domingo, 15 de julho de 2012

Poema do domingo


À ESPERA DOS BÁRBAROS

O que esperamos na ágora reunidos?
É que os bárbaros chegam hoje.

Por que tanta apatia no senado?
Os senadores não legislam mais?
É que os bárbaros chegam hoje.

Que leis hão de fazer os senadores?
Os bárbaros que chegam as farão.

Por que o imperador se ergueu tão cedo
e de coroa solene se assentou
em seu trono, à porta magna da cidade?

É que os bárbaros chegam hoje.
O nosso imperador conta saudar
o chefe deles. Tem pronto para dar-lhe
um pergaminho no qual estão escritos
muitos nomes e títulos.

Por que hoje os dois cônsules e os pretores
usam togas de púrpura, bordadas,
e pulseiras com grandes ametistas
e anéis com tais brilhantes e esmeraldas?
Por que hoje empunham bastões tão preciosos
de ouro e prata finamente cravejados?

É que os bárbaros chegam hoje,
tais coisas os deslumbram.

Por que não vêm os dignos oradores
derramar o seu verbo como sempre?

É que os bárbaros chegam hoje
e aborrecem arengas, eloqüências.

Por que subitamente esta inquietude?
(Que seriedade nas fisionomias!)
Por que tão rápido as ruas se esvaziam
e todos voltam para casa preocupados?

Porque é já noite, os bárbaros não vêm
e gente recém-chegada das fronteiras
diz que não há mais bárbaros.

Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! eles eram uma solução.

Konstantin Kavafis
[dica de um leitor anônimo]

Um comentário:

BRANCALEONE, Fronteira Norte da Rpública do Sul disse...

Pois olha X,
Só posso te dizer uma coisinha...

"Voce se torna responsável pelo que cativas"

Tá, eu sei, é de "O Pequeno Principe" (lí sim e daí, vai encarar???)

Se voce se afastar mesmo por uns tempos, quem vai ficar no pátio da cidadela, discursando e animando a gente aqui nas muralhas???
Toma tenência seu !!!