quinta-feira, 31 de março de 2016

Os brancos também erram

Fiquei triste pelos pais de Jean Charles ao ler que a Corte Européia de Direitos Humanos rejeitou o recurso da família. Nada mais ocorrerá, e nada mais resta à família a não ser continuar a chorar. 

A morte do brasileiro Jean Charles pela polícia inglesa foi um erro patético, e no entanto, ninguém foi punido. Nenhum policial chegou a ser investigado individualmente e o máximo que ocorreu foi que a Scotland Yard foi multada em 100 mil libras, quantia certamente irrisória para o governo inglês.

Incapazes de diferenciar entre um etíope escuro e um mestiço indígena claro, os policiais deram 13 tiros no eletricista, sendo que 7 na cabeça. Atiraram primeiro e perguntaram depois. 

Acidentes acontecem, é verdade, mas pergunto-me se as coisas teriam tido o mesmo rumo se, em vez de um imigrante brasileiro, a vítima tivesse sido um inglês branco, quem sabe o filho de algum político. Quem pode, pode, e quem não pode, vocês já sabem (rima com pode).

Embora haja certamente muitos anglos geniais, nunca gostei muito deles como coletividade. Um povo arrogante, esnobe, imperialista. Conquistaram o mundo inteiro mas juram que foi na base do "fair play". Algo dessa mentalidade pegou nos americanos, que herdaram seu império e hoje fazem "bombardeios humanitários" com meros "danos colaterais".

O etíope muçulmano que cometeu os atentados era considerado um cidadão inglês. Jean Charles era um mero residente de legalidade duvidosa. Um era um terrorista encostado no welfare, o outro um trabalhador manual.

Mas não seria a elite inglesa quem mais deveria ser punida por trazer milhares de etíopes e assemelhados para viver no Reino Unido e atormentar o cidadão local?

Os ingleses já dominaram todo o subcontinente indiano e partes da África, tratando os locais como cidadãos de segunda classe. Modernizaram tais países, não resta dúvida; mas o preço foi salgado e, hoje em dia, pouco resta do que foi construído. Será que, no fim das contas, o legado do colonialismo não foi no fim das contas ruim para ambos os lados? Não era melhor que tivessem deixado a África em seu estado pré-civilizado, ou, então, que assumissem de vez o tal "fardo do homem branco" em vez de abandoná-los depois de dar-lhes as "benesses da civilização" como granadas e fuzis?

"Africa Addio" é um filme sobre o fim do colonialismo europeu na África. Muito embora tendo sido produzido por cineastas italianos premiados (um deles inclusive havia até sido indicado ao Oscar), o filme hoje é bem difícil de encontrar. Existem na verdade várias versões. Foi lançado nos EUA apenas um uma vesão bastardizada e censurada, renegada por seus autores. Mas há mais de um corte da versão europeia também. (Tem uma versão italiana de com 140 minutos no Youtube, acredito que seja próxima do original).

O filme virou tabu. Nunca assisti o filme inteiro, e não sei se o recomendaria. É, por um lado, horrível. Tem matanças indescritíveis de humanos e de animais. Não poupa os negros, mas tampouco os brancos, que em algumas cenas também são mostrados cometendo violências atrozes. Porém, tem cenas de relevância histórica e está muito bem filmado. As cenas mostrando os milhares de corpos dos árabes massacrados pelos revoltosos negros no Zanzíbar é impactante. Mas também as da África do Sul durante o apartheid com jovens mulheres loiras correndo em câmera lenta e pulando em uma cama elástica. Para quem gosta do gênero "cinema-chocante", o filme é um prato cheio.

Uma história engraçada sobre a produção: ao filmar uma revolução na Tanzânia, os cineastas foram presos e condenados à execução. Mas aí alguém gritou, "espere aí, eles não são brancos, são ITALIANOS!" E eles foram imediatamente liberados e puderam concluir os trabalhos. (Porém, foram posteriormente presos na Itália, sob a acusação de que algumas mortes no filme teriam sido realizadas para as câmeras; foram também finalmente absolvidos).

