quarta-feira, 16 de abril de 2008

Berlusconi e umas eleições complexas

Ia escrever aqui sobre as eleições na Itália, que mereceriam uma análise aprofundada - afinal, aconteceram três modificações bastante grandes: a) o retorno ao poder de Berlusconi, mas sob uma nova coalizão; b) o crescimento da Lega Nord e c) a total saída da esquerda mais radical: zero votos. Porém não tenho muito tempo para algo muito aprofundado, portanto só dou algumas pinceladas.

Já morei na Itália e acho que os fatores que impulsaram a vitória do Berlusca vão além do simplismo de uma "volta à direita" ou do "medo à imigração".

Um, queira-se ou não, o sujeito tem carisma. É tipo o Obama, tampouco gosto de suas políticas mas não nego que ele tem carisma.

Dois, e principalmente: o povo quer estabilidade. O equilíbrio político na Itália é muito instável, muitos governos caem e os partidos brigam muito entre si. A esquerda, então, é especialista em brigar consigo mesma. O governo Prodi esteve sempre imerso em brigas porque os partidos menores, da chamada “Sinistra radicale” (esquerda radical) votavam contra o próprio governo em certos temas. Aí finalmente o governo caiu.

Notem que o povo não gostou e, como castigo, a Sinistra radicale não elegeu um único deputado. Até a deputadíssima midiática transexual comunista Vladimir Luxúria foi escorraçada/o do Parlamento.

Quanto ao crescimento da Lega Nord, é sim impulsado pelo medo ao aumento da imigração (bem como a temas internos como o problema do lixo em Napoli).

Sobre a imigração, pergunto: onde é que está escrito que os países europeus devem aceitar trocentos milhões de imigrantes sem reclamar?

O Diogo Mainardi, que também já morou na Itália, e é surpreendentemente (?) muito crítico do Berlusconi, comenta:

Eu votei no Partido Democrático. Perdi feio. Sou um especialista em derrotas eleitorais. Sempre escolho o candidato mais azarado. O Partido Democrático se opunha a Berlusconi. Não vou gastar seu tempo explicando os motivos que me levaram a votar nele. Basta dizer que numa coluna de 2003 comparei Berlusconi a Lula. E voltei a compará-los outras duas vezes. O mesmo populismo rasteiro. A mesma retórica ordinária. O mesmo aparelhamento do poder. O mesmo método plebiscitário de anistiar suas estripulias éticas por meio do voto.

Apesar disso, o resultado eleitoral italiano tem de ser comemorado. A esquerda sumiu. Acabou. Morreu. O velho fundamentalismo comunista e o novo fundamentalismo ambientalista, reunidos no mesmo partido, ficaram sem representantes na Câmara dos Deputados e no Senado. É isso aí: zero. O país que por tanto tempo se gabou de ter o maior partido comunista do ocidente finalmente se livrou desse atraso. Os sindicalistas e os verdes, que impediam qualquer tentativa de modernizar a economia italiana, conquistaram 3% dos votos e foram varridos do cenário político. Seus líderes, depois da derrota histórica, continuavam a declarar que a Itália ainda precisa da esquerda. Não precisa, não. Ninguém precisa da esquerda.

O eleitorado italiano eliminou parte do entulho regressivo que imobilizava o país. Falta a outra parte.

Na verdade, uma porção da direita mais radical (simpatizantes do fascismo) tampouco foi demasiado bem nestas eleições.

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