É curioso que o filme seja visto por muitos críticos e espectadores como um retrato ou uma discussão importante do período da escravidão, quando o filme é tão "histórico" quanto "Bastardos Inglórios" ou "O Hobbit". Assim como o filme anterior de Tarantino, baseado em uma vingança de judeus contra nazistas que nunca aconteceu nem poderia ter acontecido dadas as circunstâncias, "Django" é baseado em uma fantasia de vingança, dos negros escravos contra os brancos, que também é totalmente irreal. Um negro sozinho armado não duraria minutos naqueles tempos.
Mas a intenção de Tarantino, além de seus costumeiros banhos de sangue, é ridicularizar os brancos sulistas -- e depois trucidá-los. Sobra até para uma mulher branca desarmada cuja morte é usada como mera gag cômica, ou supostamente cômica.
Os brancos sulistas são tão racistas que, para achar alguém daquele período que não fosse racista e violento contra os negros, Tarantino teve que colocar no roteiro um alemão (que, naturalmente, são as pessoas menos racistas da face da Terra). Além de maus, os sulistas são também patéticos na sua incompetência, como mostra a cena, também cômica, da Klu Klux Klan.
(Não que não houvessem brancos sulistas maus, mas custo a crer que todos o fossem, e em modos tão caricatos. Até "E o vento levou" apresenta uma visão mais humana e mais realista do Sul dos EUA naqueles tempos.)
Bem, isso tudo me fez pensar uma coisa curiosa: os esquerdistas tem um termo para qualquer um que se volta contra suas classes protegidas. Quem odeia os gays é homófobo, quem odeia os não-brancos é racista, quem odeia os muçulmanos é islamófobo, etc etc. Porém, existe um ódio que é totalmente permitido, o ódio aos conservadores. Um progressista pode até desejar em voz alta a morte deles, que ninguém vai se importar. Não existe "conservofobia".
Isso me lembrou o seguinte comentário que li por aí na web:
Toda sociedade tem ante si um ideal da sociedade perfeita que deveria ser, e toda sociedade, de modo a chegar até esse ideal, precisa perseguir aqueles que são contrários a tal ideal. Porém, mais uma vez, a profunda mentira da sociedade liberal se manifesta no fato de que nega a perseguição que realiza contra seus mais odiados inimigos, ou seja, aqueles contrários ao ideal liberal. A negação do status de perseguido ao inimigo - além da ridicularização daqueles que se clamam perseguidos - são elementos adicionais para intensificar a perseguição.
É isso mesmo. Quanto mais o conservador reclama (por exemplo, imagine que algum sulista reclamasse do modo como seus antepassados são retratados no filme), mais ele é ridicularizado. Ao mesmo tempo em que o progressista tem passe livre para odiar o conservador, esse mesmo ódio é negado pelo esquerdista, e até mesmo transformado num suposto ódio que viria do conservador -- que é retratado como violento, odioso, etc. É aquela velha história do "xingue-os do que você é, acuse-os do que você faz" que o Olavo falava e que até os comunas da Velha Guarda já praticavam, mas que hoje tornou-se um hábito tão comum e arraigado que o esquerdista nem ao menos se dá conta mais da contradição daquilo que prega.
Nesse caso, um termo como "Conservofobia" (ou algum termo mais gramaticalmente adequado, caso alguém saiba a palavra grega para "conservador") poderia ser utilizado como forma de defesa.