sexta-feira, 23 de julho de 2010

O fim da democracia?

Churchill famosamente observou que a democracia era a pior forma de governo, com exceção de todas as outras. Ele tinha razão. Porém, no momento em que vivemos, há muita raiva, aqui e ali, contra a classe política, que talvez termine se traduzindo em raiva contra todo o sistema democrático.


Bell é uma cidadezinha californiana de 38 mil habitantes, a maioria de origem mexicana. A média salarial é de 29 mil dólares anuais, baixo para os padrões americanos. Mas os salários de seus funcionários públicos? Bem, um ganhava 800 mil dólares anuais. Outro, meros 457 mil. Já o prefeito tinha um laboratório de produção de drogas em sua casa.

Corrupção a níveis brasileiros, ou vá lá, mexicanos, já que os envolvidos eram de origem latina também.

É um caso menor, mas representativo da crescente desconexão existente entre a classe política e o povo, à qual aludi no post anterior. Na pesquisa que mencionei informa-se que 54% dos políticos acreditam que o país está indo em uma boa direção, contra apenas 24% da população. O povo confia cada vez menos nos políticos, e estes cada vez menos representam o desejo da população.

Gasto do dinheiro público, corrupção, nepotismo, políticos que dizem uma coisa e fazem outra. Soa familiar?

A diferença é que, enquanto os brasileiros reagem reelegendo o PT, muitos americanos estão em polvorosa pré-revolucionária. E não é apenas contra os Democratas, não. O fato é que os Republicanos não são lá muito melhores do que os Democratas: também aumentam os gastos públicos, tampouco controlam a imigração, também são corruptos, etcétera. São apenas a opção menos pior.

Este artigo de Angelo Codevilla que é longo e complicado e em inglês, é no entanto a melhor análise sobre a política americana recente, e em especial sobre o curioso fenômeno do surgimento de uma nova classe social, uma elite burocrática que se considera a nova aristocracia. Como toda aristocracia que abusa de seus poderes, isto pode terminar em guilhotina e revolução.

A pergunta que fica é a seguinte: será que a democracia é mesmo a melhor forma de governo? Ou é apenas uma fase transitória, intermediária entre duas tiranias?

A Democracia, afinal, tem inúmeras desvantagens. O político, dependendo do voto do público, mente sem parar. O crescimento do Estado torna-se inevitável: políticos vendem benefícios, e os eleitores querem mamatas. Com isso, uma porção cada vez menor da população termina sempre sustentando uma outra parte cada vez maior. No Brasil, já é mais de metade da população que depende do Governo para seu sustento. 

Na Venezuela, a mudança de democracia para demodura já aconteceu. No Brasil, quando vai ser? E nos EUA?

"A Republic, ma'am, if you can keep it," disse Benjamim Franklin sobre o sistema de governo americano, que de acordo com o vídeo do link não seria uma Democracia, mas uma República. Democracia, afinal, é apenas a tirania da maioria sobre a minoria.

E a Monarquia? Recentemente houve discussões aqui no blog sobre a antiga monarquia brasileira, alguns contra, outros a favor. A vantagem da monarquia como sistema é que o governante, não dependendo de eleições a cada quatro anos, pode se concentrar em projetos de longo prazo. A desvantagem é a mesma: um mau governante não pode ser retirado do poder em meros quatro anos.

Uma monarquia pode ser tão ou mais corrupta do que uma democracia, isso é certo, portanto nesse quesito tampouco vejo vantagem alguma. Uma possível vantagem da monarquia seria a maior identificação popular. Ainda hoje, histórias de reis e príncipes e princesas interessam mais ao povão do que histórias de deputados e senadores. 

Que outra opção há? Um governo não-eleito de tecnocratas? No Brasil, há quem tenha saudade da ditadura militar, observando que naquele período havia crescimento econômico e bem menos violência urbana. É verdade, mas as razões são outras, provavelmente pouco relacionadas com o sistema de governo.

Uma comissão de sábios? Um rei-filósofo, como queria Platão? Mas quem é que vai decidir quem é o sábio que merece governar? 

É, não tem jeito. Ficamos com a democracia mesmo. Mas será que ela vai sobreviver aos novos populismos do século 21?

9 comentários:

Gerson B disse...

Lembrete: não começar um sábado lendo o Blog do Mr X.

Uma overdose de realidade tão cedo pode ser deprimente. Avassaladora.

Parabens, ótimos artigos. Mesmo que eu às vezes discorde (não é o caso agora) de alguns pontos.

Anônimo disse...

Nesse post você fala de como o sistema é insustentável, aí no próximo post você já o defende, realmente não entendo, que o Estado suga as energias do indivíduos, torna os serviços mais caros e ineficientes, é óbvio, e examinando com sinceridade qualquer um pode chegar a tais conclusões, aí alguém retruca, e como ficaria os direitos das pessoas, o Estado não pode criá-los, sua função é só assegurá-los, coisa que qualquer pessoa pode fazer a si mesmo, desde que tenha disposição para tal, essas disparidades salariais entre funcionários públicos e funcionários privados é uma boa amostra do problema, mas fazer o quê, o funcionários estatais além de ineficientes, têm o status de autoridade e não de prestadores de serviços. Não há nenhuma evidência, teoria, argumento que convença que o Estado é necessário.

Silvio disse...

X, no clássico e hilário gibi 'Tintin no País dos Sovietes', de 1930, aparece essa modalidade: Democracia bolchevique

Chesterton disse...

você anda lendo Popper?

Rolando disse...

"Democracia, afinal, é apenas a tirania da maioria sobre a minoria"

então tudo o que discutimos aqui sobre minorias cada vez mais poderosas em detrimento do desejo comum da maioria era pura embromação?

Anônimo disse...

"então tudo o que discutimos aqui sobre minorias cada vez mais poderosas em detrimento do desejo comum da maioria era pura embromação?"

Claro, só agora vocês perceberam?
O dilema aqui era sobre porque as minorias supostamente estavam dominando a maioria, mas quando se trata do contrário, muitos daqui não têm o menor escrúpulo, contanto que a idolatrada democracia funcione, tudo é permitido.

Mr X disse...

Quem fala isso é o vídeo, não sou eu.

Klauss disse...

Acredito numa espécie de governo dos melhores.

A pergunta sobre como decidir quem é sábio e quem não é, é um problema cultural contemporânero.

Como já vi o Olavo dizer: não há nada que exista na política de um país que não existiu na cultura 30 ou 40 anos antes.

A verdade é que essa derrocada radical da democracia é conseqüência do Flower Power, Black Power, Women Power, Gay Power e todas essas bobagens.

Num ambiente cultural com a honestidade, por exemplo, da filosofia escolástica, um possível governo dos sábios não seria tão impossível.

Renato disse...

Uma medida simplista para saber é observar se: Se a galera do (insira aqui a ideologia que você detesta) tem realmente espaço falar e produz algum impacto, mesmo que não seja o por eles desejado, então está para o lado da democracia.

Se o lado deles ou seu lado tem espaço mas não se faz ouvir aí o que temos é indigência política ou preguiça mesmo. O que significa é que ninguém levanta a bunda da cadeira para fazer algo, democracia mais que falar e votar demanda participação.