Outro filme interessante sobre a colonização, este na África do Norte, é a "Batalha de Argel", do também italiano Gillo Pontecorvo. O filme é tão realista que muitas vezes foi confundido com um documentário, mas é ficção. Mostra atrocidades de ambos os lados, franceses e árabes.

Os italianos são (ou eram) bons em fazer filme sobre a África: "Conseguirão nossos heróis encontrar o seu amigo misteriosamente perdido na África?", do recentemente falecido Ettore Scola, é outra exame da (pós-)colonização, mas sob uma ótica mais ligeira e cômica, com uma performance como sempre magistral de Alberto Sordi, e uma mensagem ambígua: quem é o "civilizado", e quem é o "selvagem"? É o que parecem perguntar-se "nossos heróis" ao final. 

A mesma mentalidade colonialista da velha elite é a que se revela hoje em dia no seio dos próprios países europeus, a única diferença é que, em vez de ir para a África atormentar/educar os nativos, agora eles estão importando-os da África para dentro da Europa para "ajudá-los", com conseqüências nefastas para todos. 


sábado, 26 de março de 2016

L'Infinito

Sempre caro mi fu quest'ermo colle,
E questa siepe, che da tanta parte
Dell'ultimo orizzonte il guardo esclude.
Ma sedendo e mirando, interminati
Spazi di là da quella, e sovrumani
Silenzi, e profondissima quiete
Io nel pensier mi fingo; ove per poco
Il cor non si spaura. E come il vento
Odo stormir tra queste piante, io quello
Infinito silenzio a questa voce
Vo comparando: e mi sovvien l'eterno,
E le morte stagioni, e la presente
E viva, e il suon di lei. Così tra questa
Immensità s'annega il pensier mio:
E il naufragar m'è dolce in questo mare.

G. Leopardi

sexta-feira, 25 de março de 2016

Por que os nerds não vencerão

Recentemente, um chat de inteligência artificial da Microsoft foi trollado e "aprendeu" a ser "racista" em menos de 24 horas.

Embora não pareça à primeira vista, muitos "nerds", cientistas, programadores e/ou trabalhadores do meio da alta tecnologia têm opiniões "racistas", "sexistas" e "xenófobas".

Minha impressão é que de forma geral o esquerdismo é mais popular entre pessoas sociais e sociáveis, enquanto introvertidos e anti-sociais tendem a ter visões mais independentes e, por vezes, até conservadoras ou reacionárias.

Não sei bem por quê isso ocorre, mas acho que existem alguns motivos lógicos para isso, mas o principal é que vivemos em uma sociedade baseada nos princípios progressistas. Todos querem ser aceitos, e propagar a papagaiada inclusiva e igualitária é muito bem mais aceita hoje em dia do que contestar a narrativa oficial, que torna você um "teórico da conspiração", um "loner", um "loser", enfim, um cara estranho.

Os nerds já foram rejeitados no grande mercado sexual e social, então, preocupam-se menos em agradar. Fora o fato, naturalmente, de que a Internet ainda permite em grande medida (por enquanto) o anonimato. 

E, no entanto, os nerds não vencerão, ou, ao menos não creio que vençam.  Isto por que, no fundo, o que eles também mais querem é ser aceitos.

Mencius Moldbug, também conhecido como o programador Curtis Yarvin, é o autor do lendário blog Unqualified Reservations, que fundou o chamado "neo-reacionarismo", e costumava escrever textos quilométricos.

O blog acabou já há anos, porém, sua identidade foi revelada e ele hoje virou um pária da indústria da programação. Estes dias, uma inteira conferência tecnológica foi cancelada porque ele era um dos convidados. Observem que o tema nem era ligado às suas crenças políticas, que aliás foram escritas sob pseudônimo, e mesmo assim os organizadores ressaltaram que suas visões "intolerantes" e "fanáticas" eram incompatíveis com a instituição e blablablá.  

Empresas como Google, Apple, Microsoft e Facebook, muito embora formadas em sua maioria por funcionários homens, brancos, asiáticos (e judeus??), são as primeiras a promover (ao menos da porta para fora) o feminismo, a imigração e o multiculturalismo. E, no entanto, muitas vezes seus empregados são os maiores perdedores com tudo isso.

