segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Bumpy night

Pacote do Paulson rejeitado no Congresso. Por 40% dos Democratas e 60% dos Republicanos. A Nancy Pelosi, house speaker, fez antes da votacao um discurso irado criticando o Bush e os Republicanos, e os Republicanos nao gostaram nem um pouco. A crise beneficia os Democratas: alegria de palhaco e' ver o circo pegar fogo.

Dolar subindo, petroleo descendo.

A bolsa ja depencou e vai despencar mais.

McCain caindo, Obama subindo.

(Pareceria ilogico que em um momento de crise os americanos queiram colocar no poder alguem que tem tanta experiencia em economia quanto eu em bale' aquatico. Mas na hora do aperto, o pessoal parece preferir quem promete almoco gratis).

Fasten your seatbelts, it's going to be a bumpy night...

domingo, 28 de setembro de 2008

Marxismo e pós-modernismo em queda

Não é só a economia americana que está em queda. No Gene Expression, uma interessante série de gráficos mostra como termos como marxismo, pós-modernismo, feminismo, pós-colonialismo, orientalismo, e todas esses ismos tão em voga entre os acadêmicos - estão morrendo. Após o pico, no final dos anos 90, a curva inicia lentamente a descender.



Pareceria indicar que - finalmente! - as idéias estão se renovando. Ou então apenas que novas idéias idiotas (i.e. "aquecimento global") estão tomando o seu lugar.

Poema do domingo

L'Infinito

Sempre caro mi fu quest'ermo colle,
e questa siepe, che da tanta parte
dell'ultimo orizzonte il guardo esclude.
Ma sedendo e mirando, interminati
spazi di là da quella, e sovrumani
silenzi, e profondissima quiete
io nel pensier mi fingo; ove per poco
il cor non si spaura. E come il vento
odo stormir tra queste piante, io quello
infinito silenzio a questa voce
vo comparando: e mi sovvien l'eterno,
e le morte stagioni, e la presente
e viva, e il suon di lei. Così tra questa
immensità s'annega il pensier mio:
e il naufragar m'è dolce in questo mare.

* * *

Sempre caro me foi este ermo outeiro,

e aquela sebe, que em tão grande parte

do horizonte final o olhar exclui.

Mas sentado, a mirar intermináveis

espaços além desses, sobre-humanos

silêncios e sossegos profundíssimos,

me afundo no pensar, onde por pouco

meu coração não se amedronta. E, como

ouço o vento roçar contra estas plantas,

o silêncio infinito comparando

vou a tal voz: e sobrevêm-me o eterno,

as mortas estações, mais a presente

e viva, e o seu rumor. Assim, por esta

imensidade o meu pensar se afoga:

e o naufragar me é doce neste mar.


(Tradução: Renato Suttana)



Giaccomo Leopardi (1798-1837)


sábado, 27 de setembro de 2008

Mr X na América!

Caros leitores, vosso amigo Mr X está em Los Angeles, Califórnia, onde deverá ficar por pelo menos um ano em um projeto ultra-secreto ligado a uma universidade local. Mais, não posso dizer.

Sempre quis conhecer a Califórnia, e nos EUA havia estado apenas de visita, anos atrás. Lamentavelmente, fui chegar aqui logo em plena crise econômica (a mais séria desde 1929 dizem alguns), e com um muçulmano comunista safado prestes a tomar de assalto a presidência. Põe azar nisso.

Ao menos poderei acompanhar as eleições americanas ao vivo, e quem sabe até visitar o famoso colega do prestigioso blog, agora meu vizinho.

Lamentavelmente, a postagem nos próximos dias será provavelmente algo errática. Aliás, estou até considerando se deveria continuar com o blog, e, caso continuar, se seguir da mesma forma que está indo, ou fazer algumas modificações substanciais. Uma das coisas que pretendo mudar é o meu pseudônimo: em vez de Mr X, algo que ao menos tenha mais cara de nome de gente. Mas, não sei ainda. Sei apenas que, por ora, por questões de trabalho não poderia utilizar meu nome real, que aliás é tão anônimo como qualquer outro pseudônimo.

Alguém tem alguma sugestão?

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O mundo está ficando pior ou melhor?

Crise econômica no mundo. Ditadura teocrática maluca prometendo genocídio atômico de um outro país sem que ninguém faça nada. Estudantes matando outros estudantes em orgias de sangue em troca de quinze minutos de fama no Youtube.

O mundo está ficando pior ou melhor? Confesso que não sei. Às vezes me preocupo. E preferiria pensar que no passado tudo era mais simples.

E, no entanto, será que era mesmo? Setenta anos atrás ocorria o maior genocídio da História. Trinta anos atrás qualquer mal-entendido entre russos e americanos ameaçava explodir o mundo inteiro. Assasinos psicóticos sempre houveram. O mal sempre existiu, em toda a sua banalidade.

Por outro lado, a ciência, a tecnologia e a medicina nunca evoluíram tanto. A prosperidade espalhou-se pelo mundo. Não obstante os lamentos dos anti-capitalistas, radicais ecologistas, malucos socialistas, idiotas fundamentalistas e demais descontentes de plantão, a pobreza diminuiu muito nos últimos cem anos em todo o mundo. Há menos pobres e até menos desigualdade social. Maior longevidade e melhor qualidade de vida.

E, no entanto, nuvens cinzentas pairam (como sempre) no horizonte. E ninguém sabe bem o que vai acontecer.

O mundo está ficando pior ou melhor? Talvez esteja como sempre esteve.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Um bicho às terças



O jaburu é a ave símbolo do Pantanal. Também é um apelido para mulher feia, o que é injusto, já que o bicho nem é assim tão horrível. É ainda o nome da residência do vice-presidente em Brasília, o que poderá causar mal-entendidos quando alguma mulher ocupar o cargo.

Aparentemente há uma confusão entre o tuiuiú (Jaburu mycteria) e o jaburu (Mycteria americana), cujos nomes às vezes são trocados ou usados indiferentemente embora sejam, segundo a Wikipedia, espécies diversas ainda que parecidas.

O pássaro é um ciconiforme e alimenta-se de peixes e caramujos, embora também coma insetos e pequenos vertebrados terrestres de forma ocasional. O seu período de reprodução coincide com a baixa das águas, momento em que muitos peixes ficam presos nas lagoas e baías, facilitando sua pesca.

O casal fica unido pelo menos durante o ciclo reprodutivo, executando danças em dueto e batendo seus longos bicos, maiores nos machos do que nas fêmeas. Nessas ocasiões, a pele vermelha do papo fica mais ressaltada, devido ao aumento da irrigação sangüínea.

