Eu já tive esse sonho, e gostei bastante.
Porém, como tantas outras coisas na vida, é -- não digo que totalmente, mas em parte - uma miragem, uma ilusão.
Nem digo que seja impossível: os povos europeus normalmente fizeram um bom trabalho de intercâmbio artístico e cultural ao longo dos séculos -- quer dizer, isto quando nào se envolviam em violentas guerras fratricidas entre si, não é mesmo?
E quando o intercâmbio vira global, as possibilidades de conflito pioram ainda mais.
A imagem que a maioria das pessoas tem de multiculturalismo é esta.
Lamentavelmente, o que vemos na prática é mais parecido com isto ou isto ou isto.
A esquerda tem maior capacidade para ver as coisas de uma forma abstrata, idealista, sem porém examinar a prática ou querer acordar do seu sonho para a dura realidade. E assim, muitas vezes, o sonho vira pesadelo.
E, no entanto, uma coisa curiosa está acontecendo hoje em dia, mesmo dentro da própria esquerda. Não sei se é um conflito de gerações, entre os progressistas velha guarda e os progressistas mais radicais de hoje. (Não é de hoje que as revoluções matam suas próprias crias).
Porém, mais de uma celebridade de esquerda já surpreendeu-se recentemente ao ser atacada por ser "homófoba" ou "racista", quando juravam estar do lado "certo".
Primeiro foi a Meryl Streep, atacada como "racista" por ter dito que "todos viemos da África".
Depois, Fernanda Torres também foi atacada por ser "racista" e "anti-feminista" por escrever um texto a favor das mulheres.
Ambas tiveram que se ajoelhar e pedir desculpas. Se nem os progressistas conseguem ficar em paz entre si, como querem que o mundo inteiro consiga?
Bem, é verdade que, antigamente, ser de "esquerda" ou de "direita" era tomar posições políticas. Hoje não. Se uma certa pessoa é "branca" e "cis" ("palavra" ridícula que sequer existia até ontem), ela já não pode entender a "dor das minorias". Então:
- Se um homem não se posiciona como "feminista" e não apoia o último protesto histérico da semana, já virou um "machista".
- Se uma feminista radical não inclui os transexuais em seu manifesto, esqueça - é uma "transexofóba".
- Se um branco ou uma branca (ou nem isso, basta ser mestiço claro) diz... bem, neste caso nem precisa dizer ou fazer nada - é racista por definição. Já para o paredão!
É realmente fascinante. E vejam que isso aconteceu bem recentemente, nos últimos cinco ou dez anos apenas, pois não lembro que fosse assim antes.
Bem, não sei, é estranho, mas talvez isso seja bom.
Quer dizer, se não adianta votar pelo casamento gay que virão com o "poliamorismo" ou a "zoofilia", se não adianta dar welfare pois vão querer reparações, se não adianta dar "cotas" pois também querem bolsa de estudo, se não adianta gostar da cultura deles pois é "apropriação", se não adianta chamar de "afro-americano" ou "hispânico" em vez de negro e latinoamericano pois acham que existe "racismo institucional", se não adianta ser contra a "islamofobia" mas tem também que dar cidadania plena para cidadãos-bomba, se não adianta construir mesquitas mas tem também que financiá-las, se não adianta construir museu do holocausto mas também precisa apoiar toda e qualquer gerra no oriente médio, se não adianta o homem branco se ajoelhar e pedir perdão por todos os crimes possíveis e imagináveis, bem...
...então talvez o branco então finalmente decida que o melhor mesmo é dar um gigantesco "foda-se" e cair fora, ou expulsar os descontentes:
"Vamos tesouro, não se misture com essa gentalha."
Por outro lado... o homem branco tampouco é aquela maravilha, e de certa forma é o próprio culpado pela sua desgraçae, e se não estivessem brigando com outros povos, os brancos estariam brigando entre si, como sempre estiveram por vários séculos.
É como dizia Mark Twain, "não me importa se o sujeito é preto, branco ou amarelo. Tudo que preciso saber é que ele é um ser humano - isto é suficiente, não existe nada pior."
(Bem, sem querer contrariar, às vezes penso que a sociedade das formigas é quase tão cruel quanto a humana, ao menos para os coitados dos machos, mas elas tem a desculpa de não serem seres com raciocínio muito elevado. Se bem que, será que nós somos? E as formigas têm uma organização social mais eficiente.)
No mais, Bárbara tem razão, ando falando bobagem demais, preciso é fechar o blog, ou então virar colunista da Veja. Já tenho até um título para o primeiro texto: "Sim, Virgínia, o multiculturalismo é possível."
Amigos para sempre. |