Uma vez imaginei uma história na qual os nerds poderiam se vingar sabotando o status quo, utilizando a tecnologia para se vingar dos "populares" e de sua ideologia progressista, e finalmente tomando o poder. Porém, isso não ocorre: no máximo algum loser nerd perde o controle (mental) e sai por aí atirando e matando inocentes, depois de publicar um "manifesto" online.

Os nerds não vencerão. Isto porque a política, feliz ou infelizmente, necessita de pessoas sociais e sociáveis, carismáticas e populares.

Porém, eles poderão ajudar a construir novas ideologias e histórias para a nova era pós-progressista que (dado que o progressismo é uma utopia que não tem como dar certo) um dia virá. 

"Fuck you nigga bitch! Por trás deste teclado sou racista e antifeminista!"
Peraí, já vou jantar mamãe, estou terminando meu post!

quarta-feira, 23 de março de 2016

Mais do mesmo

Hoje aconteceu algo curioso. Vi meio por cima as notícias de atentados em Bruxelas e nem cliquei. E desta vez nem foi por não querer ver imagens de sofrimento, que sempre me angustiam, mas simplesmente por que já virou parte do panorama, o "novo normal" ocidental. Tédio, mais do que horror.

E acho que isso foi sentido por muitos, pois, não vi desta vez bandeirinhas da Bélgica por aí. Mas pode ser apenas que ninguém liga muito para a Bélgica mesmo, pois até as batatinhas fritas são consideradas "French fries" e não, como deveriam, "Belgian fries".

Depois até fiz um breve comentário em algum site europeu por aí sobre como a solução era simples: parar de bombardear o Oriente Médio e parar de importar para a Europa imigrantes da mesma região.  Fui repreendido por um esquerdoido que disse que "se a Europa passar a banir pessoas devido à sua raça ou religião, não será mais a Europa".

Vejo que eu e ele temos concepções bem diferentes do que seja a "Europa", mas deixe pra lá, ele é europeu, aliás austríaco da gema, e talvez saiba isso melhor do que eu. Não é isso que me incomoda.

O que incomoda é descobrir que o povo é sempre gado. Só segue aquilo que lhe dizem.  Como a raposa que convence as galinhas de que "o céu está caindo", é incrivelmente fácil manipular o povão. O povaréu, e em especial a gentalha da esquerda, são só zumbis, bonecos de vodu: é preciso matar o feiticeiro.

Sei lá se os novos atentados foram cometidos pelo "ISIS" ou por quem quer que seja. Pode ser, pode não ser. Nem importa mais. O fato é que a culpa por este e os outros atentados recai diretamente sobre os governos traidores que promoveram e ainda promovem a imigração massiva de terceiro-mundistas e em especial de muçulmanos. E enquanto não mudar a elite, nada mudará.

E essa mudança não pode acontecer apenas localmente, em um único país europeu, pois os outros se voltarão contra ele, e se não serão os EUA que bombardearão que nem fizeram com a Sérvia quando "ousou" manter como sua a província rebelde muçulmana de Kosovo. É preciso cortar todas as cabeças da hidra globalista ao mesmo tempo, o que é bastante difícil, como sabemos.

Alguns dizem que vários destes atentados e tiroteios recentes, para não falar do 9/11, sejam operações da CIA, do MOSSAD, do MI-5, ou então meras manipulações midiáticas de terror psicológico. Para mim, isso seria até, de certa forma, um consolo. Ao menos mostraria que os euros não estão apenas à mercê de qualquer refugiado recém-chegado a fim de fazer um tiroteio ou soltar uns rojões, mas que a coisa é, ao menos, um pouco melhor planejada. 

Estou cansado, estou profundamente cansado, mas infelizmente não vejo nada no momento que acorde o homem ocidental do seu torpor. 

Se não mudar o status quo, nada mudará no meio-tempo, por mais atentados que ocorram, portanto, vou hibernar, acordem-me apenas quando isso acontecer.

Boa noite.

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Foto de uma chinesa albina, para preventivamente 
impedir discussões sobre brancura

sexta-feira, 18 de março de 2016

A era do caos

Um texto confuso, para tempos confusos.  Leiam com cautela.