Mamãe jaburu põe entre 4 e 5 ovos. Os filhotes saem do ninho aos 3 meses de idade, acompanhando os pais no ninho nas suas primeiras semanas de vida. Os filhotes não tem ainda o papo vermelho e são realmente meio feinhos.

É o bicho às terças de hoje.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Islamismo ou esquerdismo: qual é pior?

O islamismo é violento e radical. Oprime as mulheres e declara guerra aos infiéis. Quer a expansão da religião pela violência e a criação de teocracias totalitárias, bem como a destruição de EUA e Israel.

Já o esquerdismo quer, a princípio, a paz no mundo e a igualdade social. Mas baseia-se em uma visão distorcida e irreal do mundo, em que os defeitos da humanidade podem ser "corrigidos" através de um sistema político-social mais justo. Nesse mundo ilusório, paz resulta do "diálogo" e um mundo sem pobreza pode ser obtido por decreto, "distribuindo a riqueza". O esquerdismo, assim, causa mais problemas do que soluções, enfraquece os valores da sociedade e a torna mais vulnerável a inimigos externos, como o islamismo ou potências imperialistas.

Portanto, pergunto-me qual o maior inimigo da civilização ocidental: será o islamismo ou será o esquerdismo? Responda em exclusiva pesquisa!

Links sobre minorias

O discurso que Sarah Palin foi impedida de fazer no protesto contra o presidente iraniano anti-semita: "Iran is responsible for attacks not only on Israelis, but on Jews living as far away as Argentina. Anti-Semitism and Holocaust denial are part of Iran's official ideology and murder is part of its official policy. Not even Iranian citizens are safe from their government's threat to those who want to live, work, and worship in peace. Politically-motivated abductions, torture, death by stoning, flogging, and amputations are just some of its state-sanctioned punishments. It is said that the measure of a country is the treatment of its most vulnerable citizens. By that standard, the Iranian government is both oppressive and barbaric. Under Ahmadinejad's rule, Iranian women are some of the most vulnerable citizens."

Lula e o enfático apoio ao casamento gay, surpreendentemente ignorado pela mídia.

O racismo no Brasil, ou como um país miscigenado pode estar virando mais racista graças às políticas identitárias: "Em coisa de 6 anos, desde a ascenção ao poder dessa mistura de Partido Democrata com Partido Comunista da União Soviética que é o PT, os "pardos" desapareceram alegremente numa ilusão de carnaval. Um genocídio conceitual, temos agora um país 50% preto, 50% branco, e já pouco importa que 80% dos brancos sejam algo pretos - como eu - e o evidente vice-versa."

Aliás, Thomas Sowell também fala sobre racismo e cotas racias em sua última coluna. "Part of the problem is the "multicultural" ideology that says all cultures are equally valid. It is hard even to know what that means, much less take it seriously as a guide to living in the real world. Will time and energy spent on rap music and wearing low-riding baggy pants like guys in prison— as badges of identity— provide as good a future for young people as learning math, computers and the English language?"

domingo, 21 de setembro de 2008

Poema do domingo

Araras versáteis

Araras versáteis. Prato de anêmonas.
O efebo passou entre as meninas trêfegas.
O rombudo bastão luzia na mornura das calças e do dia.
Ela abriu as coxas de esmalte, louça e umedecida laca
E vergastou a cona com minúsculo açoite.
O moço ajoelhou-se esfuçando-lhe os meios
E uma língua de agulha, de fogo, de molusco
Empapou-se de mel nos refolhos robustos.
Ela gritava um êxtase de gosmas e de lírios
Quando no instante alguém
Numa manobra ágil de jovem marinheiro
Arrancou do efebo as luzidias calças
Suspendeu-lhe o traseiro e aaaaaiiiii...
E gozaram os três entre os pios dos pássaros
Das araras versáteis e das meninas trêfegas.

* * *

Dez chamamentos ao amigo

Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse

Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.

Hilda Hilst (1930-2004)

sábado, 20 de setembro de 2008

De inveja feminina e instinto suicida

Hillary Clinton e Sarah Palin foram convidadas para uma marcha contra a presença do presidente iraniano genocida em Nova York (ele vai fazer um discurso nas Nações Unidas). Hillary, despeitada, recusou-se a participar ao lado de Sarah Palin. Assim, os organizadores, por pressão Democrata, desconvidaram Sarah Palin, pois afinal sua presença isolada poderia "politizar" a marcha. (Curioso, a marcha só se politiza se políticos conservadores participam...)

Enquanto isso, pacifistas partidários de Obama querem oferecer um suntuoso jantar ao genocida iraniano, em plena Nova York, palco dos maiores atentados islâmicos jamais realizados na história do universo...

...e ativistas de esquerda na Alemanha impedem com fogo, pedras e violência a realização de uma manifestação contra a construção de uma mesquita. Os "fascistas" foram considerados aqueles que apanharam e foram impedidos de se manifestar.

Às vezes acho que os progressistas não têm tanto uma idelogia quanto pulsões suicidas. Querem morrer. O problema é que querem levar todos juntos nessa.

Morte aos velhos


No livro "Diario de la guerra del cerdo", o escritor Bioy Casares imaginava uma sociedade hipotética em que os jovens começavam a matar os velhos.

Pois a Baronesa Warnock, britânica especialista em ética médica (é o que diz o jornal, e devemos sempre acreditar no que dizem os jornais), sugere que os velhinhos com Alzheimer e outras doenças degenerativas têm o "dever de morrer". É isso mesmo: ela disse dever, não direito.

Disse mais: disse que tais pessoas estariam "desperdiçando as vidas dos outros", bem como "os escassos recursos da saúde pública." Portanto, se tais pessoas não podem nem cuidar de si mesmas, deveriam ter a clareza de compreender que são apenas um gasto de tempo e esforço para seus familiares e para os médicos, e, caso não possam cuidar de si mesmas, deveriam ser "abatidas" (put down foi a expressão que ela usou - expressão mais utilizada com cães doentes).

Embora ela afirme que o procedimento seria estritamente voluntário (ninguém seria abatido contra a sua vontade), ao indicar que a saúde financeira do Estado ou a conveniência dos familiares é mais importante do que a vida do cidadão, coloca o velhinho numa sinuca de bico: o próprio ato de querer continuar vivo é um erro, um peso para os outros. Mais: é difícil saber se alguém que sofre de Alzheimer ou outro tipo de doença degenerativa está realmente o bastante lúcido como para saber o que está decidindo.

A mesma especialista, "uma das mais importantes nomes da filosofia moral britânica" (é o jornal que garante!), já havia sugerido anteriormente que os aposentados que não quisessem ser um peso para as suas famílias e para o Estado deveriam poder escolher a morte. (É impressionante como para essas pessoas o Estado é mais importante do que o indivíduo; é quase uma espécie de Deus).

