quarta-feira, 25 de março de 2015

Um tempo

Time present and time past
Are both perhaps present in time future
And time future contained in time past.
If all time is eternally present
All time is unredeemable.
What might have been is an abstraction
Remaining a perpetual possibility
Only in a world of speculation.
What might have been and what has been
Point to one end, which is always present.
Footfalls echo in the memory
Down the passage which we did not take
Towards the door we never opened
Into the rose-garden. My words echo
Thus, in your mind.
                                   But to what purpose
Disturbing the dust on a bowl of rose-leaves
I do not know.

T. S. Elliot

quarta-feira, 18 de março de 2015

O que é ser branco?

Faz um tempo, um post divertido no Steve Sailer falava sobre música, notadamente sobre canções de cantores alternativos brancos que teriam uma conotação depressiva ou auto-depreciativa, e sobre se isso seria uma característica "branca".

Não tenho certeza. De fato, se nos atermos aos estereótipos, as letras dos rappers estão cheias de sexo e violência, mas raramente tendem à introspecção, à depressão ou ao remorso.

Isso não quer dizer que não haja boas músicas tristes escritas por negros. Cartola e Lupicínio Rodrigues, por exemplo, escreveram belas canções sobre tristeza, dor e traição. "Vingança" é minha preferida. Mas existem várias outras boas.

Mas peraí, e os asiáticos? Conheço pouco as suas músicas, portanto ficarei devendo essa a vocês.

Porém, além da música, o tipo de melancolia existencial, mais abstrata, parece ser algo mais branco mesmo. Por alguma razão Hamlet foi criado como um príncipe dinamarquês e e não congolês. Já o ciumento e impulsivo Otelo era negro (ou árabe).  Seria Shakespeare racista?

Ou seria uma questão de clima? Adoro os filmes de Bergman. Belíssimos, porém lentos e depressivos. A depressão existencial seria algo escandinavo? Teria a ver com a personalidade, ou com o clima? Afinal, o inverno e a falta de sol realmente podem deprimir uma pessoa.

Imagine os personagens de "Através do Espelho" ou "Persona", filmados no panorama desolado de Faroe, transportados para uma paradisíaca ilha do Caribe. Será que em vez de pensar em angústias existenciais, os personagens não esqueceriam tudo e passariam a dançar a conga e a macarena?

Mas o que tudo isso tem a ver com as raças?

Raças existem? Sim, e não.

De modo geral, poderíamos pensar o ser humano como um gradiente, um espectro de cores, que às vezes se superpõe. 

Existem raças porque existem diferenças entre grupos, porém, como bem disse o blogueiro Santoculto,  um negro e um branco, de mesma estatura, inteligência similar, etc, poderão ser mais parecidos geneticamente do que um branco baixinho, gordo e de baixo QI e outro branco alto e inteligente. Indivíduo > Raça. A raça, na verdade, é apenas uma classificação meio arbitrária por similaridade genética e ancestral.

Mas não era nada disso que eu queria falar. Eu queria perguntar, o que é ser branco?

Alguns puristas definem o branco como alguém 100% europeu, e, alguns ainda, selecionam ainda mais, definindo o branco apenas como o nórdico. Para eles, o italiano do sul, o grego, o sírio-libanês, não seriam brancos. Branco, só o "puro". Como a Caninha 51.

Mas a pureza racial não existe. É um conceito equivocado. A mistura entre povos e tribos diferentes sempre aconteceu. Genes mutam, genes variam, genes se misturam. Povos isolados e endogâmicos, de fato, terminam por se "depurar", tendo maior similaridade entre si do que com povos estrangeiros. Por outro lado, as migrações sempre aconteceram. Somos todos (menos os africanos) um pouco Neandertais. E os próprios nórdicos não se misturaram com os mongóis?

E eu acho que nem devíamos falar em "brancos", mas sim, nas diversas sub-etnias, pois é um povo com muita variação. Agora, se formos falar em "branco" como um conceito mais geral, parece-me que meramente a cor da pele, mas sem olhos puxados, seja uma boa medida. Isso incluiria armênios, turcos, judeus, libaneses, tártaros, e pessoas mistas com 80-90% de ascendência européia. Pra mim, tudo isso vale.

E tem uma medida ainda mais fácil: ser branco é seguir a cultura e o comportamento europeu.

Ser branco é apenas agir como branco.


domingo, 15 de março de 2015

Intervenção militar, sim ou não?

Para meus "amigos" do Face (eis um oxímoro da era moderna), pessoas protestando em favor da "intervenção militar" são a camada mais baixa da humanidade. Querer a "ditadura militar" em vez da "democracia" é uma demonstração de ignorância, baixeza, maldade e estupidez. 

Porém, às vezes me pergunto: será que para o povo mais pobre, ou até para a classe média, uma volta da ditadura seria algo tão ruim assim?

Noto que os pobres, no que se refere ao aspecto social, tendem a ser mais conservadores, e até reacionários, do que os de classe mais alta: são contra aborto, a favor da pena de morte, homofóbicos e muitos até, acredite, racistas. E acho que muitos deles pouco se importariam se o governo não fosse mais "democrático", desde que continuassem a ganhar algum tipo de ajuda financeira ou alimentar.

Mas também grande parte da classe média, parece-me que pouco perderia ou ganharia com um governo militar. Para o cidadão comum que trabalha e paga seus impostos, e que não está interessado em questões políticas, a forma de governo e de eleição de seus representantes, não muda tanto assim o seu dia-a-dia. A tal democracia, no fundo, é apenas uma ilusão: a ilusão de que você pode "escolher" alguma coisa, quando, na verdade, o que é que você escolhe? Quem vai te roubar?

Uma "ditadura militar" afetaria principalmente o intelectual e o militante de esquerda, preocupado com "censura". Uma preocupação até válida, concordo. Mas será que a "censura" é algo tão ruim assim? (Não estou afirmando, estou perguntando). O "período dourado" de Hollywood foi justamente durante a vigoração do código Hays, que vetava certos tipos de temas ou imagens, mas dando maior margem à imaginação do roteirista ou diretor. Pode-se afirmar também que Chico Buarque compôs suas melhores canções durante a censura, justamente por ter de se esforçar mais para burlá-la?

E, por falar nisso, não temos também censura hoje em dia, ainda que de outro tipo? (Censura ou auto-censura de tudo que não for considerado "politicamente correto" por grupos militantes).

A própria "violência" de um governo militar, me parece que afetaria mais apenas certos grupos do que a população em geral. E, se um governo de direita combatesse mais duramente o crime urbano, que é o que realmente afeta a maioria da população, poderia mesmo diminuir o número de mortes.

Fica a questão ainda de que o governo militar de 1964-1983 nem foi assim tão terrível quanto a esquerda insiste em nos dizer. Oficialmente, morreram ou desapareceram 434 pessoas, durante 20 anos. Acho que morre mais gente num fim de semana em acidente de carro hoje em dia.

Isso não quer dizer, naturalmente, que eu seja a favor de qualquer tipo de "invervenção militar" ou volta da ditadura. Na verdade, acho que preferiria um governo democrático, porém sensato, o que é raro de acontecer.

Na verdade, acho que não existe nenhum tipo de governo perfeito. Mas existem governantes menos ruins do que outros.