Muito tem se falado aqui sobre a problemática da migração descontrolada, mas e se o problema fosse outro? E se o problema fosse simplesmente mais cultural e sociológico, ou, indo ainda mais adiante, mental, espiritual? E se o problema não fossem "eles", mas "nós"?

Alguns acreditam que a Genética importa mais do que a Cultura. Talvez isso seja relativamente verdade para o indivíduo, mas não creio que seja de todo verdadeiro para as massas.

Afinal, se isso fosse verdade, o que explicaria as mudanças de uma geração para outra? Por que os brancos europeus já dominaram o planeta inteiro e hoje se acovardam na frente de alguns arruaceiros mexicanos ou muçulmanos e nem conseguem expulsá-los? Por que os escandinavos eram guerreiros e hoje são em sua maioria pacifistas e feministas? Por que os tchecos já foram Católicos fundamentalistas ainda no começo deste século e viraram hoje em sua grande maioria ateus?

E por que os sumérios ou os etruscos não existem mais, muito embora seus genes ainda provavelmente existam, misturandos naturalmente com os de vários outros povos?

Por que os judeus ainda existem, não obstante a sua saga pelo mundo e suas diversas misturas? 

E se o problema não fosse simplesmente populacional e demográfico, mas bem mais grave, e bem mais antigo?

Alguns pensadores como Julius Evola, Oswald Spengler, entre outros, já vinham cantando essa pedra há tempos. A decadência europeia já vem desde a Revolução Francesa, e desde então só se agravou. A Europa morreu em 1914. Os EUA em 1965. (Mas já em 1945 isso já se evidenciava).  

Desde então, o mundo só se piorou, ou poderíamos dizer que se americanizou. Multiculturalismo, minorias barulhentas, cultura materialista, importância dada ao dinheiro mais do que à cultura, etc. A idéia de um "país de imigrantes" também veio dos EUA. Os EUA, fundados por maçons, foram o germe do globalismo desde o início.

Porém, a própria imigração, não podemos dizer que seja o problema em si. 

Por exemplo, recentemente os ingleses criaram uma lei para impedir trabalhadores especializados estrangeiros que ganham menos de 35 mil libras por ano de se instalarem no país. A lei afeta principalmente trabalhadores brancos autralianos e americanos - ou seja, anglos. (E é verdade que vez por outra os ingleses também reclamam dos polacos que roubam seus empregos.) 

Enquanto isso, árabes, paquistaneses e africanos de segunda ou terceira geração encostados no welfare são considerados "ingleses" puros, cidadãos plenos com todo o direito de permanecer, mesmo que cometam atos de terrorismo, estupro ou assalto. Alguns até vão lutar junto ao ISIS, e depois voltam.

Então, o problema é a imigração? Não, o problema é a falta de consciência. Perdeu-se o conhecimento do que é obviamente bom e do que é obviamente ruim. E perdeu-se a consciência de pertencer a algo maior, tanto no nível religioso e cultural quanto metafísico.

Existem imigrantes bons e imigrantes ruins, e existe a ralé, que independe de seu status migratório.

Vejam aqui na Austrália o que um grupo de "jovens" (interessante como para a mídia são apenas "jovens") residentes de origem sudanesa e polinésia aprontaram. A razão? "Tiveram um longo e tortuoso caminho até a Austrália, e não se adaptaram bem". Aí, naturalmente, criaram gangues.
 
"Uma sociedade é medida por como trata seus seres mais vulneráveis". A frase já foi atribuída a Dostoyevsky, Ghandi, Samuel Johnson e Martinho da Vila. Não sei se é verdade, mas, se for, pensemos na sociedade branca euro-descentente atual. 

As suas criaturas mais vulneráveis são crianças, e, logo depois, jovens moças adolescentes. Elas estão abandonadas ao seu destino. 

Vejam por exemplo o triste caso desta jovenzinha sueca, claramente com problemas mentais, primeiro abandonada pelos pais, depois pelo Estado, caiu nas drogas e finalmente fugiu da sua cidade aos 14 anos para engravidar de um imundo terrorista árabe. Seguiu-o até as Arábias e depois voltou, arrependida.Com um bebê terrorista a tiracolo, que será um novo cidadão sueco, pronto para contribuir com o bem-estar geral.