Detalhe: a Baronesa Warnock tem 84 anos. Não consta que queira fazer parte do programa de extinção voluntária.

Mais terríveis do que as idéias da filósofa demente são os comentários abaixo. Embora a grande maioria seja contra, alguns afirmam coisas como esta:

"A compaixão é inútil se não for pragmática. O orçamento da saúde não é infinito. Portanto, escolhas devem ser feitas. Cada 1.000 gastos com um velhinho demente, que provavelmente teve a vida mais longa do que muitos, são 1.000 a menos gastos com crianças doentes".

Ou ainda: "O dinheiro público deveria ser utilizado em investir no futuro das pessoas, não em manter os semi-mortos vivos".

Em nome do pragmatismo e dos recursos limitados da saúde pública, já há gente querendo executar os velhinhos. Eis onde nos leva o "Estado de bem-estar social". E eis aí os perigos da eutanásia. Começa-se com os doentes terminais. Logo passa-se aos velhinhos com Alzheimer. Depois é a vez dos aposentados que o Estado já não pode sustentar. Os paraplégicos. Os portadores de Down. Os ciganos. Os judeus.

Enfim, acho que vocês entendem a idéia.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Os ativistas profissionais

Uma das coisas mais irritantes dos tempos atuais são os ativistas profissionais. Imbecis que se auto-promovem em nome de uma causa. Pode ser a causa palestina, a desigualdade social, o aquecimento global, os direitos humanos dos bandidos, não importa desde que seja uma causa politicamente correta. O importante é se auto-promover.

A cunhada do Tony Blair, idiota útil e ativista profissional, está em Gaza. Chama aquilo lá de "campo de concentração". Pois eis uma foto da moça no tal "campo de concentração". É o primeiro campo de concentração com supermercado que vejo. Aliás, bem mais fornido do que o da esquina aqui de casa:


Se burrice matasse, teríamos um genocídio... Outra notícia, esta publicada no jornal O Globo:
A organização de defesa de direitos humanos Projeto Legal entrou nesta quarta-feira, na Vara de Infância e Juventude, com uma ação civil pública, com pedido de liminar, contra o governo estadual para exigir que os adolescentes infratores atendidos pelo Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase) sejam identificados somente por seus nomes. Segundo a entidade, atualmente, os jovens são chamados por números, o que resultaria em danos psicológicos.
Pois eu digo que ler notícias sobre ativistas de "direitos humanos" de organizações com nomes imbecis, que em geral só protegem traficantes, ladrões ou terroristas, está me causando sérios danos psicológicos. A quem será que posso recorrer?

Nelson Rodrigues e a decadência cultural do Brasil

Estou lendo "A Cabra Vadia" e "O Reacionário", livros de crônicas e memórias de Nelson Rodrigues. A maior parte são textos publicados entre 1968 e 1970, e tocam bastante o tema político e cultural da época. Na verdade, assisti sim algumas peças, mas nunca tinha tido tanto interesse em Nelson Rodrigues, talvez por associá-lo a alguns filmes muito ruins do cinema nacional, bem como às colunas do insuportável Arnaldo Jabor que sempre o cita. Mas as suas crônicas são o que há. São ainda em grande parte atuais, especialmente a gozação que ele faz das esquerdas. Eis um trecho:
O brasileiro simples formou do esquerdista patrício uma imagem inteiramente irreal. O pai de família imagina que um socialista tem uma barricada em cada bolso. Eu próprio, no 31 de março e 1 de abril, andei tecendo fantasias hediondas. Imaginava que o sangue jorraria e que as ratazanas iam sair dos ralos para bebê-lo. E não se derramou nem groselha.

Só muito tempo depois eu descobriria a verdade, que é a seguinte: - as nossas esquerdas não têm nenhuma vocação do risco. E possuem a vocação inversa da segurança. Ainda ontem, falava eu da sábia distância que vai do Antonio's ao Vietnã. Aí está tudo dito. E, assim, sem arredar pé do Antonio's, e bebendo cerveja em lata, as esquerdas não morrerão jamais.

O leitor há de perguntar, com irritação e escândalo: "Mas elas não fazem nada?" Responderei: - "Fazem." Insistirá o leitor: - "E fazem o quê?" Direi: - "Autopromoção". É a pura verdade. A esquerda não sai por aí, derrubando bastilhas e decapitando marias antonietas, porque está ocupada em se autopromover.
Ou ainda:
Temos uma massa de intelectuais. Numericamente, não estamos atrás de ninguém, nem da União Soviética. Na Rússia há, registrados, seis mil e tantos escritores (e o sujeito que não foi registrado não é escritor. Mesmo que tenha escrito A divina comédia, não é escritor).

Pode parecer que, numericamente, a União Soviética está à frente dos Estados Unidos. Dos Estados Unidos, talvez. Do Brasil, não. Vocês se lembram da última passeata. Antes do desfile, fui ver a concentração. Levei comigo o Raul Brandão, pintor de grã-finas e igrejas. E espiamos o espaço reservado aos intelectuais. Parecia uma massa de Fla-Flu. Jamais nos ocorrera que a "inteligência brasileira" fosse tão abundante. No seu horror, o Raul Brandão perguntava: "Tudo isso é intelectual?"

Fomos olhar, outra vez, a tabuleta. Lá estava escrito, acima de qualquer dúvida ou sofisma: - "Intelectuais." Portanto, os intelectuais eram intelectuais. E então, passo a passom, tratamos de identificar os nossos poetas, os nossos ensaístas, os nossos dramaturgos, os nossos sociólogos, os nossos professores. Eis a lamentável e quase grotesca verdade: - depois de buscas ingentes, não identificamos ninguém. (...)

Quem devia estar ali era a Academia Sueca, apalpando, farejando, a "literatura brasileira". Se pose é um dado válido, todo mundo ali era Proust, era Joyce, era Balzac, era Cervantes. Uns ficavam de perfil, outros de frente, outros de três-quartos, outros punham as mãos nas cadeiras. Atrás de mim, o Brandão gemia: - "Como são inteligentes!" Eram, sim, inteligentíssimos.
Nelson Rodrigues era um profeta que via o óbvio. Mas o que aconteceu no fim foi o seguinte: as esquerdas não só sobreviveram, como venceram. Estão no poder e dominam 99% do discurso.

