sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Elegia

[Obs. Mudei o título do post, que talvez tivesse ficado de mau gosto. Talvez falar sobre a doença de outra pessoa também seja de mau gosto, de modo que não sei se deixarei o post online ou não; de qualquer modo, todos esses detalhes e muitos outros já foram tornados público pelo próprio Auster, de modo que não creio estar cometendo nenhuma indiscrição ou desrespeito.]

Deus está morto, Nietzsche está morto, Lawrence Auster está morrendo e eu não estou me sentindo muito bem. De Deus e Nietzsche, as notícias são velhas, ainda que há quem diga que a notícia da morte de Deus tenha sido levemente exagerada. Lawrence Auster é um reacionário americano, que conduz o blog View From The Right. Ele está com câncer pancreático que agora migrou para o cérebro. As notícias, como se vê, não são nada boas, embora ele pareça estar de bom humor -- melhor do que o meu estes dias. Diz até sentir-se feliz.

Lawrence, que é primo do romancista Paul Auster, é judeu convertido ao cristianismo, e talvez o blogueiro mais lúcido do planeta, ao menos na sua descrição do progressismo. Ninguém explica melhor certas coisas do que ele. Pode-se não concordar com muito do que ele diz, e seus textos sobre raça ou aqueles contrários à teoria da evolução de Darwin ou contra o voto feminino são mesmo controversos, mas fora isso realmente existem poucos indivíduos que escrevam de forma tão clara sobre a sociedade contemporânea.

Não é famoso como seu primo, nem jamais será. Mas tem sido uma leitura diária já há alguns anos, de forma que termina sendo um pouco quase que como uma pessoa que você conhece, e se diverte mesmo quando discorda. No fundo, se passei a falar aqui sobre alguns assuntos tabu, foi por causa dele.

Só que eu não sou um ferrenho tradicionalista, na verdade, acho que não tenho nem mais uma ideologia muito precisa, salvo que não gosto muito do mundo moderno e acho que a maioria das coisas funcionava melhor ou era mais bonita antes. Mas pode ser apenas uma impressão causada pela excessiva nostalgia.

Vejo apenas um mondo com problemas graves como a imigração, a dissolução dos estados nacionais, uma economia baseada apenas no consumo e no estatismo crescente, vejo uma sociedade que descarta todas as lições aprendidas ao longo dos séculos para tentar experimentos como o "casamento gay" ou o "igualitarismo". Mas tenho alguma solução? Não. E às vezes penso que pode ser que eu esteja errado, que o caminho seja mesmo esse, que no andar da carruagem as melancias se ajeitam, ou que as elites tenham um plano secreto para tudo ficar bem no final, ou que não existe plano nenhum e que ninguém sabe de nada -- só Deus e, talvez, o Diabo.

Claro, fica sempre aquela incômoda impressão de que pouco a pouco as últimas luzes do século se apagam, que as poucas vozes lúcidas se calam, substituídas apenas por som e fúria, significando nada. Quem restará?

Não sei se alguém leu "A morte de Ivan Iilich" de Tolstói, mas descreve alguém que, à beira da morte, se dá conta de ter feito tudo errado na sua vida. Uma vida de sucesso e status em termos daquela sociedade, mas que, chegado o fim, não o satisfazia. Não é o caso de Auster, que parte com a serenidade dos cristãos. Quanto a mim, de saúde por ora ando bem (toc, toc, toc), mas sinto que estou perdendo demasiado tempo em coisas inúteis, das quais ainda não sei se este blog faz parte ou não. Talvez precise refletir e tratar de usar o tempo com maior sabedoria.

Este parece ser um post mórbido, mas na verdade, não é não. A morte é algo corriqueiro, acontece todo dia. Este ano mesmo duas pessoas conhecidas minhas, não tão próximas mas tampouco tão distantes, e de idade relativamente jovem, partiram. A questão é meramente o que fazer com os dias que nos restam, sejam muitos ou poucos, e quem é que sabe realmente quantos serão? Uma das moças que escapou ao incêndio de Santa Maria morreu em um acidente de carro dias depois. Vários doentes terminais dados por mortos curaram-se.

E, quanto à civilização, é como diz Yeats em Lapis Lazuli, não é preciso histeria, "todas as coisas desabam e precisam ser reconstruídas, e aqueles que as reconstroem são felizes".


6 comentários:

Bárbara disse...

Sinto muito pelo Auster. É um homem que demonstra não só inteligência excepcional, grande capacidade analítica, mas também muita integridade e bom coração.

Chesterton disse...

já viu isso?

http://www.youtube.com/watch?v=PFb6NU1giRA

Mr X disse...

Um bom artigo sobre a renúncia do Papa (em espanhol)

https://oehd.wordpress.com/2013/02/12/siempre-renuncias-benedicto/

Mr X disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rovison disse...

Creio que um dos critérios mais importantes para definir se uma pessoa é sábia ou não é quanto ao uso que ela faz do seu tempo.

Rorschach BR disse...

Esse era um dos pricipais autores traduzidos pelo falecido blog veradextra. Apesar de no fim o blog ter começado a atacar Jesus devo dizer que em português foi onde encontrei artigos mais interessantes e tenho que dizer que me fez enxergar alguns aspectos e fatos que eu ignorava.
X, por acaso alguma vez você cogitou a hipótese do Apocalipse estar em andamento?