Ainda pior ocorreu às jovens moças brancas da cidade inglesa e Rotterham, seduzidas e logo forçadas à prostituição por uma gangue de paquistaneses. Onde estavam os pais, as mães, os vizinhos, a sociedade, a autoridade, o Estado?

Se você não cuida de seus seres mais vulneráveis, quem cuidará? 

Mas a razão de tudo isso não é demográfica nem genética. O povo europeu está imerso em uma crise espiritual sem precedentes. Não acredita mais em si mesmo, nem tem mais conexão com uma verdade superior, além do materialismo mais crasso. 

De acordo com os antigos hindus, estamos no período de Kali Yuga, "a era da discórida", ou a "era do caos". De acordo com antigas profecias, esta fase tem as seguintes características:

- Os líderes se tornarão tirânicos ou perigosos;
- As pessoas começarão a migrar;
- Avareza e ódio serão comuns;
- A luxúria será vista como socialmente aceitável e o ato sexual será visto como o aspecto central da vida;
- As pessoas se tornarão viciadas em bebidas e drogas;
- As pessoas não respeitarão mais promessas, o pecado aumentará, alguns terão pensamentos assassinos sem motivo e não verão nada de errado nisso;
- Ninguém mais respeitará os gurus.

Parece a nossa época atual, não parece? Vejam o homem e a mulher ocidental atuais em toda a sua glória:




E estes apenas para alguns leitores que nunca acham ninguém suficientemente branco:




Bem-vindos à era de Kali Yuga!

quarta-feira, 16 de março de 2016

O eterno implicante

Temho uma certa tendência para questionar tudo, ou até, implicar. Nem sempre com motivos lógicos, é apenas parte da minha personalidade ranzinza e anticonformista. Nesse sentido sou como os velhos anarquistas de outrora: "si hay gobierno, soy contra!"

Gosto de questionar ícones e vacas sagradas, o que por vezes causa estupor nos leitores, de um lado ou de outro. Critico a esquerda, mas nem sempre me alimho com os conservadores. Questiono o igualitarismo mas tampouco gosto do preconceito racial ou cultural, afinal poderia acontecer comigo também, já que posso ser nos olhos de muitos apenas mais um imigrante imundo. 

No caso do texto anterior sobre a meritocracia, não quis desmerecer aqueles que trabalham duro de sol a sol e conseguem subir de vida, e nem mesmo negar que o trabalho constante ou o talento não tenham recompensa, nesta ou quiçá em outra vida. 

É verdade que às vezes parece que os bons só se ferram e os espertalhōes só se dão bem, que os valores sociais hoje em dia estão todos invertidos e que a própria meritocracia mais parece um jogo com dados viciados, beneficiando alguns e prejudicando outros. Mas o fato de uma solução ser imperfeita não significa que seja de todo ruim.

O sucesso e o fracasso são sempre relativos e depende de como os medimos. Sempre haverá alguém com maior sucesso material do que nós, ou, para aqueles como eu que não medem o sucesso apenas em termos materialistas,  de qualquer forma a grama do vizinho sempre será mais verde, por mais adubo que coloquemos. Natureza hunana, nada mais. 

De qualquer maneira, acho importante questionar tudo, mesmo as mais antigas certezas, nem que seja para poder crer ainda mais nelas, ou quem sabe para criar algumas novas. Vivemos em uma época em que se aceita de forma demasiado pacífica as ideias que vem impostas desde cima - e isto ocorre tanto na "direita" quanto na "esquerda". Poucas pessoas pensam verdadeiramente de forma independente: a maioria simplesmente escolhe seu "time de futebol" ideológico, e segue a manada. 

Mas o eterno questionamento também tem seu amargo preço: viver permanentemente em um estado de indecisão, angústia e perguntas sem fim, sem ter nenhuma certeza a não ser aquela de Sócrates: "só sei que nada sei!"







Você acredita na meritocracia?

Enquanto não escrevo um post mais importante sobre a crise espiritual afetando o Ocidente, perderei aqui algumas linhas falando sobre o conceito de "meritocracia".