Somado a esse fato, e provavelmente relacionado a ele também também, ocorreu uma incrível decadência cultural. Nos anos 50 e 60 apesar de tudo ainda existiam ótimos escritores e intelectuais no Brasil: Guimarães Rosa, Nelson Rodrigues, Otto Lara Resende, Sabato Magaldi, Lúcio Cardoso, Manuel Bandeira, etc. Na música, Tom Jobim, Vinicius de Moraes. Hoje o maior intelectual do Brasil é Paulo Coelho. E o grande fenômeno musical é a dança do créu.

Nelson Rodrigues tinha um conselho aos jovens: "Envelheçam". Eu tenho outro: "Leiam as crônicas de Nelson Rodrigues".

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Ayaan Hirsi Ali e o anti-americanismo

Ayaan Hirshi Ali, retrucando ao anti-americanismo barato de um entrevistador imbecil:

"Você consegue cuspir na liberdade porque cresceu em meio à liberdade e não sabe o que realmente significa viver sem liberdade. Eu sei."

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Privacidade para uns mas não para outros

Há pouco, hackers invadiram o e-mail pessoal da candidata a vice Sarah Palin e publicaram parte de seu conteúdo na rede (a conta foi cancelada pouco depois).

Curiosamente, são as mesmas pessoas que ficam histéricas quando o governo Bush invade a privacidade de terroristas islâmicos.

Não foi encontrado nada nos e-mails, é claro. Mas, em apenas três semanas, investigou-se dez vezes mais sobre Sarah Palin do que sobre Barack Obama, o qual não autorizou a publicação de sua tese de graduação ou notas escolares, recusa-se a divulgar sua história médica, divulgou um certificado de nascimento duvidoso apenas através de um blog, e jamais contou quais são exatamente as suas relações com o terrorista Bill Ayers ou o picareta Tony Rezko. Ninguém parece ter curiosidade em saber nada.

Loucademia universitária

Antigamente as universidades eram consideradas templos do saber. Hoje mais parecem usinas de produção de loucura. Abaixo, trechos de uma dissertação de mestrado de Antropologia sobre a "sexualidade camponesa". Está disponível online para quem quiser ler, mas não cito a fonte diretamente para não embaraçar ainda mais seu autor (erros de português em vermelho):

Rapidamente já éramos oito homens no meio da caatinga. Neste ínterim, começaram todos a se tocar, a se acariciar, em silêncio, ouvi-se apenas os sussurros, os insetos e os pássaros nas moitas. Corpos suados, homens despidos, naquela penumbra da noite, em que não dava para saber, pois a intenção era experimentar o acontecimento, quem era o “ativo” ou o “passivo” no intercurso sexual, quem era André, Tadeu, Juca, Joaquim, Ivo, Mário etc. Apenas corpos, exalando um cheiro intenso de esperma. Pura criação. Ao término, quando os pais-de-família ejacularam, André finalmente quebra o silêncio e diz: vão na frente. Depois eu, Tadeu, Mário, Ivo e Paulo [antropólogo] vamos depois!

Nesse contexto, quanto mais mal-dito eu ia me tornando, via rumores, mais os homens goiabeirenses me procuravam, na maioria das vezes, excitados, falando sobre o tamanho dos seus pênis e de suas performances sexual para com as mulheres e animais.

Não se trata de identidade homossexual, não se trata de identidade cultural, mas das infinitas possibilidades do corpo. Os mal-ditos viados de Goiabeiras, é válido ressaltar que eles não assumem nada, engendram uma máquina de guerra estética, alicerçada por uma ética e por uma estética dos afectos, que faz ricochetar os ditames do parentesco, como veremos. Este corpo-receptáculo para o gozo, receptor do sêmen do Outro, faz acontecer ritos iniciático, no âmbito das sexualidades, com muitos jovens imberbes no vilarejo. Gerações passam por este corpo-receptáculo mal-dito. Meninos-homens que experimentam os prazeres da carne com o mesmo e concomitantemente com suas esposas e animais.

Por que o camponês no Brasil parece cumprir uma missão divina (cristã e acadêmica) em que a sexualidade, na grande maioria das pesquisas, é para a reprodução da espécie? Esta dissertação tem como principal propósito da vazão ao corpo, fazê-lo gozar.

O que explica esse disparate pornográfico, entremeado com citações a Barthes e Foucault?

O problema é a educação. Uso essa frase feita com um outro sentido: o problema não é a falta, mas o excesso de educação. De um certo tipo de educação, é claro.

Parafraseando Rousseau, o homem não nasce esquerdista. É a sociedade que o transforma. Ninguém nasce acreditando na necessidade da "justiça social" e na vilania da cultura branca ocidental judaico-cristã; são as escolas, mídia e universidades que transmitem essa ideologia às pessoas. Imagino o professor que corrigiu o trabalho. Citar o "Outro", assim mesmo em maiúsculas? Confere. Utilizar expressões bacanas mas sem sentido como "máquina de guerra estética"? Confere. Criticar a moral cristã ou burguesa? Confere. Falar sem pudores sobre o homossexualismo ou até a pedofilia (meninos-homens) e o bestialismo (animais)? Confere. Citar intelectuais franceses? Confere.

Não tenho dúvidas que o aluno que escreveu a dissertação acima tirou nota máxima, com louvor. Repetiu a cartilha à perfeição.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Um bicho às terças

Sem tempo de preparar um bicho às terças exclusivo, deixo vocês com uma coletânea de gatos do Youtube. Aliás, dúvida cruel: o que seria do Youtube sem os vídeos de gatos?

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O novo rei da coca

Ia falar sobre a crise boliviana, mas fiquei com preguiiiiça... Aí só linko para uma matéria aparentemente (mas só aparentemente) não relacionada, que mostra que Chávez se tornou o maior traficante de cocaína das Américas... E um dos homens mais ricos do mundo.

domingo, 14 de setembro de 2008

Horrores da China

Assisti as Olimpíadas chinesas e nada tenho contra o povo chinês. Porém, o Partido Comunista que os governa é realmente abominável.

Uma das políticas mais criminosas deste é a tal "one-child policy", que decreta que cada casal só pode ter um filho, sob pena de multa, perda de emprego, prisão ou até seqüestro da criança. Não apenas é uma afronta à liberdade das pessoas (cadê os "direitos reprodutivos"?), mas tem centenas de efeitos demolidores.

Um deles: como na cultura local os filhos homens são mais valorizados, o resultado é que grande parte das mulheres que nascem são imediatamente abortadas. Assim como na Índia, ocorre um verdadeiro "fetocídio" de milhões de mulheres, causando inclusive desequilíbrio entre os gêneros.

Algumas não são abortadas, mas têm um destino talvez pior: são abandonadas e terminam em orfanatos estatais chineses como os do vídeo abaixo (visto no blog do Conde), onde bebês são amarrados ou presos em bancos que lembram instrumentos de tortura para escravos. Assistam e chorem.

