quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Você sofre de Conservofobia?

Assisti o "Django Unchained" no outro dia. Achei bem fraco. Aliás, provavelmente será uma das únicas vezes que concordo com o Website dos Socialistas Internacionais, que tampouco gostou do filme. E os leitores, gostaram?

É curioso que o filme seja visto por muitos críticos e espectadores como um retrato ou uma discussão importante do período da escravidão, quando o filme é tão "histórico" quanto "Bastardos Inglórios" ou "O Hobbit". Assim como o filme anterior de Tarantino, baseado em uma vingança de judeus contra nazistas que nunca aconteceu nem poderia ter acontecido dadas as circunstâncias, "Django" é baseado em uma fantasia de vingança, dos negros escravos contra os brancos, que também é totalmente irreal. Um negro sozinho armado não duraria minutos naqueles tempos.

Mas a intenção de Tarantino, além de seus costumeiros banhos de sangue, é ridicularizar os brancos sulistas -- e depois trucidá-los. Sobra até para uma mulher branca desarmada cuja morte é usada como mera gag cômica, ou supostamente cômica.

Os brancos sulistas são tão racistas que, para achar alguém daquele período que não fosse racista e violento contra os negros, Tarantino teve que colocar no roteiro um alemão (que, naturalmente, são as pessoas menos racistas da face da Terra). Além de maus, os sulistas são também patéticos na sua incompetência, como mostra a cena, também cômica, da Klu Klux Klan.

(Não que não houvessem brancos sulistas maus, mas custo a crer que todos o fossem, e em modos tão caricatos. Até "E o vento levou" apresenta uma visão mais humana e mais realista do Sul dos EUA naqueles tempos.)

Bem, isso tudo me fez pensar uma coisa curiosa: os esquerdistas tem um termo para qualquer um que se volta contra suas classes protegidas. Quem odeia os gays é homófobo, quem odeia os não-brancos é racista, quem odeia os muçulmanos é islamófobo, etc etc. Porém, existe um ódio que é totalmente permitido, o ódio aos conservadores. Um progressista pode até desejar em voz alta a morte deles, que ninguém vai se importar. Não existe "conservofobia".

Isso me lembrou o seguinte comentário que li por aí na web:

Toda sociedade tem ante si um ideal da sociedade perfeita que deveria ser, e toda sociedade, de modo a chegar até esse ideal, precisa perseguir aqueles que são contrários a tal ideal. Porém, mais uma vez, a profunda mentira da sociedade liberal se manifesta no fato de que nega a perseguição que realiza contra seus  mais odiados inimigos, ou seja, aqueles contrários ao ideal liberal. A negação do status de perseguido ao inimigo - além da ridicularização daqueles que se clamam perseguidos - são elementos adicionais para intensificar a perseguição. 

É isso mesmo. Quanto mais o conservador reclama (por exemplo, imagine que algum sulista reclamasse do modo como seus antepassados são retratados no filme), mais ele é ridicularizado. Ao mesmo tempo em que o progressista tem passe livre para odiar o conservador, esse mesmo ódio é negado pelo esquerdista, e até mesmo transformado num suposto ódio que viria do conservador -- que é retratado como violento, odioso, etc. É aquela velha história do "xingue-os do que você é, acuse-os do que você faz" que o Olavo falava e que até os comunas da Velha Guarda já praticavam, mas que hoje tornou-se um hábito tão comum e arraigado que o esquerdista nem ao menos se dá conta mais da contradição daquilo que prega.

Nesse caso, um termo como "Conservofobia" (ou algum termo mais gramaticalmente adequado, caso alguém saiba a palavra grega para "conservador") poderia ser utilizado como forma de defesa.



terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A Nova Revolução Francesa

Um milhão de pessoas protestaram estes dias contra o casamento gay na França. (Um milhão segundo os organizadores, segundo a mídia foi entre 340 mil e 800 mil).

Epa. Contra?! Pois é.

A França é um país curioso. Alguns dizem que seja o mais perdido de todos os países ocidentais e o que primeiro sucumbirá ao islamismo e à imigração, mas eu duvido. Os franceses sempre nos surpreendem. Os franceses são um povo bipolar, passando da revolução à contra-revolução em poucas semanas. Eles nos deram o Iluminismo, a Revolução Francesa, as comunas de Paris, Rousseau, Voltaire, Montaigne, Napoleão, Maria Antonieta e todo o seu contrário também.

Agora, duas interessantes frontes da luta se abrem nessa mesma França: foi o primeiro país a protestar publicamente com uma ação coletiva e nacionalista contra a construção de uma mesquita, chamando claramente a atenção para a batalha de Poitiers, e agora é o primeiro país que protesta energicamente e massivamente contra o casamento gay e, mais especificamente, contra a adoção de crianças por gays, que também está contemplada na nova lei de Hollande.

