quinta-feira, 8 de julho de 2021

No silêncio terrível do Cosmos

No silêncio terrível do Cosmos

Há de ficar uma última lâmpada acesa

Mas tão baça

Tão pobre

Que eu procurarei, às cegas, por entre os papéis revoltos,

Pelo fundo dos armários,

Pelo assoalho, onde estarão fugindo imundas ratazanas,

O pequeno crucifixo de prata — 

O pequenino, o milagroso crucifixo de prata que tu me deste um dia

Preso a uma fita preta.

E por ele os meus lábios convulsos chorarão

Viciosos do divino contato da prata fria…

Da prata clara, silenciosa, divinamente fria — morta!

E então a derradeira luz se apagará de todo…


Mario Quintana




E agora, Mr. X?

E agora Mr. X?

O blog acabou,

a luz apagou,

a vacina falhou,

Covid continuou.

E agora, Mr. X?

E agora, infeliz!

Você que é sem nome,

você que faz versos,

que ama, protesta,

e agora, Mr. X?


Está sem leitores,

está sem discurso,

já não pode escrever,

já não pode pensar,

a noite esfriou,

o dia não veio,

leitores se perderam

alguns até morreram,

e tudo acabou

e tudo mofou, 

e agora, Mr. X?


Você está infeliz,

sem nem meretriz,

sua doce palavra

seu instante de febre,

sua gula e jejum,

sua incoerência,

seu ódio - e agora?


Se você blogasse,

se você gritasse,

se você tocasse

a valsa vienense,

se você dormisse,

se você morresse,

mas você não morre, 

você é duro, Mr. X! 


Sozinho no escuro

qual bicho-do-mato,

sem ideologia,

sem parede nua

para se encostar,

sem cavalo preto

que fuja a galope,

você marcha, Mr. X!

Mr. X, para onde?