Mais: como mostra estre outro vídeo aqui, as crianças com defeitos físicos são imediatamente abortadas por ordem do Estado sem que a mãe tenha qualquer tipo de escolha. Isso tem um nome: eugenia. Os nazistas já faziam. Certos esquerdistas radicais querem fazer também.

Poema do domingo

Cut

What a thrill -
My thumb instead of an onion.
The top quite gone
Except for a sort of hinge

Of skin,
A flap like a hat,
Dead white.
Then that red plush.

Little pilgrim,
The Indian's axed your scalp.
Your turkey wattle
Carpet rolls

Straight from the heart.
I step on it,
Clutching my bottle
Of pink fizz. A celebration, this is.
Out of a gap
A million soldiers run,
Redcoats, every one.

Whose side are they on?
O my
Homunculus, I am ill.
I have taken a pill to kill

The thin
Papery feeling.
Saboteur,
Kamikaze man -

The stain on your
Gauze Ku Klux Klan
Babushka
Darkens and tarnishes and when
The balled
Pulp of your heart
Confronts its small
Mill of silence

How you jump -
Trepanned veteran,
Dirty girl,
Thumb stump.

Sylvia Plath (1932-1963)

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Educação sexual


A educação sexual nas escolas serve para alguma coisa? Pesquisas indicam que tanto os jovens que tiveram aulas de educação sexual quanto os que não tiveram têm o mesmo nível de gravidez adolescente e o mesmo nível de conhecimento sobre uso de camisinha, DSTs e métodos anti-concepcionais. Se moças continuam engravidando, em geral não é por não saber a história das abelhas e das flores. Sexo sempre se aprende, não necessariamente na escola.

Mas alguns desses famosos "especialistas" argumentam que o problema é que a educação sexual começa tarde demais, e deveria ser ministrada a crianças de cinco anos. Estranho, nunca soube de crianças de cinco anos grávidas. De nove, acho que sim.

O curioso é que há dois approaches de educação sexual - o que promove a abstinência, favorecido pelos conservadores, e o chamado "comprehensive sex education", que promove os anti-concepcionais, favorecido pelos liberais - mas nenhum parece funcionar muito. As garotas continuam engravidando e os garotos continuam pegando doenças. Na verdade, os programas pró-abstinência até reduzem por um período a atividade sexual, embora seu efeito não seja muito duradouro. É algo melhor do que o método "comprehensive" (abrangente), que não tem efeito nenhum.

E o mais curioso de tudo: a maioria dos jovens americanos é a favor dos programas pró-abstinência e acredita que eles funcionam... Ué!

A perereca da professora.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

9/11

Sete anos.

Progressismo transnacional

O comunismo como sistema político-econômico já era. O islamismo é fogo de palha, violento mas sem chance de prosperar em escala global. O grande espectro que ronda o mundo é este aqui: o globalismo, ou progressismo transnacional. É o que argumenta este senhor chamado John Fonte.

Se você se perguntou alguma vez porque a esquerda moderna tem idéias que não batem com as velhas idéias socialistas, mas ao mesmo tempo tampouco fecham com o liberalismo clássico, a resposta é esta: porque o pensamento mudou. Aliás é um pensamento que não é nem de esquerda nem de direita pois tem gente dos dois lados que o apóia, e, de fato, o embate nem mesmo é entre esquerda e direita, mas sim entre a democracia liberal e o tal progressismo internacional, que é ideologia que norteia a União Européia, o Obama, o Lula, o Zapatero, a maioria dos jornalistas e centenas de intelectuais do Alabama ao Chuí.

O que diabos é isso? Tampouco sabia, até ler este link a respeito. Algumas das idéias-chave dessa neo-ideologia:
O que importam são os Grupos, não os Indivíduos. Você é Negro ou Cristão ou Latino ou Sunita ou Índio Amazônico, não um indivíduo. Você não pode escolher seu grupo, alguém o decide para você.

O objetivo é igualdade de resultados, não de oportunidades. O sistema ideal de avanço social é baseado não em mérito, mas em cotas. Isso permite maior controle por parte de uma "elite esclarecida".

Ser uma vítima é politicamente significante. Grupos com o status de vítimas devem ter influência e representação desproporcional, às expensas da cultura "dominante".

A assimilação é ruim. Imigrantes não devem se assimilar, mas manter sua cultura e seus hábitos de origem. É o sistema que se deve adaptar a eles, não eles ao sistema. A migração de pessoas através das fronteiras nacionais é um método para finalmente eliminar as próprias fronteiras e a identidade nacional nos países-alvo.

Uma democracia ideal é uma coalizão onde o poder político é dividido entre grupos de acordo a seus números. Não importa o voto do indivíduo, mas a pressão do grupo. De fato, muitas das novas leis são criadas por entidades não-eleitas e sem qualquer consulta popular, e não-cidadãos (ilegais) tem o mesmo direito que cidadãos.

A identidade nacional é uma coisa ruim. Devemos pensar que somos cidadãos do mundo, não cidadãos do país em que vivemos, e devemos minimizar os interesses nacionais, especialmente se vivemos em nações poderosas.
Tudo neste ótimo link aqui. E mais aqui. (E coisas parecidas, claro, em português nas colunas do nosso célebre anti-globalista local aqui.)

Alguns acham que essa história de "governo mundial" (fim último dos internacionalistas) é teoria de conspiração paranóica. De fato, está muito longe de tornar-se real. Mas, assim como existem islâmicos que sonham e lutam por um "califato mundial", a ideologia do progressismo transnacional existe, mesmo que seus planos por ora sejam utópicos ou até delirantes. Ou será que não?

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

O povo como ele é

A esquerda fala sempre em nome do "povo" ou da "classe trabalhadora". Mas às vezes parece que o "povo" de que falam é um povo abstrato, idealizado, ou morador de algum outro planeta.

Por exemplo, o povo brasileiro é em sua grande maioria contrário ao aborto, a favor da pena de morte e da diminuição da maioridade penal, odeia (salvo exceções) o cinema brasileiro, gosta de sertanejo mais do que de Caetano Veloso. E no entanto os partidos de esquerda sempre falam em defender os valores do povo, mesmo quando planejam políticas completamente contrárias ao gosto popular.

A mesma coisa ocorre nos EUA. Uma articulista (canadense, para pior) observa que os Democratas seriam bem melhores para o povo americano mais humilde (working class). Dito isso, passa a chamar esse mesmo povo de lixo (white trash), caipira (hillbillies), ignorante, barulhento (rural, loud, proudly unlettered), sexualmente inadequado, recalcado e trouxa por votar em McCain-Palin. E depois se surpreende que esse povo não vote nos Democratas...