Também é isso o que mais me incomoda, a dizer a verdade. Que os gays façam sexo entre si, ninguém vai impedir. Porém, que adotem crianças me parece um precedente perigoso, e que leva mais em conta o desejo de normalização dos gays do que o bem-estar da criança. Não sabemos bem quais serão as conseqüências disso. Por que utilizar crianças como cobaias de um experimento social?

O governo socialista minimizou: "É apenas a França branca e católica que está protestando. A lei seguirá adiante." Ah, sim, "apenas" a França branca e católica, isto é, a França dos franceses tradicionais que lá viveram por séculos. Para o governo Hollande, brancos e católicos são inimigos; já sabíamos disso, mas é bom ouvi-lo da boca dos próprios representantes governamentais.

Uma coisa que também é interessante é como a mídia apresenta os protestos. Dizem que são manifestantes contrários ao "casamento para todos". É uma forma sutil de pintá-los como anti-igualitários malvados, mas, na verdade, foi a esquerda quem modificou a palavra "casamento" para significar a união de qualquer coisa com qualquer um; durante séculos, sempre significou apenas a união de um homem com uma mulher.

No mais, considerando que feministas e esquerdistas estiveram ao longo do século XX bradando contra o casamento e considerando-o como "opressão patriarcal", isto é um pouco como se os escravos no século XIX, em vez de gritar, "liberdade", começassem a pedir "escravidão para todos!"

Não sei se é minha impressão, mas parece que estamos vivendo em um mundo cada vez mais conflituoso, e talvez tudo comece a pegar fogo na França, que sempre foi o país mais chegado a essas coisas. Cabeças ainda irão rolar.




domingo, 13 de janeiro de 2013

Poema do Domingo

IL N'Y A PAS D'AMOUR HEUREUX

Rien n'est jamais acquis à l'homme Ni sa force
Ni sa faiblesse ni son coeur Et quand il croit
Ouvrir ses bras son ombre est celle d'une croix
Et quand il croit serrer son bonheur il le broie
Sa vie est un étrange et douloureux divorce
          Il n'y a pas d'amour heureux
Sa vie Elle ressemble à ces soldats sans armes
Qu'on avait habillés pour un autre destin
A quoi peut leur servir de se lever matin
Eux qu'on retrouve au soir désoeuvrés incertains
Dites ces mots Ma vie Et retenez vos larmes
          Il n'y a pas d'amour heureux
Mon bel amour mon cher amour ma déchirure
Je te porte dans moi comme un oiseau blessé
Et ceux-là sans savoir nous regardent passer
Répétant après moi les mots que j'ai tressés
Et qui pour tes grands yeux tout aussitôt moururent
          Il n'y a pas d'amour heureux
Le temps d'apprendre à vivre il est déjà trop tard
Que pleurent dans la nuit nos coeurs à l'unisson
Ce qu'il faut de malheur pour la moindre chanson
Ce qu'il faut de regrets pour payer un frisson
Ce qu'il faut de sanglots pour un air de guitare
          Il n'y a pas d'amour heureux
Il n'y a pas d'amour qui ne soit à douleur
Il n'y a pas d'amour dont on ne soit meurtri
Il n'y a pas d'amour dont on ne soit flétri
Et pas plus que de toi l'amour de la patrie
Il n'y a pas d'amour qui ne vive de pleurs
          Il n'y a pas d'amour heureux
          Mais c'est notre amour à tous les deux
(Louis Aragon)

P.S. Este post é apenas para a Confetti, mas para os outros tem uma bela versão do poema musicado pelo George Brassens, aqui cantado pela Barbara e aqui pela Françoise Hardy

O silêncio de Deus

Por motivos que só Deus sabe, tem havido muita discussão no último post sobre a existência ou não de Deus. Um dos comentaristas, acho que o Almeida, disse que talvez tudo não passe de um "acidente químico".

Devo confessar que essa visão me preocupa. Um acidente químico? Uma das coisas que eu acho curiosa é a seguinte. A ciência busca respostas, e busca ser objetiva, busca entender as leis que existem por trás do funcionamento do Universo, procura lógica e racionalidade em tudo. Mas aí, na mais fundamental das questões, diz: "foi acaso". Ou: "foi um acidente". Pode ser, mas não me parece uma resposta satisfatória.

Se o Universo existe, deve haver alguma razão. Qual é, não sei ainda, mas um mero acidente ou fruto do acaso me parece que seria algo bem estranho. É como se, no meio de um ferro velho, surgisse do dia para a noite um Boeing 787, e a explicação fosse apenas, "foi um acidente", "foi o acaso", "sei lá, apareceu aí, pô, me deixa dormir".

Entretanto, a impressão que temos enquanto seres humanos perdidos no Universo é de um avanço, de algo que vai justamente evoluindo e sendo construído, do Big Bang a um complexo sistema de galáxias, da sopa primeva à vida, das formas de vida mais primitivas às mais avançadas, do mais básico ao mais complexo. Não me parece que isso possa ser mero fruto do acaso, mas, como posso saber?

