quarta-feira, 16 de março de 2016

Você acredita na meritocracia?

Enquanto não escrevo um post mais importante sobre a crise espiritual afetando o Ocidente, perderei aqui algumas linhas falando sobre o conceito de "meritocracia".

O conceito de meritocracia é amado em especial pela direita atual, pelo qual esta se revela quase tão ignorante quanto a esquerda. 

Segundo esta teoria, se alguém chegou no topo, é por "mérito". Não admira que a elite goste tanto da palavra "meritocracia", afinal, não apenas é a elite e tem o poder sobre os demais cidadãos, como seus membros podem pensar sem culpas que tudo que obtiveram foi por puro "mérito".

Qual seria esse mérito, nunca é muito bem explicado. O mérito de ter bons contatos, o mérito de ter parentes importantes, o mérito de ser capaz de esfaquear pessoas pelas costas, o mérito de ter uma inteligência (ou apenas esperteza) superior?

Nas características genéticas, como beleza e inteligência, determinadas em grande parte antes de se nascer, não há mérito. Mas mesmo nos outros aspectos, como esforço ou perseverância, o mérito também é relativo (e provavelmente tem causas genéticas também). O mérito está relacionado com aquilo a que a sociedade como um todo dá mais valor. Mas e se esses valores forem um lixo?

Uma boa pianista de música clássica precisa estudar por décadas e praticar várias horas por dia; ganha uma miséria, ou precisa ter outras ocupações para se manter. Já cantores como Latino ou Beyoncé, que nem precisam saber sequer tocar um instrumento, ganham milhões. Mérito? Maior apelo popular, é possível, mas por que essa deveria ser a única medida?

Em sociedades tradicionais, as classes eram definidas mais ou menos pelo nascimento. Um pobre poderia até ascender socialmente, mas era raro, salvo que fosse pelo casamento. Porém, era mais fácil de certa maneira para o sujeito se conformar com o seu papel. Ele tinha um lugar na ordem social; talvez pequeno, mas não por isso menos importante. 

Hoje, o pobre não consegue ascender, e ainda por cima recebe apenas insultos de seus superiores: "Isto acontece porque você é burro, preguiçoso, incompetente! Não estudou, não trabalhou!"

Enquanto o rico nem ao menos se culpa por ser bem nascido. Se chegou lá, foi por "trabalho árduo" e "motivação".  É bom poder pensar assim. Mas é real?

A idéia da "meritocracia" torna-se ainda mais dolorosa em um mundo igualitarista que advoga o conceito de "tabula rasa" e nega as diferenças entre sexos, raças, culturas. Neste caso, o que pode fazer um branquelo introvertido que não ascendeu socialmente nem sexualmente, se não pensar que "não se esforçou o suficiente"?

O problema é que a esquerda também combate a meritocracia nos moldes errados. Pois também a esquerda, e ainda mais do que a direita, nega as diferenças naturais entre pessoas, grupos e sexos, e portanto não entende como só pessoas em sua maioria brancas e do sexo masculino parecem ter maior "mérito". Neste caso, o que pode fazer uma negra lésbica que não ascendeu socialmente, se não pensar que um "sistema branco racista e homofóbico" a está passando para trás? Qual outra explicação existe, afinal?

Curiosamente, o termo "meritocracia" foi criado de forma satírica pelo político britânico Michael Young. Ele era na verdade um crítico da meritocracia, e preferia o sistema anterior de classes definidas, mas no qual os mais humildes ao menos poderiam ter alguma chance.

Em teoria, a "meritocracia" daria lugar a uma sociedade na qual qualquer um, com trabalho e esforço, poderia ascender. Na prática, gerou uma elite imunda e miserável cada vez mais afastada dos anseios do resto da população, uma classe média cada vez mais combalida e sem esperanças, e uma classe miserável cada vez mais violenta e irracional.

A sociedade meritocrática dá valor ao extrovertido, ao sociável, ao que tem bons contatos e capacidade de liderança. Já o criativo introvertido tem um pequeno valor, proporcional apenas à sua capacidade de gerar dinheiro para o sistema. Fez uma música que vendeu muitos discos? Tem mérito. Escreveu um livro que mudou os paradigmas do pensamento humano, mas quase ninguém leu? É apenas um perdedor.

O mérito é sempre, por definição, relativo. Não podemos dizer que esforço, perseverança, inteligência e outras qualidades não sejam importantes, mas tampouco podemos dizer que estas sejam ou devam ser as únicas medidas que determinem o lugar de uma pessoa no grande grupo social.

Não quer dizer, é claro, que não haja certo, er, mérito na idéia de meritocracia, nem que o esforço, a dedicação ou a paciência não possam por ventura obter alguma recompensa (ainda que, mais filosoficamente, possamos dizer que o esforço, a dedicação e a paciência sejam a sua própria recompensa). 

E você, acredita na meritocracia? 

Meritocracia

9 comentários:

Matheus Carvalho disse...

Mr X, talvez nesse caso se aplique uma modificacao da frase do Churchil para a democracia: a meritocracia e' o pior sistema para ascensao social justa, tirando todos os outros.

Anônimo disse...