O conceito de meritocracia é amado em especial pela direita atual, pelo qual esta se revela quase tão ignorante quanto a esquerda. 

Segundo esta teoria, se alguém chegou no topo, é por "mérito". Não admira que a elite goste tanto da palavra "meritocracia", afinal, não apenas é a elite e tem o poder sobre os demais cidadãos, como seus membros podem pensar sem culpas que tudo que obtiveram foi por puro "mérito".

Qual seria esse mérito, nunca é muito bem explicado. O mérito de ter bons contatos, o mérito de ter parentes importantes, o mérito de ser capaz de esfaquear pessoas pelas costas, o mérito de ter uma inteligência (ou apenas esperteza) superior?

Nas características genéticas, como beleza e inteligência, determinadas em grande parte antes de se nascer, não há mérito. Mas mesmo nos outros aspectos, como esforço ou perseverância, o mérito também é relativo (e provavelmente tem causas genéticas também). O mérito está relacionado com aquilo a que a sociedade como um todo dá mais valor. Mas e se esses valores forem um lixo?

Uma boa pianista de música clássica precisa estudar por décadas e praticar várias horas por dia; ganha uma miséria, ou precisa ter outras ocupações para se manter. Já cantores como Latino ou Beyoncé, que nem precisam saber sequer tocar um instrumento, ganham milhões. Mérito? Maior apelo popular, é possível, mas por que essa deveria ser a única medida?

Em sociedades tradicionais, as classes eram definidas mais ou menos pelo nascimento. Um pobre poderia até ascender socialmente, mas era raro, salvo que fosse pelo casamento. Porém, era mais fácil de certa maneira para o sujeito se conformar com o seu papel. Ele tinha um lugar na ordem social; talvez pequeno, mas não por isso menos importante. 

Hoje, o pobre não consegue ascender, e ainda por cima recebe apenas insultos de seus superiores: "Isto acontece porque você é burro, preguiçoso, incompetente! Não estudou, não trabalhou!"

Enquanto o rico nem ao menos se culpa por ser bem nascido. Se chegou lá, foi por "trabalho árduo" e "motivação".  É bom poder pensar assim. Mas é real?

A idéia da "meritocracia" torna-se ainda mais dolorosa em um mundo igualitarista que advoga o conceito de "tabula rasa" e nega as diferenças entre sexos, raças, culturas. Neste caso, o que pode fazer um branquelo introvertido que não ascendeu socialmente nem sexualmente, se não pensar que "não se esforçou o suficiente"?

O problema é que a esquerda também combate a meritocracia nos moldes errados. Pois também a esquerda, e ainda mais do que a direita, nega as diferenças naturais entre pessoas, grupos e sexos, e portanto não entende como só pessoas em sua maioria brancas e do sexo masculino parecem ter maior "mérito". Neste caso, o que pode fazer uma negra lésbica que não ascendeu socialmente, se não pensar que um "sistema branco racista e homofóbico" a está passando para trás? Qual outra explicação existe, afinal?

Curiosamente, o termo "meritocracia" foi criado de forma satírica pelo político britânico Michael Young. Ele era na verdade um crítico da meritocracia, e preferia o sistema anterior de classes definidas, mas no qual os mais humildes ao menos poderiam ter alguma chance.

Em teoria, a "meritocracia" daria lugar a uma sociedade na qual qualquer um, com trabalho e esforço, poderia ascender. Na prática, gerou uma elite imunda e miserável cada vez mais afastada dos anseios do resto da população, uma classe média cada vez mais combalida e sem esperanças, e uma classe miserável cada vez mais violenta e irracional.

A sociedade meritocrática dá valor ao extrovertido, ao sociável, ao que tem bons contatos e capacidade de liderança. Já o criativo introvertido tem um pequeno valor, proporcional apenas à sua capacidade de gerar dinheiro para o sistema. Fez uma música que vendeu muitos discos? Tem mérito. Escreveu um livro que mudou os paradigmas do pensamento humano, mas quase ninguém leu? É apenas um perdedor.