É possível que o nosso cérebro seja ainda demasiado precário para compreender essas Grandes Questões. Talvez daqui a mais alguns bilhões de anos, tenhamos evoluído o suficiente para entender o nosso destino.

Ou isso, ou tudo é uma grande piada absurda, como naquele romance do Kurt Vonnegut no qual ao final se descobre que toda a existência do planeta Terra e da História da humanidade não passava de uma mensagem de um alienígena a outro pedindo socorro por ter se perdido. (De qualquer modo, mesmo que tivéssemos sido criados por aliens, ficaria a pergunta sobre quem criou os aliens).

Ou então nunca saberemos, o que talvez seja pior.


sábado, 5 de janeiro de 2013

Ano Novo, Vida Velha

Como foi o Ano Novo para os leitores? Passada a ressaca, volto aqui, mas sem cabeça para criar um post coerente, vou falando sobre várias coisas que talvez mais adiante merecerão um post específico.

* * *

Uma feminista (na verdade, não sei se o autor é homem ou mulher, mas é feminista) escreve um longo artigo sobre aquele terrível estupro que ocorreu na Índia. Sua bizarra conclusão é que a culpa pelo estupro é (adivinhem) dos conservadores. Sobra até para os Republicanos, que moram do outro lado do planeta. Para el@, "estupro não tem a ver com sexo" (nunca entendi esse credo feminista, se não tem a ver com sexo, por que envolve logo sexo?!), mas com "ter poder sobre a mulher". Portanto, os conservadores que querem proteger as mulheres do sexo casual e tentam mantê-las virgens até o casamento é que têm a culpa.

Qual a sua solução? Ah! Simples! Organizar "marchas das vadias" em todo o planeta, de Moscou a Hyderabad. Algo me diz que isso não vai ser bem visto na Índia, mas tudo bem...

* * *

A Índia é um país extremamente complexo e esquisito, com sua história milenar, suas castas, suas contradições. Ao mesmo tempo com uma cultura interessantíssima e uma pobreza incrível, com vários indianos inteligentes se dando bem no exterior e ao mesmo tempo com miseráveis que usam os rios como banheiro e, pelo que descobrimos agora, com uma considerável quantia de estupros -- o que, confesso, me surpreende: sempre achei que os indianos fossem um povo pobre porém pacífico. Gostaria um dia de visitar e escrever sobre esse país. Mas não vai ser agora.

* * *

Quem dá mais? Enquanto as feministas querem marchas de vadias e poder dispor do próprio corpo, o leilão de virgens espalha-se pelo Brasil. Imagino que as feministas sejam a favor, não há nada que prove mais o controle do próprio corpo do que poder leiloá-lo a completos estranhos em troca do máximo de dinheiro possível. Isso sim é que é liberdade, e não casar virgem.

* * *

O leitor Desconhecido sugere que os leitores aqui do blog façam um teste de QI, para vermos qual é a média de inteligência do leitorado. Eu diria, modéstia à parte, que deve estar bem acima da média brasileira. Em todo caso, comecemos com este que é bem facinho, podem postar seus resultados.

* * *

Fazia tempo que não lia o Sakamongo, e agora vejo que ele continua insistindo com os velhos temas recauchutados. No último post, conseguiu juntar tudo: anti-cristianismo, pobrismo, ódio aos ricos, aquecimento global. Gostei deste comentário de um leitor: "Quero uma namorada com o seu cérebro, Sakamoto". Sim, eu também quero uma loira burra.

* * *

Lembram quando eu falei da possibilidade de um novo blog, que em vez de falar sobre política falasse sobre arte e cultura? Pois ele já existe, só que escrito em inglês, e com posts bem esporádicos. Está aqui:

http://nostalgicfuturist.wordpress.com/

Zeno Cosini, para quem não sabe, é um velho amigo meu.

Os motivos para o novo espaço são vários: ter um blog em inglês pra interagir melhor com a blogosfera em inglês que leio; ter um espaço para falar de arte, cinema e cultura; e, finalmente, testar a plataforma do Wordpress, que parece ser em média mais bonita do que a do Blogger, ainda que levemente mais complicada. 

Isso não muda nada, no entanto. Os posts serão bem diferentes dos que escrevo neste espaço. E o Blog do Mr X continuará bem aqui, falando sobre política e decadência ocidental em bom português do Brasil.


Sobre a Índia e estupros

Volto brevemente ao caso do estupro na Índia porque é um país do qual em geral ouve-se pouco, e acho curioso que tenha havido toda essa repercussão. Na África do Sul, por exemplo, ocorrem bem mais estupros mas isso pouco interessa à mídia. Talvez por que a coisa é tão comum por  lá que nem existem protestos mais, e na Índia o que chamou a atenção não foi tanto o estupro em si (horrendo, sim, mas não um caso isolado) como à repercussão do caso na forma de protestos nacionais e internacionais.