Sua análise foi superficial por colocar tudo o que se fala e pensa sobre "meritocracia" no mesmo balaio, quase aceitando as ideias malucas da esquerda sobre o assunto. Ora, existe uma meritocracia que é legítima. Vou dar um exemplo concreto para não ficarmos nos planos das ideias. Meus dois pais eram pobres. Pobre (não ter luz em casa por vários anos, muito menos nem TV, comer a mesma coisa todo dia, vários filhos dormindo na mesma cama, não ter brinquedos, não ter saneamento básico). Meu pai sempre muito honesto, dedicado, trabalhou a vida inteira (desde os 7 anos de idade, vendendo doce na rua, vendendo horta que meus vós faziam em casa, engraxando sapato) e hoje temos uma condição de classe média-alta. Não bebia nem fumava, economizava muito para ter uma vida mais tranquila na aposentadoria. Até hoje conta que muitos colegas que aposentaram estão em uma situação muito pior do que ele, pois gastaram e não se prepararam. Isso tudo mesmo não tendo curso superior. Vai falar que isso não é uma forma de meritocracia? E isso não é lá exceção, milhões de pessoas melhoram por meio do trabalho duro, do estudo, da dedicação, das boas ideias, do empreendedorismo etc, sem ter que esfaquear ninguém pelas costas ou se envolver com esquemas escusos. Pensar o contrário disso é ter uma visão de vida muito limitada. "Ah.. mas seu pai nasceu com um gene da paciência, da abnegação, da diligência, da inteligência" Você realmente acha que essas argumentos pseudo-genéticos que negam as escolhas, a vontade humana, são válidos?

Sabedor disse...

"Isto acontece porque você é burro, preguiçoso, incompetente! Não estudou, não trabalhou!"

A ''esquerda'' também adora dizer essas bobagens.

Meritocracia em condições ideais, isto é, que atenda às expectativas do seu conceito, se daria primeiramente por meio da extinção das ''celebridades'' ou ao menos colocar em posição de maior destaque apenas aqueles com real talento, com qualidade, mas sem os super excessos de salários porque bastaria o reconhecimento e uma vida menos manualmente árdua, dependendo da profissão criativa. Neste sentido o ''socialismo'' faz um pouco mais de sentido ao não ter excitado a inveja entre os cidadãos por meio da relativa homogeneização do vestuário, dos bens de consumo em geral. O PROBLEMA, SEMPRE O PRINCIPAL PROBLEMA, é o excesso dualista de não PONDERAR a relativa igualdade quantitativa para todos em termos de bens de consumo E diversificação relativa e qualitativa deles. Igual porém de péssima qualidade. Típico de comuna com injúria cerebral.

Outro aspecto é a diversidade cognitiva, todo mundo é naturalmente bom em algumas funções e ruim em outras. Colocar medianos ou fracos para uma certa função é um dos grandes problemas de ''nossos'' mamados sistemas burrocráticos. Parece que copiamos este apreço pela quantidade do sistema imperial chinês, o molde escolar foi. E depois dizem que eles que copiam e mal de ''nós'', sei.

Dá-se ênfase nos concurso públicos, que é quase um teste às cegas, porque se está selecionando sem qualquer qualidade individual, especialmente no que diz respeito à honestidade e moralidade do cidadão. O resultado é o esperado.

Em uma sociedade onde que um nércio como este latrino, o pseudo-cantor, é milionário e faz ''sucesso'', é pior do que quando todas as populações humanas eram de caçadores coletores nômades, não é digna de existir.

Thanks whitey

http://4.bp.blogspot.com/_KQqDQ3OPn9c/Sc_-qBVGrZI/AAAAAAAAAIo/uSEIdRIYHDg/s320/woody+woodpecker+sucker.jpg

Sabedor disse...

http://www.nature.com/articles/srep23011

Quando os esquerdopatas dão tiros no pé sem perceber, auto-sádicos inconscientes.

Fábio disse...

A meritocracia, por si só, é uma mentira - mas é melhor do que um sistema de castas.

AF disse...

Bom e esclarecedor post sobre a meritocracia.

Também não creio que seria um bom sistema, ainda mais se fosse ao estilo liberal com sua fé imensa no capitalismo, mas talvez seria um pouco melhor do que a democracia em que vivemos hoje.

Sabedor disse...

''http://www.nature.com/articles/srep23011

Quando os esquerdopatas dão tiros no pé sem perceber, auto-sádicos inconscientes.''


Link errado, kkkk

É este

http://www.counter-currents.com/2016/03/the-lefts-hollow-empire/

Sabedor disse...

Anônimo,
situação relativamente parecida aconteceu com os meus pais. Eu não critico totalmente quem lutou para conquistar as coisas, eu critico que tenha havido a necessidade de se conquistar as coisas desta maneira, que sugere disfuncionalidade da sociedade em promover igualdade real de condições mas também que os ''trabalhadores'' para que ''o trabalho liberta'' sejam tão arrogantes para jogar na cara das outras pessoas sobre isso, como se fosse um motivo de inesgotável, infinito, inatacável orgulho.

Peraí, tem muita gente que também é ''bem sucedido'' só que fazendo 98% menos esforço e dignidade que os seus ou os meus pais, essas pessoas não produzem nada pra sociedade ou se produzem, ficam com grande parte do montante. Acho que o Mister X quis criticar justamente essas diferenças. Enquanto que nós temos alguns que trabalham feito condenados uma vida inteira de maneira honesta para dar algum conforto a si próprios e aos seus filhos, nós temos aqueles que fazem MUITO MENOS e ainda são nacionalmente ''reconhecidos'' e tratados como deuses.

Onde está o mérito**

De ser uma vespa parasita esperta**

No mais, ainda há de se salientar que existem diferentes tipos de mentes com diferentes motivações intrínsecas, desde as menos nobres até as mais nobres.

Michel disse...

desde quando introvertidos conseguiram algum reconhecimento mr x? muitas vezes quando algo é criado o divulgador é mais reconhecido do que o criador timido que nao é bom em falar com o publico, o mundo pertence aos "sem vergonha" carismáticos, e nao aos inteligentes introvertidos, sempre foi e pelo jeito sempre será assim.