domingo, 10 de outubro de 2010

O fim da era do escândalo

Após a propaganda ecológica tiro-no-pé dos britânicos, vi agora uma outra propaganda supostamente chocante, esta contra a obesidade. A propaganda, de novo apostando na linguagem do choque, compara o ato de injetar heroína com o ato de comer um hambúrguer. É uma das propagandas mais idiotas de todos os tempos, até porque os atores são magros, bonito e saudáveis. A junk food não deveria fazer mal?

Sempre tive dúvidas se essas propagandas enfatizando imagens fortes ou grotescas funcionam. São especialmente comuns em campanhas públicas contra as drogas, a AIDS ou o aquecimento global. Jamais vi algum estudo comprovando que tivessem algum efeito; na minha opinião, o seu efeito provavelmente é exatamente o contrário. Por exemplo, após ver a propaganda acima, fiquei com vontade de comer um hambúrguer, coisa que não faço há muito tempo.

No mundo da suposta "arte" moderna, ocorre a mesma coisa. Há tempos que a única linguagem que os "artistas" parecem entender é a do escândalo. E, no entanto, o público cada vez menos se interessa por esse tipo de arte. Na Bienal de São Paulo, que está ocorrendo agora, o escândalo da vez foi uma obra com urubus, que terminaram tendo sido retirados por ordem do IBAMA. A maioria dos comentários nas notícias é de críticas veementes ao artista.

Na boa: a arte moderna com suas instalações e seus ready-mades e seus épater la bourgeousie já encheu. Duchamp enviou seu urinol para o concurso há 93 anos, acredite. Quase um século! E os artistas de hoje continuam repetindo o mesmo velho truque. Chega! Cansou!

A melhor performance artística ocorrida recentemente foi quando uma faxineira, por engano, jogou fora uma das peças da coleção de uma galeria de arte moderna, achando que fosse lixo. De fato, era. Seu erro foi não ter jogado fora o restante das obras do local. É importante reciclar.

E no mundo pop? Pior ainda. É quase engraçado ver imbecis como Lady Gaga e similares tentando tudo o que podem para chocar um público bocejante, completamente anestetizado, sem conseguir. Who cares?

Escandalizada ficava a sua avó. Hoje, o suposto escândalo só causa tédio. Ou, curiosamente, é o anti-politicamente correto a única coisa que, hoje, consegue escandalizar. Que tal este comercial dos Flinstones fumando e sendo abertamente "sexista"? Hoje em dia, jamais poderia ser feito, pois de fato chocaria as sensibilidades modernas, que odeiam cigarro e qualquer coisa que indique que não somos todos iguais.


8 comentários:

Klauss disse...

"A propaganda, de novo apostando na linguagem do choque, compara o ato de injetar heroína com o ato de comer um hambúrguer."

Eu ainda não consegui enxergar o que esse povo vê de errado em hamburguer!

É só carne, salada e pão! Quer alimentação completa mais compacta que essa?

Na boa, esse negócio de tratar o hamburguer como se fosse um grande vilão já é conspiração...

Klauss disse...

Ah, sim! A propaganda realmente é o fim da picada. E novamente crianças usadas nelas...

Aliás, como disse um amigo meu esses dias, tem duas coisas que não são mais perdoáveis nos dias de hoje: ser fumante e ser gordo. São os maiores pecados que se pode ter!

Agora, ecoterrorismo, políticos que fazem promessas impossíveis de serem cumpridas, anti-sionismo, isso são apenas "idéias" vinda de pessoas, no fundo, "maravilhosas"... :-/

Chesterton disse...

Alguem lembra de uma propaganda onde uma árvore chorava aos som de uma moto-serra?

Mr X disse...

De fato, o hamburguer não é problema. Problema são as batatinhas fritas que acompanham.

Agora que estou pensando, como os progressistas costumam ser a favor da liberação das drogas, será que não é uma campanha a favor da heroína, dizendo que não é lá muito pior do que um hamburguer?

Árvore chorando, acho que lembro vagamente.

Esta aqui até que é engraçada:

http://www.youtube.com/watch?v=R3FqEkMnD9A

Klauss disse...

"Agora que estou pensando, como os progressistas costumam ser a favor da liberação das drogas, será que não é uma campanha a favor da heroína, dizendo que não é lá muito pior do que um hamburguer?"

X, pior que acho que esse seu tiro não está muito fora do alvo não!

Eu tive uma ex-namorada que era professora (ainda deve ser), que fez uma vez, pela rede de ensino municipal um curso sobre "como lidar com as drogas na escola".

O detalhe é que eles classificavam como droga inclusive o cafezinho e a carne vermelha.

Na ocasião eu disse a mesma coisa que vc disse na citação acima: Agora já estão relativizando o conceito de droga para, ao colocar no mesmo patamar a cocaína e a carne vermelha ou o cafezinho e depois clamar pela liberação das drogas em geral!

Vamos e venhamos, é uma manipulação semântica que pode envenenar muita gente, como diria o Cervantes, "com pouco sal na moleira".

MariEdy disse...

Olha, a partir do momento em que médicos saíram a campo apra dizer que ovo combate o colesterol ruim - o que cazzo isso signifique - e que a coffee a day keeps alzheimer away, eu deixei de confiar em médicos. Bem, não no ortopedista que me atendeu no SUS e disse que não me mandaria fazer fisioterapia com o profissional do SUS porque demoraria muito E ele era MUITO RUIM. Hamburguer é bom. É só não comer doze a cada refeição, né?

Chesterton disse...

essa propaganda de camisinha lembra a piada do Juquinha. O pai da namorada o convida ´para jantar e aí, pouco antes, papo vai, papo vem o veio pergunta:
- então, o que você fazia antes de conhecer minha filha?
- ora bolas, batia punhetas.

http://www.youtube.com/watch?v=5jDfTxc43Z4&feature=related

Gunnar disse...

X, é velha a tática da mentalidade revolucionária de usar discursos totalmente antagônicos.

Alguns exemplos: defendem o sex lib, o movimento gay, o feminismo, mas apóiam regimes islâmicos onde tais praticas não só são impensáveis como inclusive são punidas com a morte.

Defendem a liberdade de expressão e idolatram ditaduras como a Cubana. Condenam as guerras e idolatram o Che, assassino frio e inescrupuloso.

Se dizem defensores da igualdade e inimigos da discriminação, mas não hesitam em classificar e satanizar grupos dos quais não gostam, como p.ex. os judeus, os americanos, a "burguesia branca", etc.

Parece não fazer sentido, mas faz. Olavão explica com mais detalhes...