(Aqui uma análise da coluna pelo humorista Lileks).

Eita pôvo burro, sô.

O fim do início do fim


O grande acelerador de partículas Hadron começou a funcionar. O blog, por se acaso, se despede. Afinal, o experimento de hoje pode causar o início do fim do mundo.

(Parece que é tudo culpa de um tal de Higgs Boson. Alguém o conhece?)

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Um bicho às terças



A minhoca (Lumbricus terrestris) é um animal bastante curioso. Faz parte da família dos anelídeos, justamente por ter seu corpo dividido em segmentos ou anéis. Seu corpo consiste basicamente de um tubo digestivo coberto por um tubo muscular.

Más línguas dizem que as minhocas não tem coração, mas não é verdade. As minhocas, de fato, podem chegar a ter até doze pares de corações. Alguns argumentam que não se tratem realmente de corações, já que não bombeiam o sangue: são apenas reservatórios, e o sangue é deslocado através das contrações da própria minhoca.

As minhocas são ainda hermafroditas, portanto é errado falar em minhoco e minhoca. O mesmo animal tem os dois sexos. As minhocas copulam trocando o esperma com um colega e injetando seus óvulos no esperma do vizinho. Mas algumas espécies não precisam nem de outro coleguinha: podem reproduzir-se a si próprias através da partenogênese, isto é, fertilizando-se a si mesmas.

As minhocas podem ainda regenerar os anéis perdidos: corte uma minhoca ao meio e metade dela sobreviverá, voltando a ser uma minhoca inteira (isto não é uma sugestão, mas uma observação: não tente fazer isso em casa).

As minhocas são utilizadas na pesca como iscas. Os passarinhos também gostam bastante de comer minhocas. E os sapos também. De fato, são uma excelente fonte de proteína, e há até mesmo seres humanos que comem minhocas. Aqui uma receita.

As minhocas alimentam-se de plantas em decomposição e, em alguns casos, de terra mesmo. Com sua movimentação subterrânea transportam oxigênio e misturam os nutrientes do solo, de modo que um solo com minhocas se torna muito mais fértil, beneficiando a agricultura. Disse o próprio Charles Darwin: "É duvidoso que existam outros animais que tenham tido um papel tão importante na história do mundo quanto estas modestas criaturas."

A minhoca também tem a sua nobreza.

A minhoca gigante de Gippsland.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

O povo americano é burro?

Um dos mais interessantes artigos escritos ultimamente sobre a corrida presidencial americana alerta para o motivo pelo qual os Democratas estão perdendo terreno: seu desdém pelo povo e o que ele pensa realmente. Muitos Democratas acham que seus políticos são iluminados, e o povo é que é demasiado burro para compreender as idéias que seriam melhores para si mesmos. Por isso precisa ser guiado, para o seu próprio bem.

Li no outro dia em um blog de esquerda reclamando da subida de McCain-Palin nas pesquisas com estas palavras: "o povo americano é muito burro mesmo!". A mesma idéia é vendida na (péssima) cobertura brasileira das eleições americanas: que o povo que vota em McCain-Palin é burro, atrasado, reacionário, ignorante, beligerante, caipira.

Essa atitude só piora o problema para os obamistas. Em algumas pesquisas, hoje McCain está quase dez pontos à frente. Como diz o Reinaldo Azevedo: "Vamos ver se o tal povo continua errado — isto é, insistindo em não fazer o que os “progressistas” acham certo."

Aqui outras imagens do concurso de Photoshopagem de Sarah Palin.

O problema da miséria

Que atitude devemos ter frente à miséria? Não é agradável, de fato, saber que ela existe e està à nossa porta pedindo esmola. Mas o que fazer a respeito?

É certamente um dos grandes dilemas da humanidade. Haverá sempre pobres? Jesus Cristo dizia que sim. Marx dizia que não. Em quem confiar?

Um dos grandes problemas que nos legou o pensamento marxista e pós-marxista (mesmo para quem jamais leu uma linha sequer de Marx) é essa idéia de que as classes sociais são estanques e de que é preciso "distribuir a riqueza" para criar maior "justiça social". Há até os que acham que os pobres estão certos em assaltar e seqüestrar os ricos, pois assim se "distribui a riqueza".

Ora, na verdade, a pobreza é o estado natural da humanidade, e não a riqueza. A riqueza se cria através do trabalho (ou, vá lá, do crime). O homem das cavernas, para todos os efeitos atuais, era um miserável. (Pobreza e riqueza são sempre relativas, o pobre de hoje é rico em relação ao pobre da Idade Média).

Mas a idéia de "distribuir a riqueza" é uma grande ingenuidade, por dois motivos: um, a riqueza é dinâmica, está sempre se criando e passando de um a outro; e dois, as pessoas nascem e morrem, e portanto nascem novos pobres a cada minuto.

Existe um plano, o tal do Global Poverty Act, que pretende que os EUA doem cerca de 845 bilhões de dólares aos países pobres para "reduzir à metade a pobreza no mundo até 2015". A idéia pode até ser bem-intencionada, mas é risível. Mesmo que o dinheiro não fosse parar na mão de atravessadores ou ditadores corruptos, e se acabasse com a pobreza da humanidade hoje, amanhã mesmo nasceriam novas pessoas que iriam querer o seu quinhão.

Sergio de Biasi coloca a coisa assim:
Distribuir toda a riqueza das elites pelo resto da humanidade produz um benefício quase ridículo em termos objetivos. Para dar um exemplo caricatural, a riqueza do Bill Gates distribuída por todos os seres humanos da Terra te dará mais uns cinco ou seis dólares. Concentrada nas mãos dele produz o Windows. O que tem mais valor para você?
A riqueza está sempre sendo gerada; a pobreza também.

Os pobres sempre estarão entre nós. Mas, como a pobreza é sempre relativa e a tecnologia e o crescimento econômico beneficiam a todos (claro que sempre a uns mais do que a outros), os pobres de hoje vivem em média melhor do que os pobres de ontem, e é razoável esperar que no futuro o sofrimento dos pobres será menor. Mas será que é o máximo que podemos esperar?

Continua sendo um problema conviver com a miséria à nossa porta. Quiséramos que o mundo fosse diferente, e talvez isso explique a eterna ilusão da busca pela tal "justiça social".


domingo, 7 de setembro de 2008

Poema do domingo


Tenho uma folha branca
e limpa à minha espera:
mudo convite

tenho uma cama branca
e limpa à minha espera:
mudo convite

tenho uma vida branca
e limpa à minha espera:




Ana Cristina César (1952-1983)

Quem é mesmo o opressor?

