segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Por que tem tanta violência no Brasil?

No outro dia um médico nipo-brasileiro foi morto em um assalto em São Paulo. O nível de homicídios no Brasil já superou 61 mil assassinatos por ano. É o país mais violento do planeta em números absolutos (em termos de percentagem, a taxa de homicídios está em 29/100.000, a metade do que em países ainda mais insanamente violentos como El Salvador, Honduras, Jamaica e Venezuela).

Se esquecemos os países como um todo e vemos apenas a lista das cidades mais violentas do mundo, observamos um fator geográfico ainda mais interessante: temos então no topo a predominância de cidades brasileiras, em especial do nordeste, junto com cidades mexicanas dominadas por cartéis, e até algumas cidades norte-americanas de predominância afro-americana, como Detroit ou Baltimore.

Porém, até mesmo cidades do Sul do Brasil têm níveis muito altos de homicícios, como a capital do RS (as favelas da cidade na última década foram tomadas por gangues imundas e ultra-violentas que disputam o controle das drogas, imitando o Rio de Janeiro. Herança dos governos esquerdistas, ou culpa da migração interna de criminosos do centro do país? Aí já não sei.)

Um detalhe interessante é que não há nenhuma cidade argentina, uruguaia ou chilena nessa lista. A taxa geral de homicídio na Argentina e Chile é um quinto da do Brasil (5.8), no nível de países como Estônia.

Então, podemos concluir que os fatores relacionados com o crime violento são basicamente dois: a maior presença de indivíduos da raça negra com baixo poder aquisitivo em sociedades desiguais (países africanos e caribenhos mais homogênios aparentam ter menos violência, mas pode ser um problema de estatísticas pouco confiáveis), e a presença massiva de gangues de tráfico de drogas lutando pelo poder.

Argentina e Uruguai não são necessariamente brancos, mas tem menor quantidade de negros. Porém, se fosse só isso, o México teria poucos homicídios, e não é assim. Isto mostra que o tráfco é o fator principal pot trás da violência (Argentina e Uruguai não são países-chave para a produção ou distribuição da droga e não existem grandes cartéis).

O problema da violência no Brasil então, poderia ser resolvido com duas políticas simultâneas: uma de controle da natalidade das camadas mais pobres (somada idealmente com desenvolvimento econômico), e outra tornando o país menos desejável para traficantes de drogas.

Como fazer isso, aí já não sei. O problema do tráfico é realmente complexo, e não acho que liberar a maconha resolva. Dados do Uruguai indicam que, após a liberação das marihuana, os crimes ligados ao tráfico, em vez de diminuir, aumentaram no país. E a taxa de homicídios subiu para 8.1 em 2018, a mais alta em décadas. 

Mas o Brasil já foi menos violento no passado, e não tinha necessariamente uma composição racial muito diferente. 

O que fazer? Será que Bolsonaro conseguirá mesmo resolver alguma coisa?

E, caso contrário, quem poderá nos ajudar?


sábado, 3 de novembro de 2018

Por que a direita não gosta de meio-ambiente e de arte?

Entendo em parte a razão. Grande parte, se não a maioria dos ambientalistas podem ser do estilo melancia - verdes por fora, e vermelhos por dentro. E os artistas, a maioria ao menos hoje em dia são também de esquerda, e por tanto não há muitos motivos para simpatia mútua.

E, no entanto... Parecem-me que a preocupação com o meio-ambiente, e as artes, sejam ou deveriam ser algo essencial em qualquer sociedade que se preze.

Certo, a preocupação com o meio-ambiente deve ser contrabalançada com a do desenvolvimento econômico. Isto pode ser algo difícil, e mais ainda em países subdesenvolvidos como o Brasil. Por outro lado, deveria haver um meio-termo entre o desenvolvimento econômico e a destruição do que resta do meio natural. Não acho que preservar o ambiente seja algo que deva ser menosprezado. O Haiti acabou completamente com suas florestas e é hoje uma favela gigante. A China tem as cidades mais poluídas do mundo e o câncer pela poluição industrial tornou-se uma das principais causas de morte no país. É isto o que desejamos também? Transformar a Amazônia numa grande favela, ou num parque industrial?

Em relação aos artistas, é comum o pessoal de direita referir-se a eles como "vagabundos", que "mamam nas tetas do Estado".  Isto sempre me pareceu muito curioso. Os artistas (a cultura em geral) são os que menos recebem dinheiro, seja do governo ou da iniciativa privada, e não só no Brasil, em quase tudo que é lugar. Ninguém dá a menor importância para a cultura. Até o esporte recebe mais dinheiro, e nunca vi alguém chamar esportistas de vagabundos. E muitos deles ficam ricos e tem patrocínios, enquanto a maioria dos artistas são mortos de fome.

Ainda assim, quando se gastam algumas migalhas em cultura, há sempre gritos. A direita vocifera a favor dos que "fazem coisas úteis", como "médicos, advogados, engenheiros". De minha parte, não creio que advogados façam nada muito útil, aliás acho que em geral são nocivos. ("A primeira coisa a fazer, é matar todos os advogados", escreveu uma vez Shakespeare.) E quanto aos médicos, tampouco tenho as melhores opiniões deles, embora concorde que possam ser úteis, quando não são picaretas. Quanto à "vagabundagem", parece-me que a maioria das pessoas não tem muita noção de todo o trabalho que envolve criar um filme, uma peça de teatro, um livro ou mesmo uma pintura ou uma ilustração (bom ou ruim, não importa). São horas ou até anos de esforço, poucas vezes recompensado.  

É verdade que os artistas, e em especial os artistas modernos, não ajudam. Fazem "arte" estúpida e "engajada", muitas vezes obscena. Alguns parece que se empenham em querer queimar o próprio filme. É fato que no século XX a arte foi muito inflltrada por ativistas, de modo que mais do que artistas hoje temos ativistas políticos ou sociais que acham que fazem "arte".

E, no entanto, não foi sempre assim. Na Renascença, os artistas, embora também sendo às vezes mal vistos pela sua licensiosidade, recebiam comissões do Estado e da Igreja. No século XIX, os artistas tinham bastante prestígio social, ainda que pouco dinheiro. E os regimes autoritários do início do século XX compreenderam a importância vital que a arte e o cinema tinham para a propaganda, cooptando-a para os seus fins. (Ainda que tenham tentado policiá-la, como no nazismo ou no comunismo, o que levou por fim a uma arte de menor qualidade ou à perseguição de artistas - talvez porque os melhores artistas e a melhor arte sempre tenham algo de contestatário).

Acho que o problema é que a arte é algo muito difícil de mensurar, ou dizer "para que serve". A bem da verdade, não "serve" para nada mesmo. E no entanto, sem os artistas e os criadores, quão mais vazia de sentido seria a nossa vida.

O meio-ambiente, a mesma coisa. Se não é explorado economicamente, não tem utilidade prática nenhuma. Para que serve? Para nada. E, no entanto, parece que, nem que seja para manter a sanidade, necessitamos manter ambientes relativamente intocados pela civilização.

Acho que Arte e Natureza na verdade estão intimamente relacionados. E seria importante preservar ambos.