O mérito é sempre, por definição, relativo. Não podemos dizer que esforço, perseverança, inteligência e outras qualidades não sejam importantes, mas tampouco podemos dizer que estas sejam ou devam ser as únicas medidas que determinem o lugar de uma pessoa no grande grupo social.

Não quer dizer, é claro, que não haja certo, er, mérito na idéia de meritocracia, nem que o esforço, a dedicação ou a paciência não possam por ventura obter alguma recompensa (ainda que, mais filosoficamente, possamos dizer que o esforço, a dedicação e a paciência sejam a sua própria recompensa). 

E você, acredita na meritocracia? 

Meritocracia

terça-feira, 8 de março de 2016

White vs. White: o paradoxo branquelo

Na saudosa revista Mad da minha infãncia tinha um quadrinho do "Spy vs Spy". Eram dois espiões, exatamente iguais, e ambos aparentemente brancos de rosto, só que um um vestido de branco e outro de preto, que ficavam sacaneando-se mutuamente. (Incidentalmente, vi agora que dessa mesma geração da Mad, o excelente Al Jaffee, o criador das "respostas cretinas" e das dobradinhas, ainda está vivo e ativo aos 95 anos).

Bem, a atual eleição americana me lembra um pouco esse quadrinho. Em especial se pensarmos no conflito entre os supostos extremos, Sanders e Trump.

Sanders é o mais apoiado pelo público jovem branco americano universitário. É a geração "Portlandia", brancos superprotegidos vivendo em bolhas culturais regadas a capuccino do Starbucks e compras naturebas no Whole Foods. São defensores do multiculturalismo e são anti-racistas, mas, paradoxalmente, vivem em sua maioria em bolhas brancas. Se vivessem em meio a um verdadeiro multiculturalismo e multiracialismo, tal sonho sequer seria possível. Não há espaço em seu mundo para a violência das minorias e, quando esta irrompe, eles reagem com uma surpresa atônita.

Uma coisa que o progressista médio, não obstante todo o seu anti-racismo explícito, não percebe, é a seguinte: minorias não-brancas, na maior parte, não são progressistas, aliás, são bem conservadoras. A maioria dos negros e mexicanos odeiam gays e travestis. Asiáticos são abertamente racistas. E os muçulmanos não são muito ligados nesse tal de feminismo. (Os europeus progressistas pró-refugiados estão descobrindo a mesma coisa estes dias).

Se as minorias votam em partidos de esquerda, é por puro auto-interesse, mas sem ter esse idealismo tolo dos brancos de Portland e Seattle.  

Do outro lado do espectro está Trump. Trump também apela principalmente aos brancos, mas a outro tipo de branco, mais calejado pela vida. Brancos pobres, proles ou remediados, brancos que perderam o emprego para mexicanos, brancos que foram assaltados ou que estão desiludidos com o que o establishment Republicano lhes proporcionou.

Paradoxalmente, embora sendo em teoria mais "racista", Trump tem maior apelo entre os não-brancos do que Sanders. Latinos e negros vêem em Trump uma figura de certa forma admirável no seu jeitão agressivo e televisivo, enquanto que o banana Sanders só é empurrado e desrespeitado.

Sanders e Trump são no fundo apenas os "proxies" para duas categorias de brancos nos EUA que mutuamente se odeiam e desprezam: os brancos progressistas hipsters socialistas utópicos confortáveis, e os brancos rednecks pobres desiludidos racistas. E não há ponte que os una.  

E o paradoxo maior é que, do ponto de vista branquelo, ao menos julgando seus interesses de voto como um todo, o melhor candidato seria um que cumprisse todas as loucas promessas sociais de Sanders (universidade gratuita, acabar com Wall Street, mais direitos trabalhistas), mas também os sonhos mais ferrenhos dos seguidores de Trump (construção de muro e expulsão de negros, mexicanos e muçulmanos).

Só que, desfa forma, este candidato fantasma seria (no caso literamente) nacional e socialista...

Rs, rs, rs, kkkk. Ou melhor: K.K.K.

(Bem, nem um nem outro precisa se preocupar: é quase certo que vencerá Hillary, a candidata de quem, paradoxalmente, quase nenhum branquelo realmente gosta.) 

E que vença o melhor.