Frase de um jovem palestino irritado com o incompetente governo do Hamas:
"We want them to find an agreement with Israel so we can go and work in Israel," he says. "Everyone here wants to go to Israel to find a job. We want to live! We want to live!"
Infelizmente, o pedido do jovem provavelmente não será atendido. O ignorante fundador do Hamas, que tem uma hilariante teoria sobre a evolução das espécies, continua querendo a destruição de Israel. Apoiado por milhares de idiotas úteis, que pouco se importam com nosso anônimo amigo palestino que quer apenas viver.

(Tudo neste artigo aqui. Recomendo a leitura).

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

No llores por mi, Argentina (llora por ti)

Não estou mais em Buenos Aires, portanto não assisti à patética queima e destruição de vagões de trens suburbanos por piqueteiros supostamente irritados com a baixa qualidade dos serviços.

A Argentina dos Kirchner vai de mal a pior. Um demolidor e deprimente artigo do cientista político boliviano José Brechner acaba com todas as possíveis ilusões já desde o título: "La Argentina no tiene futuro".

Cien años atrás el mundo veía a la Argentina como el país latinoamericano con mayor proyección internacional. El único que por el nivel educativo de sus inmigrantes, podía llegar a competir con los grandes. Hoy la Argentina es el fiasco más dramático del continente. Hecho que demuestra, que no son solamente las personas instruidas las que generan el progreso y desarrollo de una nación, sino que el sistema empleado para lograr su avance económico es tanto o más importante que la erudición de sus habitantes.

La Argentina no sólo eligió el camino económico equivocado, sino que carece de principios éticos. Para reencauzarse, necesita por lo menos 20 años continuos de coherencia política y económica, sin sobresaltos, bajo el imperio de la ley. Con sus actuales gobernantes y con el fantasma del peronismo, la misión es imposible. A Perón no terminan de enterrarlo, y cuando se vive en el pasado no hay lugar para al futuro.

Abandono intelectual

Surpreende um pouco a sanha com que a dita Justiça brasileira persegue os meninos David e Jonatas, de 14 e 15 anos, e a família que decidiu ensiná-los em casa ao lugar de levá-los à escola. Quando há tantos garotos de 14 e 15 anos por aí cheirando cola, pedindo esmola ou assaltando, quando a maioria dos estudantes sai da escola sem saber nem mesmo entender um texto ou realizar simples equações, quando mesmo entre universitários o nível de redação em língua portuguesa é assombrosamente baixo, é bizarro que a família dos garotos, que lhes ensina de matemática a hebraico, seja acusada de "abandono intelectual".

Talvez as razões sejam as seguintes:

1. O fato de que o sucesso dos garotos (eles acabam se ser aprovados) nada mais demonstre do que a total falência da educação pública atual;

2. O que importa para os governos não é a educação real, mas os números. Estatísticas que podem ser utilizadas para mostrar o "avanço social". Número de alunos matriculados, etc. Não interessa que os tais alunos saiam da escola semi-analfabetos, o que importa são os números.

3. Menos alunos na escola significa menos alunos com o cérebro lavado na cartilha politicamente correta marxista que hoje substitui grande parte do ensino.

P. S. Olavo de Carvalho comenta:

David e Jonatas, sob ameaça de ver seu pai enviado à prisão por crime de “abandono intelectual”, submetidos pelo Ministério da Educação a exame capcioso propositadamente dificultado com o intuito de reprová-los, humilharam quem os pretendia humilhar: passaram nas provas, embora quase metade das matérias a cair só lhes fossem reveladas uma semana antes. O pai das crianças agora exige que exame idêntico seja imposto aos alunos de escolas públicas. Não passariam nele nunca, porque não passam em provas incomparavelmente mais fáceis. Eu exijo mais: exijo que o sr. ministro da Educação faça o mesmo exame. Se não passar, que vá para a cadeia por três crimes: (a) abandono intelectual de si próprio; (b) discriminação e crueldade para com crianças, por tratar os dois meninos com manifesta e perversa desigualdade em comparação com os alunos de escolas públicas e por obrigá-los a prestar exame sob condições de intimidação psicológica intolerável; (c) estelionato, por fingir-se profissionalmente habilitado a julgar o que está acima de sua capacidade.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

As duas Américas

Acabo de assistir na TV ao discurso de Sarah Palin, e fiquei pensando que realmente existem duas Américas.

Uma é a América da West Coast e East Coast. New York e San Francisco. Locais descolados e liberais. Hollywood e intelectuais. Arte e cinema. É um bom lugar para se viver, namorar e se divertir sem se preocupar tanto com o futuro. É a América que vota em Obama.

E há outra América. Chamada de "flyover country", porque os aviões de turismo quase só a sobrevoam. É uma América de cidades pequenas, famílias conservadoras e cristãs. Gente careta e pacata. Armas e religião. É um lugar para se trabalhar e criar os filhos. É a América que se identifica com Sarah Palin.

Talvez a América de Obama seja mais divertida e interessante. Eu sei que preferiria mil vezes morar em New York do que caçando ursos em um povoado do Alaska. E, no entanto, sem a outra América, a tal "América profunda", ou "middle America", que acredita em criacionismo e acha que o aborto é um pecado, o país não seria a potência que é. Não sei o que seria, sei que seria alguma outra coisa.

Isto é o que o resto do mundo (e mesmo grande parte do povo americano que mora na América descolada) não entende. Que essa América careta e trabalhadora é a base que permite todo o resto.

E talvez as duas Américas sejam, na verdade, inseparáveis uma da outra. Falam muito nas tais "culture wars". Mas no fundo, como genialmente observa Richard Fernandez do Belmont Club, a América sempre foi um palco de luta entre visões opostas e contraditórias, desde a época da Guerra Civil passando pelas marchas dos Civil Rights e chegando até mesmo aos riots de Los Angeles. É a natureza do país. A luta e a divisão constante. A dialética, como diriam os marxistas.

E, a julgar pelo discurso desta noite, a eleição deste ano será decidida entre Barack Obama e Sarah Palin. São os grandes personagens desta eleição; os outros são meros figurantes.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Melhores primeiras frases

O blog pode ter que fazer uma pausa de alguns dias. Deixo, inspirado por isto aqui, uma breve lista pessoal das melhores primeiras frases de obras literárias. E os seus começos preferidos, quais são? Coloque nos comentários...

1. "Quando certa manhã Gregor Samsa acordou, após um sono intranqüilo, encontrou-se em sua cama transformado em um monstruoso inseto." (Franz Kafka, A Metamorfose).

