro a bomba atômica, alemães ou americanos?)
Fora esse caso, não há outros exemplos de caricaturas antisemitas. Mesmo o Irgun (que aparece na versão original de "No país do ouro negro", desaparecendo em versões posteriores) é mostrado de forma neutra, nem positiva nem negativa.
Em outros livros aparecem vilões alemães (Dr. Müller), vilões árabes, vilões japoneses (O Lótus Azul). Aliás, se tem um livro que me pareceu mostrar uma imagem bem negativa de um povo, foi a visão dos japoneses em "O Lótus Azul". (Os chineses são mostrados de forma positiva).
Acho Tintin interessante por todas as referências históricas, além das histórias em si.
Temo que a versão do Spielberg vá ser uma holywoodização barata, e talvez até inventem de colocar uma história de amor no meio...
Tintin é o fino! Estórias sensacionais, sem pczismo, e de uma riqueza de detalhes fora de série! Se ele é de direita é proque Hergé não se vendia a palhaçada comunista que dominava a europa nos anos 30.. se fosse nos dias de hoje ele seria acusado de estrupo por qualquer "coitadinha" "afro-descendente" amiga de traficantes...
Gosto do Tintim, Haddock, Dupont, Dumont, professor Girassol, da Bianca - ah como eu rio de me ver tão bela neste espelho -- Castafiore, Rastapopulos e daquele general de américa latina de bananas.
Gosto do Tintim, do capitão Haddock, do Dumont, Dupont, Professor Girassol, Bianca - ah, como eu rio de me ver tão bela neste espelho -- Castafiore, General Alcazar, Rastapopulos. E a minha história favorita é o Cetro de Otokar!
Eu fui muito influenciado pelo Lotus Azul.
Poxa, nem sei qual o meu preferido, quando criança gostava muito dos da viagem à Lua e do Vôo 714 para Sydney, mas gosto de quase todos. Meu personagem preferido sempre foi o Capitão Haddock.
Mr. X:
Bração aí.
Dê uma passada lá no pedaço quando quizer desabafar:
http://vo1cefa2la.wordpress.com/
:-)
Olá Proftel!
Poxa, que idéia bacana! E tão o Surfando, o HRP e todo mundo lá pelo jeito hein? Vou aparecer sim, aliás tou deixando um comentário lá.
Abraços
Mr X, li seu comentario a meu respeito lá no blog dos esquerdoidos, mas não dá para participar de blog com bloqueio, perde o ritmo. Ainda mais que a turminha usa a censura mesmo.
Mas aproveito aqui para comentar uma frase típica:
"Os objetivos são iguais mas contrários, um quer expulsar o outro, mas os Palestinos arregaram, e já aceitam os dois estados, o que Israel não quer."
chest- isso é uma mentira, são os palestin os que dizem não há décadas e se negam a aceitar Israel.
Cultura de gibi!
Realmente é bem por aí a tal de "cultura" da direita.
Bush que o diga!
É verdade Chest, os palestrinos - aliás os árabes em geral - nunca vão aceitar Israel. É mentira que queiram a solução de "dois Estados". E blog de esquerda sem cencura não existe, veja o Sakamoto.
Cultura de gibi? Bem, sempre é melhor do que ler Karl Marx, Foucault, Adorno, etc...
Tintin não é formação cultural (apenas), mas essencialmente formação moral.
"chest- isso é uma mentira, são os palestin os que dizem não há décadas e se negam a aceitar Israel."
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aceitar israel? como eles vão aceitar algo construído em cima de terras obtidas sob continuas desapropriações?
No século XX a população aumentou muito, houve migração tanto de judeus quanto de árabes para lá. O conceito de "palestino" não existia, eram todos árabes, o mesmo povo que morava e mora na Jordânia e no Egito.
No mais, o Líbano e o Kosovo foram um dia majoritariamente cristãos. As populações mudam. A Europa também vai mudar, em parte graças a migração para lá dos tão amados "palestinos". Como dizia aquele personagem do Chico Anysio, "tá com pena? pega ela pra ti". Triste, mas real. Dois povos, dois estados, quem sabe um dia. Não acabaram de anunciar o pedido de reconhecimento na ONU?
Curiosamente, na primeira versão de "Tintin no país do ouro negro", há várias referências ao conflito entre árabes, judeus e britânicos no período pré-1948.
E os terroristas judeus de Tintin no Páis do Ouro Negro? Como será que estão re-escritos nos dias de hoje para serem politicamente corretos.
Olá RQ,
Os terroristas do Irgun, bem como qualquer referência à Palestina sob domínio britânico, foram extirpados nas edições posteriores a 1948, a pedido do editor. Não por antisemitismo, mas por serem considerados ultrapassados, já que Israel já existia e não havia mais ingleses por lá.
Não conheço o suficiente a ponto de afirmar que de fato as histórias no Congo e na URSS foram tendenciosas, mas achei a abordagem do assunto no post sim muito mal-elaborada.
Quanto ao argumento de se a HQ era ou não sexista, vale mais dizer que naquele periodo as mulheres tinham menor relevância em assuntos grandiosos do que comparar a dita historinha com outras produções comerciais, no caso as dos anos que vivemos.
Imaginei no princípio que se tratava de um blog informativo e argumentativo, mas vejo que é somente um espaço pessoal.
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