2. "Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte." (Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas)

3. "Tudo isto aconteceu, mais ou menos." (Kurt Vonnegut, Matadouro Nr. 5)

4. "Todas as famílias felizes são iguais; as infelizes são infelizes cada uma à sua maneira." (Leon Tolstoi, Anna Karenina)

5. "Você está começando a ler o novo romance de Italo Calvino, 'Se um viajante uma noite de inverno'." (Italo Calvino, Se um viajante uma noite de inverno)

5. "Devo à conjunção de um espelho e de uma enciclopédia o descobrimento de Uqbar." (Jorge Luis Borges, Tlön, Uqbar, Orbis Tertius)

6. "Num lugar da Mancha, de cujo nome não quero lembrar-me, vivia, não há muito, um fidalgo, dos de lança em cabido, adarga antiga, rocim fraco, e galgo corredor." (Miguel de Cervantes, Dom Quixote)

7. "Nel mezzo del cammin di nostra vita
Mi ritrovai per una selva oscura
Ché la diritta via era smarrita" (Dante Alighieri, Divina Comédia)

8. "Pessoas que tentem achar um motivo nesta narrativa serão processadas; pessoas que tentem achar uma moral nela serão banidas; pessoas que tentem achar uma história serão fuziladas." (Mark Twain, As aventuras de Huckleberry Finn)

9. "A raça humana, à qual muitos de meus leitores pertencem, esteve brincando de jogos infantis desde o seu começo, e provavelmente continuará assim até o seu fim, o que é um incômodo para aqueles poucos que crescem." (G. K. Chesterton, O Napoleão de Notting Hill)

10. "No princípio Deus criou os céus e a terra." (Bíblia)

O aborto e a caixa de Pandora


Já escrevi algumas vezes anotações meio contra o aborto, e a comentarista "Pandora" discordou de mim, convencendo-me que nada é tão simples. Hoje, ao ler algumas reminiscências pessoais da neo-neocon referentes ao assunto, fiquei pensando que realmente pode ser simples para alguém que está de fora decidir de maneira dogmática (seja à esquerda, seja à direita) sobre o que fazer no caso de uma gravidez inesperada, mas que nada é tão simples assim para uma jovem adolescente angustiada e grávida (e nesse sentido a Bristol Palin teve a sorte de ter apoio e compreensão da família, nem sempre é o caso).

Talvez toda discussão sobre o aborto deveria partir dos seguintes pressupostos:

1. A vida, cientificamente, começa na concepção. Pode-se ser contra ou a favor do aborto, mas deve-se aceitar que se está terminando com a vida de um ser que, se não ocorresse o aborto, se transformaria em um bebê.

2. O aborto pode ser ou não ser legal, mas é traumático e de preferência não deve ser utilizado simplesmente como um método de controle de natalidade, havendo outros métodos à mão (da abstinência à camisinha, conforme a religião).

3. O feto é um ser vivo, que está dentro do corpo de uma mulher. Portanto, não é nem só "o corpo da mulher" que está em jogo como quer a esquerda, mas tampouco apenas "uma vida independente" como quer a direita religiosa. São as duas coisas, juntas e inseparáveis, e por isso é tão difícil discutir o tema.

Será que o futuro filho de Bristol Palin é o Messias?

O comentário da semana, encontrado em um blog americano por aí:
Bristol Palin, a filha grávida da vice de McCain, é na verdade virgem: o seu filho é a Segunda Vinda do Messias, que deverá lutar contra o Anti-Cristo.
(O Anti-Cristo, como todos os que lêem este blog já sabem, é Barack Obama).

Um bicho às terças



A candidata a vice Sarah Palin tem vários aspectos positivos, mas não acredito que a caça de alces seja necessariamente um deles.

Gosto de alces. Acho-os animais simpáticos e elegantes.

Os alces (Alces alces) vivem na região ártica do planeta: Alasca, Canadá, Sibéria e países escandinavos. Os machos são animais polígamos e, como a foto acima demonstra, procuram impregnar o maior número possível de fêmeas. Em muitos casos, costumam disputar as fêmeas a chifradas. Naturalmente, apenas os machos têm chifres ou galhada. Não se sabe se isso tem algo a ver com o comportamento das fêmeas enquanto os maridos estão longe de casa.

Após o período de reprodução, a galhada cai para que o animal possa conservar energia durante o inverno. Os galhos crescem novamente na primavera. Se o animal é castrado, seja por causas naturais ou artificiais, estes caem e em seu lugar crescem galhos deformados.

Os alces alimentam-se de plantas, inclusive plantas aquáticas. São, por sinal, ótimos nadadores, e podem inclusive mergulhar a profundidades consideráveis.

Os principais predadores naturais dos alces são os lobos. Também tigres siberianos e governadoras do Alasca costumam caçá-los.

Pouca gente sabe, mas no início de sua carreira, Woody Allen caçou um alce. Vídeo com o relato abaixo.



segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Novela das oito


Estas eleições americanas começam cada vez mais a se parecer com uma novela mexicana. Após uma série de boatos maldosos difundidos, afirmando que o filho mais recente de Palin (que tem síndrome de Down) fosse na verdade seu neto, foi revelado hoje que Bristol Palin, a filha de 17 anos de Sarah, está grávida e vai ter a criança.

Embora isso acabe definitivamente com os primeiros e absurdos boatos, cria sem dúvida alguns problemas para a campanha Republicana. Sarah Palin não é perfeita, afinal.

Não se sabe ainda como essa história se refletirá nos votos. Criará rejeição nos mais conservadores, ou ajudará os moderados a ter maior empatia?

De minha parte, ressalto apenas o incrível ódio que a esquerda parece ter da pobre Sarah Palin. Mal ela foi nominada e saem quinhentas histórias e acusações sobre a pobre mulher, desde acusá-la de negligenciar o parto do seu filho a ser uma radical contra a pílula e a camisinha (não é verdade, basta dizer que ela faz parte de uma organização chamada Feminists for Life).

Curiosamente, os maiores ataques contra a gravidez da filha adolescente de Palin não vêm de cristãos conservadores, que aceitam o fato sem muitos problemas, mas sim por parte dos ditos progressistas, que em teoria são a favor de cada um decidir o que quiser em matéria sexual.

Tais ataques reverterão contra os próprios Democratas, tanto que o próprio Obama já pediu que se deixasse a família de Sarah Palin de fora do furacão de críticas.

Atualização: Depois da Obamania, vem a Palinmania. Buscas no Google pelo nome de Sarah Palin, que anteontem davam apenas alguns milhares, hoje chega a quatro milhões. E o interesse da mídia apenas começou.